Superando a Ansiedade
Peter Amsterdam
No Sermão na Montanha, Jesus falou sobre a ansiedade usando as seguintes palavras:
Por isso vos digo: Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?[1]
O entendimento de que Deus é nosso Pai, que nos ama e que proverá nossas necessidades físicas diárias deve resultar em maior confiança nEle capaz de combater a ansiedade ou preocupações por nossas necessidades físicas do dia a dia. Esse ensinamento teve um efeito poderoso nos primeiros discípulos, pois eles, como Jesus, eram pregadores e professores itinerantes, inseguros de onde suas provisões diárias viriam. Apesar de essa não ser a situação da maioria dos cristãos, o princípio de confiar em Deus ainda se aplica.
A palavra grega traduzida por ansioso ou preocupado, significa ser atormentado com cuidados, viver ansioso. Em algumas traduções encontramos não andeis cuidadosos, ou não andeis ansiosos. Em outras, mais contemporâneas, lemos não se preocupem. Preocupar-se, neste sentido, é o oposto de fé. A mensagem de Jesus é tenha fé no Pai, creia que Ele é o criador e governante de todas as coisas, que Ele supre para todos os Seus filhos.
Jesus usa analogias simples relacionadas à natureza para ensinar que devemos confiar em Deus e não nos nossos bens e fontes de renda. Ele aborda a questão de nossos medos e preocupações sobre não ter o que precisamos hoje ou no futuro.
Olhai para as aves do céu; não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros, e, contudo, o vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? Qual de vós poderá, com as suas preocupações, acrescentar uma única hora ao curso da sua vida? Quanto ao vestuário, por que andais ansiosos? Observai como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem fiam. Eu, porém, vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé? [2]
O fato de os pássaros não semearem nem colherem não significa que Deus fará a comida cair em seus bicos. Eles têm de se esforçar para buscá-la. Contudo, Ele supre o alimento. Jesus então usa um argumento “por causa de uma razão mais forte” para ensinar Sua lição: Se Deus alimenta os pássaros, não fará o mesmo por vocês que valem mais que os pássaros? O entendimento de que os humanos são para Deus de maior importância que Suas criações não humanas podem ser encontradas na história da criação, na qual nós, humanos, somos o último e mais fantástico ato da criação, a quem é dada autoridade sobre todos os animais.[3] Jesus deixa isso bem claro também: Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos pardais.[4]
O segundo exemplo relacionado à natureza é o dos lírios no campo, e a mesma lógica é aplicada aqui: Se o Pai, o Criador de toda a beleza na natureza, do universo e de tudo que nele há, escolheu fazer flores de vida tão curta tão incrivelmente belas, quanto mais proverá nossas necessidades físicas, como as vestimentas?
Entre os exemplos dos pássaros e das flores está um dito que ilustra a inutilidade da preocupação. Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?[5] Os tradutores discordam se a melhor interpretação é adicionar um côvado (cerca de meio metro) à altura de alguém, ou adicionar uma única hora ao seu tempo de vida, pois ambas as traduções são aceitáveis.
Em ambas as interpretações, a resposta à pergunta é óbvia: não faz sentido se preocupar, pois nada muda.
Depois de destacar por que a preocupação não muda as coisas, Jesus pergunta:
Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé?[6]
Em várias passagens do Evangelho segundo Mateus, Jesus chamou de homens de pequena fé os que temiam e ficavam ansiosos em vez de confiarem em Deus.[7] A fé, no sentido aqui usado, significa a confiança de que Deus pode e agirá a favor de Seu povo. Tendo ensinado que Deus, que alimenta os animais e veste a terra com a beleza da natureza, é nosso Pai, que nos ama e cuida de nós, Jesus repete que não devemos nos preocupar nem ficarmos ansiosos:
Portanto, não andeis ansiosos, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos? Pois os gentios procuram todas estas coisas. De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas elas.[8]
Como Ele fizera duas vezes no Sermão, Jesus compara as ações dos não crentes com o que os crentes deveriam fazer. O vocábulo grego traduzido aqui como procurar, expressa o conceito de desejar muito algo em particular. Enquanto outros podem priorizar as coisas materiais deste mundo, os cristãos devem se concentrar no fato de que temos um Pai amoroso no céu que sabe o que precisamos para suprir essas necessidades sem ficar ansiosos nem nos preocuparmos com elas:
Buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal.[9]
Somos ensinados a não nos preocuparmos com os problemas que poderão vir amanhã, mas a confiar em Deus no que diz respeito aos desafios de hoje e deixar os de amanhã com Ele. Cada dia terá “seu próprio mal”, mas à luz do que Jesus aqui ensina, temos a confiança de que pela graça de Deus Ele nos ajudará a superar os obstáculos que encontrarmos. Jesus não ensina que não teremos problemas, que nossas vidas serão sempre um mar de rosas, mas nos chama para enfrentarmos os problemas com fé em nosso Pai e não ansiedade.
Deus é nosso Pai e, por sermos crentes, somos Seus filhos. Na condição de filhos que O buscam e desejam Sua justiça, podemos confiar que nosso Pai suprirá nossas necessidades de comida, bebida e roupas. Várias vezes nos dá mais do que o essencial, mas nesta passagem promete o básico.
A maioria de nós não é rica, mas devemos manter nossas prioridades na ordem certa no que diz respeito a ter segurança financeira que atenda às nossas necessidades, mas ao mesmo tempo não permitir que nossas metas financeiras tenham preeminência sobre nosso relacionamento com Deus e nosso serviço a Ele. Na condição de crentes, temos a responsabilidade de usar nossos recursos financeiros para a glória de Deus, para cuidar de nossos amados e também ajudar os outros. Devemos ser generosos, dar a Deus por meio de nossos dízimos e ofertas, e compartilhar nossas bênçãos financeiras com os que precisam.
É importante notar que Jesus nunca disse que nenhum crente jamais ficaria sem o que comer, nunca teria sede nem jamais lhe faltariam roupas. Certamente, os cristãos ao longo da história passaram privações por conta de secas ou em prisões, ou perderam tudo o que tinham por um motivo ou outro.
A mensagem aqui não é que os cristãos jamais terão dificuldades nem tempos de escassez, ou que suas vidas serão isentas de problemas, ou que podemos esperar que Deus proverá para nós abundantemente sempre e em todos os lugares, sem que tenhamos que trabalhar para nosso sustento. A mensagem é que, por sermos crentes, devemos confiar em nosso Pai para todas as coisas e não nos preocuparmos.
Estamos em Suas mãos, Ele nos ama, nos alimenta, cuida de nós e provê nossas necessidades, às vezes abundantemente. Não importa a situação, devemos confiar nEle, sabendo que Ele nos ama, que somos Seus filhos e que viveremos com Ele para sempre.
Publicado originalmente sem setembro de 2016. Adaptado e republicado em janeiro de 2021.
[1] Mateus 6:25.
[2] Mateus 6:26–30.
[3] Gênesis 1:26–28.
[4] Mateus 10:31.
[5] Mateus 6:27.
[6] Mateus 6:30.
[7] Mateus 8:26, 14:31, 16:8.
[8] Mateus 6:31–32.
[9] Mateus 6:33–34.
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