Reflexões sobre Misericórdia, do Salmo 51:1
David Brandt Berg
“Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a Tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das Tuas misericórdias.”[1]
O que é misericórdia? Usamos uma palavra e sabemos seu significado, mas às vezes é difícil explica-la.
Um exemplo de misericórdia é quando Deus nos perdoa e não nos castiga como realmente merecemos. Ele nos ama e escolhe nos perdoar em vez de nos castigar, porque nos arrependemos, pedimos Seu perdão e Sua ajuda para não reincidirmos no erro, e Ele nos dá outra chance. Misericórdia, em certo sentido, é como outra chance. Deus lhe dá nova oportunidade quando não o pune como realmente merece. Então, é essa a oração que Davi faz aqui, e é o que todos nós precisamos orar: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a Tua benignidade.”
A benignidade, portanto, deve estar relacionada com misericórdia. Na verdade, benignidade são duas coisas: amor e gentileza. Se você é amoroso vai ser muito gentil.
O que são transgressões? Pecados. Às vezes há placas nos portões de alguns sítios e fazendas que dizem: “Entrada proibida!” Nesse caso, entrar sem permissão é transgredir. Isso significa que você vai entrar num lugar onde não deveria e vai estar fazendo algo que não deveria. Por isso oramos no Pai Nosso: “Perdoe as nossas ofensas, como nós perdoamos aos que nos têm ofendido”. Em outras versões diz transgressões. E em outro Evangelho usa a palavra “pecado.”[2]
Certa vez, eu estava conversando sobre isso com o irmão Brown que me ajudou a construir a igreja no Arizona. Ele não acreditava que pudesse pecar, porque era adepto da Santidade. Acreditava que tinha sido tão santificado que não poderia pecar, porque tinha recebido o Espírito Santo. Ele achava que isso o tinha tornado perfeito e que era impossível ele pecar.
Ele clamava ter passado pelo que ele chamava de “a segunda obra da graça”, que erradicou toda a sua natureza pecadora; o seu ego mau tinha sumido e agora ele era imaculado e não fazia nada de errado. Então eu lhe disse: “Mas de vez em quando, até mesmo enquanto estamos trabalhando nesta construção aqui, irmão Brown, você já cometeu um erro, você fez algo errado, mesmo que sem querer”. Ele disse: “Ah, mas não foi um pecado, foi apenas um erro.” Eu disse: “Jesus diz no Pai Nosso: ‘Perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’. Ele respondeu: “Uma ofensa é apenas um erro, não é um pecado”. Eu disse: “Bem, então por que é que no outro Evangelho diz ‘perdoa os nossos pecados, assim como nós perdoamos aos que nos devem’?”[3] E ele não soube responder.
Ofensas são pecados, assim como transgressões; é quando fazemos algo de errado. Mas o Senhor é muito misericordioso, e se nos arrependermos e sinceramente Lhe pedirmos para nos perdoar e tentarmos não repetir mais aquilo, Ele nos perdoa.
O Senhor tem misericórdia para conosco como nós, pais, temos misericórdia para com nossos filhos. Justiça significa lhe dar o que você merece. Se você merecer um castigo e o receber, isto é justiça; você recebe o juízo.
Davi pediu misericórdia. Ele merecia ser punido; ele até merecia ser morto, segundo a Lei Mosaica. Merecia ser apedrejado até a morte porque havia roubado a esposa de outro homem, e depois causado a morte dele ainda por cima.[4] Mas ele pediu ao Senhor que o perdoasse; ele implorou misericórdia. O Senhor o puniu, mas não o matou. Isto é misericórdia. Davi merecia a morte, mas o Senhor o perdoou porque ele se arrependeu. Minha mãe costumava dizer que ele cometeu um grande pecado, mas teve um grande arrependimento, de modo que recebeu um grande perdão. Recebeu misericórdia porque estava muito arrependido, orou e pediu ao Senhor que lhe perdoasse.
Quando nos arrependemos e pedimos perdão ao Senhor e tentamos não fazer mais a mesma coisa, o Senhor tem misericórdia. Há um tempo para misericórdia e perdão. Na verdade, o que o Próprio Senhor disse? Seus discípulos Lhe perguntaram; “Quantas vezes eu devo perdoar meu irmão? Umas sete vezes?” E o Senhor disse; “Setenta vezes sete.”[5] Ou seja 490 vezes.
O Senhor é muito misericordioso para conosco, perdoa-nos de todos os nossos pecados —, muitos mais do que 490—, tem verdadeira misericórdia de nós e benignidade para conosco. Isto é misericórdia. Ele sofreu o castigo por nós para que pudéssemos ser salvos. Não porque somos perfeitos nem porque nunca fazemos nada de errado, mas porque Ele nos ama. Isto é verdadeira misericórdia. Isto sim é verdadeiro perdão e benignidade.
Não podemos salvar a nós mesmos por nossas próprias obras ou bondade, até mesmo nossas próprias tentativas de manter as leis de Deus e amá-lO. Não podemos ser bons o suficiente nem perfeitos o bastante para ganhar ou merecer a perfeição celestial da salvação pela graça, amor e misericórdia de Deus! É impossível alguém ser salvo sem o poder milagroso de Deus.
Aceitar a salvação através da Sua Palavra é uma obra da graça de Deus. É grátis; só pode ser recebido. É o presente de Deus, você não pode trabalhar para isso. Você não pode fazer por merecer um presente ou então não seria um presente. Você não tem a justiça de ninguém exceto a de Cristo, e Ele é o único que pode dá-la a você.
Deus não pode ajudá-lo a se salvar, já que não ajuda aqueles que acham que podem se salvar, mas os que sabem que não o podem. A ideia de bondade de Deus é a piedade: um pecador que sabe que precisa de Deus e depende dEle para ser salvo. A ideia de santidade de Deus não é a perfeição sem pecado, a justiça própria. É um pecador salvo pela graça, um pecador que não tem nenhuma perfeição, sem justiça própria, e que é totalmente dependente da graça, amor e misericórdia de Deus pela fé. Esses são os únicos santos há—não existe outros!
Publicado originalmente em julho de 1986. Adaptado e republicado em maio de 2016.
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