Um Pensamento Assustador
De Peter Amsterdam
Estava fazendo uma pesquisa para um texto que ia escrever quando algo chamou muito a minha atenção. Era um versículo que me era familiar e que eu já havia lido, ouvido e citado centenas de vezes, mas quando meditei nele, pensando na sua aplicação prática e na dimensão das consequências de ignorá-lo é que realmente entendi a sua importância. — E fiquei assustado por ser culpado do que ele diz.
Mateus 6:14–15 diz:
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.[1]
Esses versículos são preto no branco. O fato de perdoarmos os outros ou não, afeta diretamente se Deus vai nos perdoar ou não[2]. Percebi que é algo do qual temos que estar muito cientes.
Jesus enfatiza o mesmo em mais outras duas passagens nos Evangelhos.
Não julgueis, e não sereis julgados. Não condeneis, e não sereis condenados. Perdoai, e perdoar-vos-ão.[3]
E quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas.[4]
Pedro perguntou o óbvio quando disse:
“Então Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?Jesus lhe respondeu: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (490 vezes).[5]
Jesus usa um número bastante grande para expressar quantas vezes acha que devemos perdoar a nosso irmão, demonstrando claramente que o perdão é importante e que deveríamos praticar.
Para fazer-se entender ainda mais nessa questão, Ele usa mais números bem grandes e conta a história de um rei que queria fazer o acerto com seus servos.
Um homem devia ao rei dez mil talentos. Um talento equivale a 56 quilos, de modo que ele devia 56 mil quilos de ouro ou prata ao rei. Se fosse prata, hoje em dia equivaleria a 560 milhões de dólares; no caso do ouro seria cerca de 27 bilhões de dólares. Em ambos os casos, e em qualquer época, representa uma dívida enorme. Como o homem não tinha como pagar, o rei ordenou que ele, sua esposa e filhos, e tudo o que possuíam fosse vendido. O homem implorou ao rei por paciência, e o rei, com pena, o liberou e perdoou a dívida.
Infelizmente, depois disso, o servo que havia sido perdoado encontrou outro servo que lhe devia cem denários—um denário era o equivalente ao salário de um dia de trabalho. (A Wikipédia diz que um dia de trabalho naquela época era cerca de 20 dólares atuais. Se isso for correto, o segundo servo devia ao primeiro 2 mil dólares.) O primeiro servo, que havia sido perdoado, não perdoou a dívida do segundo e mandou prendê-lo.
Quando o rei ficou sabendo, chamou o servo que havia perdoado e lhe disse:
“Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu igualmente compadecer-te do teu companheiro, como também eu me compadeci de ti? Assim, encolerizado, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse tudo o que devia.[6]
Jesus termina esta história com uma declaração alarmante:
Assim vos fará também Meu Pai celeste, se de coração não perdoardes cada um a seu irmão as suas ofensas[7].
Fica claro que perdoar seu irmão é importante, e não perdoar resulta em Deus não perdoar as suas dívidas e transgressões.
Há momentos em que os outros nos magoam ou pecam contra nós—intencionalmente ou sem querer—e vice-versa. As pessoas talvez nos tratem injustamente numa certa ocasião, nos enganem e até roubem, ou falem nas nossas costas e nos difamem. Talvez trapaceiem ou tirem vantagem de nós, ou faltem com a palavra. Mas em qualquer caso, não importa a ofensa ou a mágoa, somos instruídos a perdoar.
Perdoar não significa que o outro agiu corretamente, nem que a perda ou o dano que nos foi causado pelas suas ações será desfeito. Significa simplesmente que, em vez de focarmos em quem está certo ou errado, deixamos o caso nas mãos de Deus, juntamente com a repercussão das ações da pessoa. Você vai para um patamar mais alto e perdoa.
É interessante vermos que a parábola do servo inclemente usa dinheiro para tratar do perdão. Por alguma razão, parece que quando alguém pega o seu dinheiro, quer roubando quer prejudicando o seu meio de sustento, é muito difícil perdoar.
Todos nós pecamos, e cada um de nós carece da glória de Deus. Nós, assim como o servo inclemente, pecamos, e cada um tem uma dívida imensa para com Deus, tão grande que não temos condições de jamais pagar. Mas, através de Jesus, Deus perdoa essa dívida e nos pede para, da mesma forma, perdoarmos aos outros.
Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.[8]
Pode ser assutador pensar que se não perdoarmos os outros quando eles pecam contra nós, Deus não nos perdoará quando pecarmos contra Ele. Certamente nos faz pensar. A boa notícia é que também podemos ver isso como uma promessa de que se perdoarmos aos outros Deus nos perdoará. Se tivermos misericórdia receberemos misericórdia. Se perdoarmos seremos perdoados. A questão não é quem está certo ou errado, mas sim perdoarmos de coração.
Portanto, como eleitos de Deus, santos, e amados, revesti-vos de compaixão, de benignidade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.[9]
Publicado originalmente em março de 2011. Republicado no Âncora em março de 2013. Tradução Denise Oliveira. Revisão Hebe Rondon Flandoli.
[1] ESV
[2] Refere-se a Deus perdoar ofensas específicas; não está relacionado à salvação.
[3] Lucas 6:37.
[4] Marcos 11:25.
[5] Mateus 18:21–22.
[6] Mateus 18:32–34.
[7] Mateus 18:35.
[8] Efésios 4:32.
[9] Colossenses 3:12–14.
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