Santificação
David Brandt Berg
O substantivo “santo” tem a mesma origem do verbo “santificar”, derivado da palavra que em grego significa “ser santificado”, ser lavado. Mas não é só isso. Quer dizer também ser lavado e posto à parte, em um lugar limpo, como ocorre quando se lava louça.
Os seguidores do “movimento de santidade” ensinam que é algo que só acontece uma vez e de forma definitiva, uma experiência de santificação total, que os pentecostais chamam de batismo do Espírito Santo. Temos aqui outra vez a palavra “batismo”, que quer dizer lavagem, só que, dessa vez, pelo fogo do Espírito, por assim dizer —purificados, limpos pelo poder do Senhor. Ensinam que isso é feito uma vez e em caráter definitivo. Os batistas pregam que a purificação deve se repetir constantemente, que temos de continuar sendo lavados. O fato é que ambas as interpretações estão corretas!
O que Jesus explicou a Pedro quando este se recusou a deixá-lO lavar seus pés? “Se Eu não te lavar, não tens parte comigo.”[1] Por ser extremista, Pedro imediatamente disse: “Senhor, não apenas os pés, mas também as mãos e a cabeça.” Primeiro, nem sequer queria que Jesus lavasse seus pés, mas depois pediu que lhe desse um banho completo! Foi de um extremo ao outro!
Pedro tinha uma personalidade forte, era impulsivo e impetuoso. Ele era uma figura. Se eu tivesse de apontar um dentre os discípulos de Jesus como meu preferido, acho que escolheria Pedro, porque ele era muito divertido e, às vezes, totalmente ridículo. Pode-se rir à beça de alguns absurdos que ele fazia, mas em outras situações se tem vontade de chorar de pena dele, como quando negou o Senhor, afastou-se e chorou amargamente. Mas o Senhor o amava.
Já reparou no que o Senhor disse depois de ressuscitar?“Ide e dizei aos discípulos e a Pedro...”[2] Por que diria isso? Pedro não era um discípulo? Teria perdido a salvação ao negar a Cristo? Por que especificou “e Pedro”? Penso que para encorajar aquele homem que, por haver negado o Senhor, provavelmente achava que não era mais salvo e que havia perdido sua condição discípulo. Jesus queria que Pedro soubesse que ainda era um discípulo.
O amor do Senhor e a misericórdia de Jesus são lindos. Meu avô costumava pregar um sermão sobre isso intitulado “E a Pedro”, em que mostrava como o Senhor o amava e queria tranquilizá-lo, para que quando Jesus chamasse Seus discípulos, Pedro soubesse que também estava sendo chamado. Nem todos O haviam visto. Jesus queria vê-los e se manifestar para eles. Disse e Pedro, para que este tivesse a certeza de estava perdoado.
Quando Pedro disse “lava-me todo, lava-me também a cabeça”,o Senhor explicou: “Aquele que se banhou não necessita de lavar senão os pés, pois no mais está todo limpo”[3]. Ao referir-se assim, de maneira simbólica, à limpeza do espírito, Jesus praticamente disse a Pedro: “Já o lavei completamente. Agora só preciso lavar os seus pés e mais nada.”
Jesus estava realizando uma cerimônia simples, mas com um grande e profundo significado espiritual. Estava dizendo a Pedro: “Você foi lavado de uma vez por todas, para a eternidade, mas ainda tenho de continuar lavando-o um pouco para mantê-lo limpo.” Isso é diário. Há um dia que passe sem que pequemos? Não, pois nenhum de nós é perfeito. Quantas vezes erramos o alvo? Quantas vezes cometemos erros? Até um erro é, de certa forma, um pecado. É errar o alvo. O Senhor precisa constantemente nos limpar.Somos humanos, estamos nestes corpos vis de carne e Ele tem de nos limpar diariamente —nossas mentes, nossos pensamentos, nossos corpos, nossas ações e nossas palavras.
Portanto, a santificação é algo definitivo, mas também um processo contínuo. As duas escolas de pensamento teológico há séculos discutem essa questão doutrinária —se é algo definitivo ou contínuo—, quando ambas estão certas.
Existem muitas religiões que ensinam que, até certo ponto, a pessoa deve salvar a si própria e que a salvação depende em parte das suas obras. São as chamadas religiões de obras, mesmo se a exigência for uma obra mínima. Contudo, sabemos que isso é algo Jesus resolveu e completamente. A Bíblia diz que “o sangue de Cristo nos purifica de todo o pecado”[4]. Limpa-nos de todos os pecados do passado. Limpa-nos dos pecados todo dia e dos pecados futuros também, ou não teríamos chance. É a obra que Cristo realizou e que continua realizando diariamente.
Mary Baker Eddy (fundadora da Ciência Cristã) disse a respeito do pecado: “Toda queda é, de certa forma, para cima.” Tentou dizer com isso que aprendemos inclusive com nossos erros. Portanto, aprendemos também com nossos pecados, não é verdade? Por isso disse que toda queda de um santo é uma queda para cima, porque aprendemos com nossos erros.
O Senhor estava tentando mostrar a Pedro por meio daquela experiência que a obra principal já havia sido feita. Ele era um pecador salvo, um santo, definitivamente limpo dos pecados passados, presentes e futuros. Mas que essa purificação era também um processo contínuo, semelhante ao que acontece com uma criança, que a cada dia cresce e aprende. Assim sendo, se você foi santificado pelo Senhor, pelo Seu sangue e pela salvação, é, para usar a palavra que designa quem teve essa experiência, um santo.
“O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todos os pecados.”
Publicado originalmente em 1980. Adaptado e republicado em março de 2013. Tradução por Hebe Rondon Flandoli.
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