A Estrada para a Fé
Iris Richard
Eu já tive períodos em que a fé não desempenhou papel algum na minha vida. Na ocasião eu só entendia a importância de alcançar a excelência nos meus estudos e fazer o melhor possível para escalar a escada do sucesso — além de tentar ser uma pessoa boa, dentro do possível. Parecia um objetivo plausível, mas percebi que me faltava uma visão fundamental para a minha vida no geral. Desde jovem eu enfrentei muitas dificuldades.
Nasci em 1955, na Alemanha, pouco tempo depois da devastação consequente da Segunda Guerra Mundial. Meus pais eram trabalhadores braçais; o país estava em ritmo de reconstrução, e fui criada com o lema de “trabalhe duro e aguente firme”. Na nossa família não se falava muito sobre fé, passar tempo com Deus, oração, nem nada relacionado ao aspecto emocional.
A vida era árdua, mantimentos escassos, e meus pais trabalhavam para pagar as contas, de maneira que minha irmã e eu, desde os seis anos de idade, sempre ficamos sozinhas em casa quando voltávamos da escola à tarde.
Diferentes imprevistos colocaram a nossa família em uma situação financeira ainda mais difícil; e logo depois disso fui diagnosticada com uma enfermidade crônica nos músculos, a qual deixou minhas costas deformadas. Sozinha e emocionalmente devastada durante o longo tratamento e fisioterapia, eu me sentia pequena e insegura.
Vivia como um barco sem leme no mar agitado, sendo levado de um lado para o outro. Não tinha uma âncora, apenas flutuava sem rumo em um vazio de preocupação e ansiedade.
Foi então que uma centelha de fé brilhou nas minhas trevas. Quando eu tinha 12 anos, durante uma das aulas de religião na escola, fiquei muito encorajada com a canção Ein feste Burg ist unser Gott,[1] de Martinho Lutero. Explica que Deus é uma grande fortaleza, um auxílio presente na hora dos problemas. Lembro que sempre que cantava eu me sentia feliz e encorajada.
A minha confirmação na fé, uma tradição no vilarejo protestante onde eu vivia, foi em uma velha capela de pedras, num dia chuvoso do outono. Nessa ocasião dei um outro salto na fé; foi quando fiz a oração para convidar Jesus a participar da minha vida. Essa experiência foi marcante; a partir daí eu senti paz e confiança.
Durante os turbulentos anos da adolescência, o meu juramento a Jesus quase caiu no esquecimento. Mas a pequena semente de fé plantada no meu coração receptivo naquele dia na capela, continuava firme. Muitos anos depois, ao final de uma longa jornada, lembrei-me dessa experiência.
Na minha juventude, na década de setenta, como muitos jovens da época, segui a denominada trilha hippie, da Alemanha à Índia e Nepal, passando por diferentes países no Oriente Médio. Estava em busca de propósito e sentido para a vida. Viajei durante quase dois anos com alguns amigos em um trailer caindo aos pedaços, quando tivemos um acidente e fiquei presa em uma vila afastada de tudo no norte da Índia. Convalescendo de uma grave hepatite, eu ainda estava débil, além de ser dependente de drogas e não ter um tostão.
Foi ali, em uma manhã sombria e nublada que aconteceu algo muito curioso.
Eu estava hospedada em um hotelzinho fuleiro, quando encontrei um grupo de jovens missionários que estavam fazendo um trabalho em prisões. Eles pararam ali perto para abastecer seu veículo e comer um lanche no restaurante de baixa qualidade do hotel. Eu estava em péssimas condições; mas eles se condoeram de mim e convidaram-me para ficar em sua casa até me recuperar.
Fiquei extremamente tocada pela gentileza, dedicação e fé simples em Deus de todos eles. Seus olhos brilhavam e emanavam paz e certeza de um caminho.
Durante as devoções da manhã em sua casa, leram um trecho de Mateus 13, que calou fundo. Dizia, “O Reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. Certo homem, tendo-o encontrado, escondeu-o de novo e, então, cheio de alegria, foi, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo. O Reino dos céus também é como um negociante que procura pérolas preciosas. Encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo o que tinha e a comprou”.[2]
Eu queria muito me apegar ao que tinha encontrado, a pérola de grande valor, que era a renovação da minha fé na bondade de Deus. Percebi que não desejava fama, sucesso ou riqueza, mas propósito, significado, paz, e saber que a minha vida importava. Esse foi o ponto de mudança. Deixei meu passado para trás, fui libertada dos vícios e decidi dedicar minha vida a servir a outros.
Minha vida se desenrolou de maneiras inexplicáveis. Um tempo depois comecei a trabalhar na África, onde participo de auxílio humanitário junto com minha família. Nestes 25 anos desde então, como mãe de sete filhos, já passei por muitos altos e baixos, mas aquela pérola de fé que encontrei há tanto tempo na Índia deu-me a confiança de que, no final, Deus sempre está no controle e um dia melhor está a apenas uma noite de distância.
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