Uma Atitude de Humildade
Peter Amsterdam
“Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência.”—Colossenses 3:12[1]
Nas antigas Grécia e Roma, a humildade era vista como uma característica negativa. A cultura de honra e vergonha daquela época exaltava o orgulho e desprezava a humildade.
Jesus redefiniu a humildade. Ele, o Filho de Deus, humilhou-Se ao se tornar humano, mostrando que se Ele, tão exaltado quanto era, mostrou humildade, os crentes deveriam fazer o mesmo. Os membros da primeira igreja aprenderam pelos Seus ensinamentos e exemplo a tratar a humildade como uma virtude, uma importante atitude moral e um traço essencial do caráter cristão.
Jesus pregou e praticou a humildade. Pois qual é maior, quem está à mesa, ou quem serve? Não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve.”[2] Quem a si mesmo se exaltar será humilhado, e quem a si mesmo se humilhar será exaltado.”[3]
Os dicionários oferecem várias definições para o termo, tais como: qualidade de quem é isento de orgulho e arrogância; não se achar melhor que os demais, modéstia ou uma percepção de pouca importância que alguém tem de si mesmo. O entendimento do cristianismo da humildade é mais profundo, pois se fundamenta no nosso relacionamento com Deus. Em seu livro Character Makeover [Reformulação do Caráter, tradução livre] Brazelton e Leith propõem a definição do termo, do ponto de vista cristão: “A humildade é um resultado natural de uma visão clara de quem Deus é e da perspectiva certa de quem você é em relação a Ele.”
E quem somos para Deus? Somos Seus filhos desviados — machucados, pecadores e incapazes de alcançar a justiça plena diante de Deus. Apesar de tudo, Ele nos ama incondicionalmente. Não merecemos Seu amor; é uma dádiva da graça, do favor que nos concede. Não podemos exigir Seu amor porque somos pecadores, mas Ele generosamente nos ama. Enviou Seu Filho para morrer por nós por causa do Seu profundo amor por nós. É humilhante saber que somos amados apesar de nossos pecados. Sabemos que somos indignos de Seu amor, mas Ele nos ama mesmo assim. Isso nos ajuda a nos sentirmos seguros em nosso relacionamento com o Criador. O amor e a aceitação de Deus formam a base do nosso valor próprio.
Por sermos amados incondicionalmente pelo Senhor, podemos ser sinceros com Ele e com nós mesmos sobre nossos pontos fortes e nossos pontos fracos, pois nem um nem outro mudará o amor que Deus tem por nós. Ele não nos ama mais por causa de nossos talentos nem menos por causa de nossas fraquezas. A certeza de que somos aceitos por Deus nos ajuda a ter uma imagem realista de nós mesmos. Podemos estar à vontade com quem somos, sem nos envergonhamos nem tentarmos esconder o fato de que temos fraquezas, ou nos vangloriarmos de nossos pontos fortes.
Como Randy Frazee escreveu: “Um crente tem um forte senso de valor próprio e segurança de sua identidade, de forma que não precisa de se glorificar ou se deixar inchar pelo orgulho pessoal.”[4]
Saber que somos amados por Deus nos permite cultivar um forte senso de autoestima, pois estamos seguros de Deus e de Seu amor incondicional por nós. A certeza do Seu amor nos afasta qualquer razão de nos exaltamos diante dEle ou dos outros.
Na condição de indivíduos criados à imagem de Deus e amados por Ele, podemos ter toda a confiança no nosso valor pessoal. Podemos com sinceridade reconhecer nossos pontos fortes e pontos fracos, nossos talentos e hábitos negativos. Devemos nos esforçar para ter clareza do que somos, sem acharmos que somos maravilhosos ou terríveis. Não devemos nos elevar em orgulho nem nos considerarmos indignos. Qualquer um desses extremos — em que sentimos que somos as piores ou as melhores pessoas que existem é errado.
