Um Rabino Vê a Luz
Tesouros
O sumo sacerdote, Caifás, enchendo a imponente câmara do Sinédrio—a Suprema Corte de todo o judaísmo—exclamou: “A doutrina dos seguidores de Jesus de Nazaré está se espalhando por Jerusalém e nós não tomamos providências!”.
“Vamos lá, filho”, diz Anás, o sogro idoso de Caifás, enquanto afaga pensativamente a sua barba branca. “Nem nós, nem nenhum dos anciãos do Conselho sabíamos que esta seita herege continuaria se espalhando depois que o profeta deles fosse executado, aquele blasfemador de Nazaré”.
“Mas na semana passada”, lamenta-se Caifás, “tivemos a oportunidade ideal de nos livrarmos de dois dos seus líderes principais, aqueles dois pescadores, Pedro e João, que foram presos e bem aqui diante de nós. Mas o Rabino Gamaliel tomou a palavra e persuadiu o Conselho a não fazê-lo, argumentando que deveríamos deixá-los ir! Ele disse que, ‘Se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la, para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus’ (Atos 5:38,39).
“Nós os açoitamos, e os ameaçamos com severos castigos caso continuassem a pregar no nome de Jesus, o seu líder que foi executado”.
“Mas de que serviu isso?” Pergunta Anás. “A popularidade deles aumenta a cada dia, estão se multiplicando e ouvi dizer que até muitos dos nossos próprios sacerdotes estão começando a acreditar e seguir essa seita secretamente”! (Atos 6:7).
“Temos que fazer alguma coisa, Caifás, e tem que ser agora! Caso contrário toda a Jerusalém vai estar proclamando que esse nazareno morto é o Messias. Mas para evitar problemas com os romanos, caso eles descubram que mandamos matar alguns desses hereges, talvez possamos usar alguns dos nossos irmãos que não estão diretamente ligados ao Sinédrio?”
“Ótima ideia, pai”, responde Caifás com um sorriso. “É, acho que eu conheço o homem perfeito para este trabalho. O Rabino Saulo. Como você sabe ele é de Tarso, a capital da Província da Sicília, e é o chefe da ‘Sinagoga dos homens livres’, uma congregação de gente muito devota aqui em Jerusalém, de Judeus da Grécia e da Ásia. Saulo é um jovem fariseu muito zeloso que faria qualquer coisa para propagar a nossa causa religiosa.” (Ver Atos 22:3; 23:6; 26:4,5; Filipenses 3:4-6.)
Saulo foi imediatamente convocado aos aposentos dos Sacerdotes dentro da propriedade do Templo. Ele aceitou alegremente a incumbência de procurar e capturar um cristão proeminente, e encarregar-se pessoalmente de que o “infiel” fosse assassinado. Saulo concordou que tal ação serviria de exemplo e aviso aos outros cristãos de Jerusalém, e esperava que isso pusesse termo às suas atividades.
Depois de ter organizado um grupo de judeus devotos da sua sinagoga, Saulo e seus homens foram diretamente para as proximidades do mercado central de Jerusalém, uma área onde frequentemente se via os cristãos pregando a grandes grupos de pessoas. Ali descobriram um certo discípulo chamado Estevão, que testemunhava poderosa e abertamente às multidões a respeito de Jesus.
Eis a descrição do encontro deste grupo de inquisidores com Estevão nas palavras da própria Bíblia: “Então se levantaram alguns que eram da Sinagoga chamada dos ‘Homens Livres’, judeus de origem estrangeira, inclusive das províncias da Sicília e Ásia. Esses judeus começaram a discutir e disputar com Estevão, e, contudo, não podiam resistir à sabedoria e ao espírito com que ele falava! Então, subornaram falsas testemunhas que diziam: ‘Ouvimos-lhe proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus’!
“E excitaram o povo e os anciãos e os escribas, e investiram contra Estevão e o agarraram e levaram ao Conselho. As testemunhas falsas testificaram diante do Sinédrio: ‘Este homem não cessa de proferir blasfêmias contra este Templo sagrado e contra as Leis de Moisés; porque nós o ouvimos dizer que esse Jesus, o Nazareno, há de destruir o nosso Lugar Sagrado e mudar os costumes que Moisés nos deu’”! (Atos 6:8-14).
O Sumo Sacerdote Caifás olhou para Estevão e perguntou se as acusações eram verdadeiras. Estevão respondeu com um poderoso sermão no qual narrou detalhadamente toda a História dos judeus—de Abraão, Isaque e Jacó a Moisés, passando pelos profetas e reis, para mostrar como Deus lidou com Israel através dos tempos, preparando-os para o Messias. A Bíblia nos diz que “todos os que estavam assentados no conselho, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo” (Atos 6:15).
