A Face de Deus
Compilação
Como Deus é um ser pessoal que nos ama e quer que O conheçamos e amemos, revelou coisas específicas sobre Si mesmo à humanidade pela Sua Palavra. Para expressar para nós como Ele é, falou sobre Si mesmo em termos que poderíamos entender. Assim, ao falar com as pessoas, como Abraão, Moisés e os profetas, usou palavras que entenderiam, em uma linguagem ao alcance delas.
Um recurso para isso é o que se conhece como antropomorfismo, isto é, a atribuição de características humanas a uma entidade não-humana. A palavra antropomorfia vem de duas palavras gregas, uma significa “homem”; e a outra, “forma”. Antropomorfismo, em relação a Deus, refere-se à atribuição a Ele de características físicas, emocionais e a experiências humanas.
Embora Deus seja espírito e desprovido de corpo físico, a Bíblia fala, por exemplo, do Seu rosto, olhos, mãos, orelhas, boca, nariz, lábios e língua, braços, mãos, pés, voz, etc.[1] Também Lhe são atribuídas experiências humanas, em que Ele é descrito como pastor, noivo, guerreiro, juiz, rei, marido, etc.[2] Também é dito que Ele realiza atividades humanas como ver, ouvir, sentar, andar, assobiar, descansar, cheirar, saber, escolher e corrigir.[3]
As emoções humanas também Lhe são atribuídas, tais como o amor, o ódio, o prazer, o riso, o arrependimento, o ciúme, a ira, a alegria, dentre outras.[4] O antropomorfismo foi o recurso com o qual Deus inspirou os escritores da Bíblia a expressar conceitos da natureza de Deus e como podemos nos identificar com Ele. Se por um lado Deus não tem, literalmente, mãos, pés, ouvidos e olhos, essas palavras nos permitem um senso de compreensão da Sua natureza e de como podemos nos relacionar com Ele.
Deus é espírito e também pessoal, além de ser o Deus vivo. Possui as qualidades de persona, como autoconsciência, consciência racional, autodeterminação, inteligência, conhecimento e vontade. E, como os seres humanos, feitos à Sua imagem, também temos persona, uma das maneiras mais fáceis para conceituar Deus é pela linguagem antropomórfica.
Deus escolheu revelar-Se à humanidade nas palavras que usou para Se comunicar com e por meio dos escritores bíblicos. Ao fazê-lo, falou na linguagem e forma que eles e consequentemente nós poderíamos entender. Revelou-Se como o Deus vivo que é pessoal, espírito e invisível.—Peter Amsterdam
Ver a face de Deus, o que isso significa na Bíblia
Quando o termo “a face de Deus” é usado na Bíblia, ele oferece informação importante sobre Deus, o Pai. Mas pode ser facilmente mal interpretado, dando a impressão que a Bíblia se contradiz quanto a esse conceito. A questão começa no livro do Êxodo, quando o profeta Moisés, ao falar com Deus no monte Sinai, Lhe pede para revelar a Sua glória. Deus o adverte que, “Você não poderá ver a minha face, porque ninguém poderá ver-me e continuar vivo”.[5] Deus então coloca Moisés em uma fenda na rocha, o cobre com Sua mão até Ele passar, e então retira a mão para que Moisés veja apenas as Suas costas.
Para esclarecer a questão, basta começar com a simples verdade: Deus é um espírito, Ele não tem um corpo físico. “Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”.[6] A mente humana não tem condições de compreender um ser estritamente espiritual, sem forma ou matéria. Nada na experiência humana sequer se aproxima disso. Por isso, para ajudar os leitores a se identificarem com Deus de uma maneira que pudesse compreender, os escritores da Bíblia utilizaram atribuições humanas ao falarem de Deus. Na passagem no Êxodo mencionada acima, Deus até usou termos humanos para referir-Se a Si mesmo. Em toda a Bíblia lemos sobre a Sua face, Sua mão, Seus olhos e ouvidos, Sua boa e Seu forte braço.
