Vulnerabilidade Humana
Gabriel García V.
Perguntaram a um repórter se alguma de suas crenças anteriores tinha sido refutada recentemente. Ele respondeu: “Durante esta pandemia, percebi que há várias coisas que não tenho sob controle”.[1] Ele não é a primeira pessoa a comentar que a pandemia do coronavírus nos ensinou que não estamos no controle da situação; que nem nós, como seres humanos, nem a ciência, temos todas as respostas. Em outras palavras, estamos descobrindo nossa vulnerabilidade.
Especialistas de diferentes áreas exploraram a questão da vulnerabilidade humana. María de la Luz Casa Martínez, do Centro Interdisciplinar de Bioética da Universidade Panamericana da Cidade do México escreveu:
A pandemia causada pelo novo vírus COVID-19 tem abalado a humanidade devido às graves repercussões que causa em diversos campos, não apenas na saúde, mas também no âmbito econômico, político e social. Do ponto de vista ético, as crises sempre levam à reflexão e, neste caso, tem sido evidente que levam ao contato com um aspecto específico da condição humana: a vulnerabilidade. A sociedade atual, extremamente hedonista e independente, tem tentado esquecer este aspecto, que é algo que incomoda as pessoas, mas que não pode ser ignorado nesta terrível crise.
A pandemia nos relembrou da nossa insegurança e vulnerabilidade, de quão impotentes somos diante de catástrofes, e do quanto dependemos de Deus. É como se o Altíssimo nos lembrasse: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; serei exaltado entre as nações; serei exaltado sobre a terra.”[2]
O profeta Isaías escreveu que quando Deus, acima do globo da terra, olha para nós, parecemos formigas, meros gafanhotos.[3] Em muitos sentidos, a sabedoria humana diminuiu e foi despedaçada. Se não baseamos nosso entendimento em Deus, nossas conclusões são vãs.
Essa vulnerabilidade salienta os limites da nossa autossuficiência diante de convulsões sociais, cataclismos e catástrofes. Também percebemos como somos falíveis. Além disso, o Covid expôs as deficiências dos nossos sistemas de saúde.
Por outro lado, perceber nossa fragilidade teve seu lado positivo — causou mais solidariedade e nos tornou mais atenciosos. Estamos aprendendo a ter empatia por aqueles que sofrem e, através disso, nos aproximamos mais uns dos outros. Minha esposa, minha irmã e eu, assim como outras pessoas em nosso círculo de amigos, nos sentimos mais vulneráveis do que nunca. Agora percebemos como a nossa vida era despreocupada antes do COVID. Tínhamos o nosso modo de vida por garantido no dia a dia, mas de repente descobrimos que a morte nos rondava.
Foi o que aconteceu com Patricio, um amigo nosso que ficou duas semanas com um respirador artificial. Quando teve alta, ele era outra pessoa—humilde e dependente de Deus. E Erik, um jovem pai que raramente reconhecia a Deus, na hora do seu desespero sentiu o toque amoroso do seu Criador, que restaurou sua saúde, tanto física quanto espiritual.
Vivenciar vulnerabilidade foi uma das melhores coisas que poderiam ter acontecido para minar essa falsa ideia de que temos tudo sob controle. É a síndrome da Torre de Babel—a ideia de que, com o conhecimento, somos invencíveis e podemos alcançar os céus.[4] É uma lição que Deus tem que ensinar a cada geração. Quando ficamos muito orgulhosos, o Senhor nos lembra que “somos apenas pó”,[5] e então nos traz de volta à humilde compreensão de que dependemos dEle. Com esta crise, Deus nos colocou de joelhos mais uma vez, e é bom que Ele o faça. Possuir nossa vulnerabilidade nos aproxima de Deus e nos prepara melhor para as vicissitudes da vida.
Em períodos de fragilidade e quando nos sentimos incapazes, se começarmos a olhar para Deus, tomaremos decisões melhores, seremos mais gentis com os outros e evitaremos as muitas ciladas e armadilhas provenientes da soberba.
Como diz a música gospel:
Eu pensei que o número um certamente seria eu
Eu pensei que poderia ser o que desejasse ser
Eu pensei que poderia construir na areia movediça da vida
Mas agora eu não posso nem andar se você não segurar a minha mão
Eu pensei que poderia fazer muito por conta própria
Pensei que poderia fazer isso o dia todo
Eu me considerava notável e poderoso
Mas Senhor, eu não posso nem andar se você não segurar a minha mão
Senhor, eu não posso nem andar se você não segurar a minha mão
A montanha é alta demais e o vale é muito extenso
De joelhos foi como aprendi a ficar em pé
Senhor, eu não posso nem andar se você não segurar a minha mão.[6]
[1] Gonzalo Ramírez, revista El Sábado, 2021.
[2] Salmo 46:10.
[3] Ver Isaías 40:22.
[4] Ver Gênesis 11:1–9.
[5] Salmo 103:14.
[6] “I Can’t Even Walk (Without You Holding My Hand)” de Colbert Croft e Joyce Croft.
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