Estações
Sally García
Mensagens populares hoje em dia nos ensinam a viver o momento, a praticar mindfulness (atenção plena), a respirar fundo ... Mas, às vezes, nossos momentos são mais que momentos—tornam-se estações. E isso requer respirar mais de uma vez. Uma das coisas maravilhosas de envelhecer é que já vivi por muitas estações, assim como muitos de meus amigos. Essas estações nos deram entendimentos e, à medida que colecionamos experiências de vida, elas se tornam joias a serem valorizadas.
Eu nem sempre me senti assim. Quando era mais jovem e enfrentava uma situação difícil, não via além do obstáculo. Parecia que o problema nunca terminaria. Eu não tinha experiência para saber que, mais cedo ou mais tarde, sairia do outro lado do desafio, e provavelmente mais sábia e uma pessoa melhor por ter passado por aquilo.
Então, um dia, os primeiros versículos de Eclesiastes 3 mudaram toda a minha maneira de pensar, como o proverbial “momento eureka”, ou, mais apropriadamente, a “voz do Senhor”. Eu li que:
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
—Eclesiastes 3:1–8
Isso calou fundo de tal forma que memorizei esta passagem (um verdadeiro desafio para manter tudo certo) e, toda vez que eu a revisava, novas aplicações me vinham à cabeça. Por exemplo, tempo para abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar pode ser quando alguém que amo está longe, ou a situação na qual estou escrevendo, em que demonstramos amor ao defender a quarentena de saúde.
Após a crise do tsunami e do terremoto de 2010 no Chile, nós nos tornamos amigos íntimos de muitas famílias que passaram três invernos difíceis, chuvosos, frios e lamacentos em casas temporárias e frágeis. Pareceu uma eternidade. O objetivo comum imediato era poder mais uma vez viver em casas estáveis, quentes e secas. Durante esses três anos, passaram intensamente um tempo de derrubar, e tempo de edificar, tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora. Então chegou o dia em que os últimos acampamentos temporários finalmente fecharam e todas as famílias tinham sua própria casa ou apartamento. Era tempo de rir e tempo de dançar.
E a vida continuou. O tempo nos acampamentos se tornou mais uma das estações de suas vidas. Dez anos se passaram desde a noite do terremoto e do tsunami. A lembrança, as experiências, os tempos de chorar e prantear e os tempos de rir e dançar fazem parte dessa estação. Cada família pode fazer uma retrospectiva a partir dessa posição estratégica de ter lidado com desafios monumentais e ter vencido vitoriosamente. Elas aprenderam resiliência para as novas estações por vir.
Passei muitas estações da minha vida como missionária vivendo em comunidade, como professora, como palhaça de hospital e voluntária de auxílio humanitário. Eu também passei pelos meus tempos de prantear e meus tempos de rir. Agora, fazendo uma retrospectiva, cada estação conserva lembranças preciosas que eu não mudaria por nada neste mundo.
Pensei em mais estações outro dia:
Tempo de ser criança e tempo de crescer, tempo de ser jovem e tempo de envelhecer;
Tempo de ser pai, mãe e tempo de ser avô, avó, tempo para ser rápido e tempo para ir devagar;
Tempo de cuidar e tempo de ser cuidado, tempo de força e tempo de doença;
Tempo de aprender e tempo de ensinar, tempo de sucesso e tempo de fracasso;
Tempo de vencer e tempo de perder, tempo de considerar as convenções e tempo de quebrar as convenções;
Tempo de cometer erros e tempo de acertar, tempo de perdoar e tempo de ser perdoado;
Tempo de riqueza e tempo de necessidade, tempo de excedente e tempo de austeridade.
Meu marido e eu estamos no meio de uma estação tranquila. Embora oficialmente sejamos “idosos”, desfrutamos de boa saúde e faculdades mentais. Ainda estamos ativos fisicamente, mas somos abençoados por podermos desacelerar um pouco e seguir nosso próprio ritmo. Acho que realmente desfrutamos mais da vida agora. Passo mais tempo lendo, estudando e escrevendo sobre coisas que me interessam profundamente. Tenho alguns hobbies. Temos uma rede de amigos que pensam da mesma forma e pessoas a quem ministramos espiritualmente. Somos ainda mais agradecidos por podermos compartilhar a mensagem de Deus com outras pessoas.
Acho que a maioria de nós imagina o último estágio da vida com um pouco de apreensão. A incerteza paira sobre nossas cabeças. No entanto, agora aprendemos que Ele está conosco a cada estação da vida. O Alto e Sublime, que habita na eternidade, cujo nome é Santo[1] também habita conosco aqui e agora; e Ele tudo fez tudo apropriado a Seu tempo.[2]