A humildade está entre os dois extremos. Reconhecermos que somos valiosos para Deus, que Ele nos ama, nos criou e nos deu dons e talentos, pode evitar que nos autodepreciemos e ao mesmo tempo nos impedir de acharmos que somos mais talentosos e melhores que os outros. Como disse Rick Warren: “Humildade não é pensar menos de si mesmo, mas pensar menos em si mesmo.”[5]
Se formos humildes, reconheceremos que somos pecadores como todas as outras pessoas e, portanto, não nos sentimos mais merecedores de amor nem menos responsáveis por demonstrar amor pelos demais. A humildade nos livra de preocupações com prestígio ou posição, características físicas ou atratividade, nossos sucessos, fracassos e muitas outras ansiedades que surgem do orgulho e de nos compararmos com os demais.
A humildade está presente em toda a Bíblia. Somos chamados a viver em humildade e bondade[6]; em humildade considerar os outros superiores a nós mesmos[7]; a nos revestirmos de humildade; a nos humilharmos sob a poderosa mão de Deus[8]; a andar em humildade diante de Deus[9]; a buscar a humildade[10]; e a sermos humildes em espírito.[11]
A Bíblia repetidamente exalta a humildade e fala da atitude positiva que Deus tem para com os humildes. A humildade precede a honra[12]; bem-aventurados os mansos, pois herdarão a terra[13]; Deus livra e dá graça aos humildes.[14]
Em carta aos Filipenses, o apóstolo Paulo falou da humildade de Jesus: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus.”[15] Em algumas traduções, encontramos na última sentença as expressões “seja a atitude de vocês a mesma” ou “tenham o mesmo modo de pensar que Jesus Cristo tinha”. Ao nos “revestirmos” de humildade e nos “despirmos” do orgulho, nos empenhamos em ser mais como Jesus.
Paulo então ensina que Jesus nos deu o melhor exemplo de verdadeira humildade.
“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.”[16]
Aqui nos é dito que nossa disposição interior deve ser similar à de Jesus, que nossa atitude deve ser semelhante à que tinha o Senhor. Que atitude foi essa? Apesar de Jesus ter a mesma natureza, as mesmas qualidades e a mesma “patente” ou “status” que Deus, deixou tudo isso de lado e assumiu a natureza de um servo, ao se tornar humano. Ele poderia ter reclamado poder e glória, como ficou claro quando o Diabo O tentou no deserto, mas escolheu reduzir Seu status e ser humilhado a ponto de estar disposto a sofrer uma morte cruel e torturante de um criminoso comum, por amor a nós.
Por isso, Deus O “hiperexaltou” — tradução literal desta passagem. Quando lemos que a Jesus foi dado um nome acima de todo nome, devemos entender que Lhe foi dada a mais elevada posição de todas. Curvar-se e confessar que Jesus Cristo é o Senhor corresponde a declarar que Ele é soberano e Senhor sobre todo o universo.
Durante Seu ministério, Jesus realizou muitas obras poderosas. Curou os enfermos, expulsou demônios, multiplicou pães e peixes para alimentar cinco mil pessoas e caminhou sobre a água. Quando foi preso, disse que poderia pedir ao Seu Pai que enviasse doze legiões de anjos para O proteger — tal era Sua capacidade, poder e status. Contudo, em vez disso, humilhou-Se, viveu em submissão a Seu Pai e evitou a glória que muitos Lhe queriam dar.
Para nos tornarmos mais como Jesus, devemos nos empenhar em nos “revestirmos” de humildade, pelo que seremos abençoados pelo Senhor.
“Cingi-vos todos de humildade uns para com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, portanto, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte.”—1 Pedro 5:5–6
Publicado originalmente em maio de 2017. Adaptado e republicado em março de 2022.
[1] NVI.
[2] Lucas 22:27.
[3] Mateus 23:12.
[4] Randy Frazee, Think, Act, Be Like Jesus (Grand Rapids: Zondervan, 2014), 217.
[5] Rick Warren, Uma Vida com Propósitos (Editora Vida Livros.
[6] Efésios 4:2.
[7] Filipenses 2:3.
[8] 1 Pedro 5:5–6.
[9] Miquéias 6:8.
[10] Sofonias 2:3.
[11] 1 Pedro 3:8.
[12] Provérbios 15:33.
[13] Mateus 5:5.
[14] Jó 22:29; Tiago 4:6.
[15] Filipenses 2:3–5.
[16] Filipenses 2:5–11 NVI.
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