Recompensas
Peter Amsterdam
Espalhadas por toda a Bíblia, são numerosas as promessas de recompensas para os que são fiéis, tanto nesta vida quanto na próxima. Mas qual é a essência dessas promessas e qual o propósito das recompensas? Que relação há entre a maneira como vivemos e as retribuições que receberemos? Existe alguma garantia de que cada um de nós receberá seu prêmio? Essas e outras perguntas estão respondidas na Palavra de Deus e são essas respostas que queremos discutir aqui.
O Tribunal de Deus
A Bíblia fala do julgamento individual de todos os seres humanos e que cada um comparecerá diante de Deus para ser julgado, tanto os salvos quanto os não salvos. Conforme o Apóstolo Paulo, todos compareceremos diante do tribunal de Deus… Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus.[1] Pois todos devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.[2]
Por sermos crentes, nosso julgamento diante de Cristo não decidirá se seremos condenados pelos nossos pecados, porque nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.[3] Por termos recebido Jesus como Salvador, nos considera justos através de Deus. Apesar de culpados de haver pecado contra Deus, Jesus foi punido pelos nossos pecados e, consequentemente, não somos julgados nem condenados por essa culpa.
Na condição de filhos adotivos da família de Deus,[4] perdoados e por Ele considerados justos graças ao sacrifício de Jesus, não vivenciaremos a separação de Deus, como acontecerá aos que escolheram se separar de Deus nesta vida.[5] Em vez disso, viveremos para sempre na presença de Deus. Entretanto, compareceremos ao tribunal de Cristo, para prestar contas de nossas vidas e receber o que nos cabe pelo que fizemos.
Mesmo sem sermos condenados, somos responsáveis perante o Senhor. O julgamento dos filhos de Deus pode ser visto como uma avaliação de nossas vidas e indicar vários graus de recompensas que são dadas ou retidas. Cada um de nós se apresentará ao nosso Salvador que, como diz Paulo, trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor.[6] Quando formos julgados, não receberemos a condenação, mas o louvor — ou aprovação — que ao Senhor parecer adequado para nós.
Graus de recompensa
A Bíblia indica que há graus de recompensa para aqueles que são salvos e que nossas recompensas têm a ver com a maneira como vivemos em relação a Jesus.
Pois ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento levantar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará, porque o dia a demonstrará. Pelo fogo será revelada, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou sobre ele permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá perda; o tal será salvo, todavia como pelo fogo.[7]
Isso significa que cada cristão terá uma recompensa específica. Alguns descobrirão que, mesmo sendo salvos, a maneira como viveram não refletiu o amor de Deus, não produziu em suas próprias vidas ou nas vidas dos outros os frutos do Seu Espírito nem fez com que acumulassem tesouros no céu. A ilustração aqui oferecida é de uma casa destruída em um incêndio, juntamente com tudo que nela havia, cujo dono sobreviveu. Há uma perda, mas, ao mesmo tempo, gratidão por escapar com vida do fogo.
O que fazemos em nossas vidas influencia a vida depois desta, pois cada um receberá o que lhe couber pelas coisas feitas nesta vida.[8] Isso não significa que as obras que fizemos nos salvarão do julgamento, pois somente a fé em Jesus pode fazer isso. Mas significa que como vivemos após recebermos a salvação é considerado na definição de nossas recompensas. Pressupõe-se que a expectativa da nossa fé em Cristo resultará em vida e obra alinhadas a Cristo. Nossa maneira de viver é um indicador do nosso relacionamento com Cristo e a manifestação disso em nossas vidas, caráter, decisões, interações com os outros, etc. é determinante nas recompensas que recebemos
Jesus ensinou ao dizer: Ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem destroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam. Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.[9] Quando praticamos nossa fé pela aplicação dos ensinamentos de Jesus, e agimos motivados pelo amor, em conformidade e obediência à Palavra de Deus, com a motivação certa, seremos recompensados no céu.
O fator “motivador”
Nossas motivações influenciam nas recompensas que recebemos, como mostra o Sermão da Montanha, quando Jesus ensinou que quem faz o que é certo pelo motivo errado já recebeu sua recompensa, indicando que não será recompensado na próxima vida.
Em vez de vermos as recompensas como “pagamento” pelas coisas que fizemos pelo Senhor nesta vida, talvez seria mais apropriado entender que são um reconhecimento do Senhor do nosso amor e da nossa obediência à Sua Palavra e de havermos vivido como Ele nos ensinou. Jesus disse: “Se Me amais, guardareis os Meus mandamentos.”[10] Em outras palavras, vivemos nossas vidas em conformidade com Seus ensinamentos porque O ama. A maneira como vivemos reflete nosso amor por Deus. Qualquer recompensa que Deus escolha nos conceder nesta vida ou na próxima não será por merecimento obtido por meio de nossas obras, da mesma forma que não fazemos por merecer Seu amor e salvação. As recompensas são bênçãos que recebemos por vivermos movidos pelo amor que temos por Ele.
A maior recompensa é a bênção de ter um relacionamento com nosso Criador, o Deus de amor que nos salvou pelo sacrifício do Seu Filho — e temos essa bênção agora mesmo, nesta vida. A maior recompensa para os nós que cremos é termos o Senhor em nossas vidas.
Sem competição
O conceito de recompensas eternas em nada se relaciona com a competição ou o orgulho que isso pode produzir. Não trabalhamos arduamente pelo Senhor nesta vida para alcançarmos um status de celebridade no céu, enquanto os outros serão os criados em nossos palácios. Tampouco nos lamentaremos e nos contorceremos em dor se sentirmos que os prêmios que recebermos forem menores que os de outra pessoa.
A seguinte citação expressa bem esse conceito:
Apesar de esses [graus de recompensas] existirem, os que habitarem o céu serão glorificados e seus valores serão completamente diferentes dos que tinham na Terra. Em vez de inveja ou ciúme, haverá o louvor. Não será “Por que você recebeu mais recompensas que eu?” Mas o sentimento que prevalecerá será “É maravilhoso como você permitiu que o poder do Senhor opere em você”, ou “É impressionante a perseguição que você sofreu por amor ao Senhor.” Todos no céu entenderão que as recompensas, como a salvação, vêm da Graça de Deus e O louvarão por isso.[11]
Por sermos cristãos, nossas vidas devem ser centradas em Deus e devemos viver de forma a glorificar a Ele. As recompensas por vivermos dessa maneira serão dadas como um reconhecimento externo do amor e da obediência a Deus, manifestos na maneira como vivemos. Nosso amor pelo Senhor, a maneira como O servimos e nossas ações feitas para Sua glória se combinam para determinar as recompensas que receberemos no céu e, de algumas maneiras, nesta vida também. Não temos por meta as recompensas, mas amar Deus e vier para Ele. Sempre fazemos mais e melhor quando entendemos que o próprio Deus é nossa maior recompensa.
Publicado originalmente em agosto de 2014. Adaptado e republicado em janeiro de 2019.
[1] Romanos 14:10,12.
[2] 2 Coríntios 5:10 NAU.
[3] Romanos 8:1.
[4] Gálatas 4:4–7.
[5] James Leo Garrett Jr., Systematic Theology, Biblical, Historical, and Evangelical, Vol. 1 (N. Richland Hills: BIBAL Press, 2000), 858.
[6] 1 Coríntios 4:5 NAU.
[7] 1 Coríntios 3:11–15.
[8] 2 Coríntios 5:10 NVI.
[9] Mateus 6:20–21.
[10] João 14:15.
[11] T. D. Alexander and B. S. Rosner, eds., em New Dictionary of Biblical Theology (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2000).
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