No final de sua mensagem, Estevão manifestou-se numa explosão de verdade dizendo-lhes: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas; vós que recebestes a lei por ordenação dos anjos e não a guardastes” (Atos 7:51-53).
O Conselho, bem como a turba do Rabino Saulo que tinham capturado Estevão e o levado lá, não conseguiram aguentar esta pungente repreensão. “E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seu coração e rangiam os dentes contra ele” (Atos 7:54), e concordaram que aquele herege deveria ser imediatamente apedrejado.
“Mas ele [Estevão], estando cheio do Espírito Santo e fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus, e disse: ‘Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus’” (Atos 7:55,56).
Quando ouviram estas palavras, eles taparam os ouvidos, e gritando com toda a força, “arremeteram unânimes contra ele. E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam” (Atos 7:57,58).
Saulo permaneceu um pouco afastado da frenética turba religiosa. E quando se preparavam para lançar as suas pedras em Estevão, a Bíblia diz que, “depuseram as suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo. … E também Saulo consentiu na morte dele” (Atos 7:58; 8:1).
Mas para sua consternação, o Sinédrio viu que a morte de Estevão não restringiu nem abrandou em nada as atividades dos cristãos. Eles continuavam crescendo e divulgando a sua mensagem mais do que nunca. Não só o Conselho estava bravo, mas o próprio Saulo estava decidido a exterminá-los! “E também Saulo consentiu na morte dele. E fez-se, naquele dia, uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judeia e da Samaria, exceto os apóstolos. E uns varões piedosos foram enterrar Estêvão e fizeram sobre ele grande pranto. E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão” (Atos 8:1-3).
A perseguição contra os cristãos tornou-se tão extrema e tão violenta, que praticamente todos os cristãos deixaram Jerusalém. Mas o zeloso fariseu Saulo não ficou satisfeito em afugentar a maioria dos cristãos da capital.
“Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens, quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém” (Atos 9:1,2). Saulo chegou ao ponto de obter uma autorização de Caifás para prender e encarcerar cristãos na distante capital do outro país a mais de 200 km de distância!
Anos mais tarde, Saulo escreveu e confessou: “Bem tinha eu imaginado que contra o nome de Jesus, o Nazareno, devia praticar muitos atos, o que também fiz em Jerusalém. E, havendo recebido poder dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e, quando os matavam, eu dava o meu voto contra eles. E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui” (Atos 26:9-11).
Contudo, enquanto Saulo e o seu pelotão de guardas do Templo viajavam a cavalo pela estrada poeirenta para Damasco, algo completamente inesperado e extraordinário lhe aconteceu na última etapa da sua jornada.
“E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?” (Atos 9:3,4).
Embora Saulo tivesse estudado as Escrituras e soubesse que Deus falou e chamou de maneira sobrenatural os Seus mensageiros e profetas, ele nunca havia passado por coisa parecida em toda a sua vida!
Surpreso e quase aterrorizado, Saulo não sabia o que pensar daquela luz cegante daquela voz sobrenatural. Se realmente era a voz de Deus, por que teria dito: “Por que Me persegues?” Certamente Deus sabia que ele estava numa missão santa para Deus, perseguindo os inimigos de Deus, membros da seita herética que seguiam aquele encrenqueiro: Jesus de Nazaré. Com dificuldade, Saulo se recompôs e perguntou alto para aquela Voz: “Quem és, Senhor?”
Então veio a resposta que mudaria e transformaria radicalmente a vida desse jovem fariseu. Lenta e claramente, a voz respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões” (Atos 9:5). O Senhor estava retratando Saulo como um boi teimoso dando coices contra o aguilhão do seu dono, que é um pau aguçado usado para obrigar os animais a andarem. Em outras palavras, Saulo estava resistindo aos aguilhões da sua consciência ao perseguir os cristãos.
Num instante de revelação divina, como um clarão brilhante e ofuscante, Saulo compreendeu quão errado estivera ao perseguir e matar os cristãos. “Meu Deus, meu Deus!” pensou ele, e quase desmaiou de surpresa, “Jesus é o Messias! O que foi que eu fiz? Tem misericórdia de mim, Senhor!”
Dirigindo-se de novo à voz, Saulo, tremendo e chorando disse: “Senhor, que queres que faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer” (Atos 9:6).
“E Saulo levantou-se da terra e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco. E esteve três dias sem ver, e não comeu, nem bebeu” (Atos 9:8,9).