Aplicar características humanas a Deus é chamado antropomorfismo, um termo derivado dos vocábulos gregos anthropos (homem ou ser humano) e morphe (forma). Antropomorfismo é uma ferramenta para auxiliar na compreensão de Deus, mas é defeituosa. Deus não é humano e não tem feições humanas como, por exemplo, uma face; Ele tem emoções, mas não são exatamente as mesmas emoções experimentadas pelos humanos…
No Novo Testamento lemos que milhares de pessoas viram a face de Deus em um ser humano: Jesus Cristo. Algumas entenderam que Ele era Deus; a maioria não. Como Cristo era plenamente Deus e plenamente homem, o povo de Israel viu apenas a Sua forma humana, visível, e não morreu. Cristo nasceu de uma mulher judia, quando adulto tinha a aparência de um homem judeu, porém nenhum dos Evangelhos oferece uma descrição física de Jesus.
Apesar da face humana de Jesus não se comparar de maneira alguma com Deus, o Pai, Ele proclamou uma unidade misteriosa com o Pai:
Jesus lhe disse: “Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer Mostra-nos o Pai’?”[7] … Eu e o Pai somos um.”[8]—Mary Fairchild[9]
Jesus—a diferença
Qual a diferença que Jesus fez? Tanto para Deus como para nós, Ele viabilizou uma intimidade que não existia. No Antigo Testamento os israelitas que tocaram a sagrada Arca da Aliança caíram mortos; mas as pessoas que tocaram Jesus, o Filho de Deus encarnado, foram curadas. Aos judeus que não pronunciavam nem soletravam o nome de Deus, Jesus lhes ensinou uma nova maneira de se dirigirem a Deus: Abba, ou “papai”. Deus Se tornou próximo da humanidade por meio de Jesus…
A epístola aos Hebreus explora esse novo e impressionante avanço na intimidade. Primeiro o autor fala do que era exigido para abordar Deus na época do Antigo Testamento. Apenas uma vez ao ano, no dia da Expiação—Yom Kippur—uma única pessoa, o sumo sacerdote, podia entrar no Santo dos Santos. A cerimônia incluía banhos rituais, trajes especiais, e cinco diferentes sacrifícios de animais. E ainda assim o sacerdote entrava no lugar santo com temor. Sua túnica tinha guizos e uma corda era amarrada ao seu tornozelo para que, caso ele morresse e não se ouvisse o barulho dos guizos, os outros sacerdotes pudessem resgatar o corpo.
As epístolas aos Hebreus mostram o claro contraste: agora podemos “nos aproximar do trono da graça com confiança”, sem temor. Podemos entrar com ousadia no Santo dos Santos, um conceito chocante para os leitores judeus. No entanto, no momento da morte de Jesus, uma espessa cortina dentro do Templo literalmente se partiu em dois, de alto a baixo, revelando o local denominado Santo dos Santos. Por isso, conclui o livro de Hebreus, “Acheguemo-nos a Deus”…
Ninguém no Antigo Testamento podia afirmar conhecer a face de Deus. Na verdade, ninguém teria sobrevivido se visse Deus diretamente. Os poucos que viram um vislumbre da glória de Deus voltaram reluzentes como extraterrestres, e todos se esconderam com temor. Jesus, porém, nos permitiu dar uma boa e demorada olhada na face de Deus. “Quem me vê, vê o Pai”, Ele disse. O que Jesus é, Deus é. Como disse Michael Ramsey: “Em Deus não existe absolutamente nada diferente de Cristo”.
As pessoas crescem com mil e um conceitos sobre Deus. Para umas Deus é o inimigo, ou um policial, ou até um pai abusivo. Outras talvez nem vejam Deus, apenas ouvem o Seu silêncio. Mas, por causa de Jesus, não precisamos mais nos indagar sobre o que Deus sente ou como Ele é. Se tivermos alguma dúvida, olhar para Jesus desembaçará nossa visão.—Philip Yancey
Publicado no Âncora em outubro de 2019.
[1] Salmo 11:7, 4, 20:6; Isaias 59:1.
[2] Salmo 23:1; Isaias 62:5, 33:22, 54:5.
[3] Gênesis 1:10; Levítico 26:12.
[4] João 3:16; Deuteronômio 16:22; Salmo 149:4, 59:8.
[5] Êxodo 33:20 NVI.
[6] João 4:24 NVI.
[7] João 14:9 NVI.
[8] João 10:30 NVI.
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