Imaginem só. Esse fariseu outrora proeminente e orgulhoso, o Rabino Saulo, foi atingido de maneira sobrenatural e derrubado do seu belo cavalo pelo próprio Jesus, e a luz de Deus o cegou completamente! Ele ficou tão abalado e atônito com as coisas dramáticas e extraordinárias que tinham acabado de lhe acontecer que não conseguia comer nem beber, e ficou deitado na cama ponderando, orando fervorosamente e esperando que Deus lhe mostrasse o que fazer.
Três dias depois, “Em Damasco havia um discípulo chamado Ananias. O Senhor o chamou e lhe disse: ‘Vá à casa onde Saulo, de Tarso está. Imponha-lhe as mãos para que volte a ver’” (Atos 9:10-12).
Mas Saulo tinha uma reputação tão má entre os discípulos cristãos, que Ananias respondeu, “Mas, Senhor, ouvi muito sobre este homem, quanto aos males têm feito aos Seus filhos em Jerusalém, e como os sumo sacerdotes lhe deram autoridade para capturar e prender todos os que invocarem o Teu nome”.
“Mas o Senhor disse a Ananias, ‘Obedece e vai, porque este é para Mim um vaso escolhido, que levará o Meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel’” (Atos 9:13-15). Então Ananias obedeceu e foi.
“Irmão Saulo”, saudou Ananias quando entrou no quarto onde o rabino estava deitado. Saulo ficou totalmente surpreso. Tinha encontrado muitos cristãos antes, mas nenhum jamais chamara de “irmão” o seu cruel e implacável perseguidor.
Vendo a condição lastimável do antigo torturador do seu povo, Ananias sentiu compaixão dele e disse: “‘Saulo, o Senhor Jesus, que apareceu na sua frente na estrada por onde vinha para cá, me enviou para que ore por você e torne a ver e seja cheio do Espírito Santo!’ Então ele pôs as mãos sobre os olhos de Saulo, orou fervorosamente, e os olhos dele foram imediatamente curados e levantou-se, comeu e ficou fortalecido” (Atos 9:17-19).
Depois de passar apenas alguns dias com os discípulos em Damasco, a Bíblia diz que “Saulo logo nas sinagogas pregava a Cristo, que Jesus é o Filho de Deus. E todos os que o ouviam estavam atônitos, e diziam: ‘Não é este o que, em Jerusalém, perseguia os que invocavam este nome (Jesus)? E não veio ele aqui para capturar e prender cristãos?’ Mas Saulo falava cada vez com mais poder, e confundia os judeus que viviam em Damasco, provando que Jesus era realmente o Messias. E, tendo passado muitos dias, os judeus tomaram conselho para o matar” (Atos 9:19–23). E foi assim que o antigo perseguidor se tornou o perseguido, e começou o emocionante ministério do Apóstolo Paulo!
Sem dúvida, desde o momento em que Saulo testemunhou o martírio de Estêvão, ele se sentiu sob a convicção do Espírito Santo. Graças a Deus, Saulo finalmente cedeu à verdade de que Jesus é o Messias e se tornou o principal líder da igreja primitiva. Que exemplo de uma vida transformada, de uma “nova criatura em Cristo Jesus”, quando ele se tornou o Apóstolo Paulo, seguidor e pregador do amor, da misericórdia e da graça de Deus. (2 Coríntios 5:17).
Após sua conversão, Paulo “imediatamente pregou a Cristo”. Ele não esperou semanas, meses ou anos para se tornar uma testemunha do Senhor, mas imediatamente começou a dar testemunho do Senhor. Mesmo que você não tenha memorizado capítulos das Escrituras ou se tornado um eloquente palestrante, se recebeu Jesus em seu coração, você também é chamado a compartilhá-lO com outras pessoas para que elas possam vivenciar o amor de Deus e receber a Sua dádiva da salvação eterna.
Que Deus, ajude todos nós a sermos testemunhas dedicadas, destemidas e entusiasmadas, e a darmos testemunho da verdade a tantos quanto pudermos! E depois, ao final da nossa vida, poderemos dizer tal como o Apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2 Timóteo 4:7,8).
De um artigo do livro Tesouros, publicado por A Família Internacional em 1987. Adaptado e republicado em junho de 2023.
Último post
- Superando o Medo com a Fé
- A Negligenciada Virtude da Gratidão
- Fé e Zona de Conforto
- As Feridas de um Amigo
- O Lugar À Mesa do Pai
- A Maravilhosa Graça de Deus
- Como Abraçar e Superar a Adversidade
- Um Trabalho em Andamento
- Uma Resposta Cristã em um Mundo Polarizado
- A Viúva de Zarepta: uma História de Esperança