Perspectivas sobre o Tempo
Compilação
Aqui está uma pergunta bem clichê: Como você viveria se soubesse que este é seu último dia na terra?
Esta pergunta aparece em centenas de livros, seminários e palestras motivacionais. Às vezes são usadas outras palavras, mas o conceito é o mesmo: “Viva cada dia como se fosse seu último dia.” Infelizmente, o que acontece com essas frases tantas vezes repetidas é que logo perdem seu significado.
De certa forma também é uma pergunta difícil de responder—pelo menos se você não estiver realmente morrendo nesse dia. Muitas pessoas dizem que usariam esse último dia para fazer algo bom. Elas reatariam laços com aqueles que lhes são importantes; fariam algo para ajudar a outros; retificariam um erro; perdoariam e pediriam perdão. Parece que muitos pensam nisso como um dia de redenção, um dia para acertar tudo o que deixaram de fazer ao longo de suas vidas.
Algo que podemos aprender e nos empenhar em fazer é viver de tal maneira que não precisemos de um último dia para endireitar as coisas. Jesus nos deu um exemplo disso durante os últimos dias da Sua vida. Ele estava ciente de que Seu tempo na terra estava chegando ao fim; Sua missão na terra estava quase cumprida e que logo seria traído e executado. Então, como Ele passou Suas últimas 24 horas?
Ele reservou tempo para ficar com os discípulos e ter uma refeição com eles. A maneira como deu boas vindas a cada um foi lavando seus pés — geralmente um trabalho dos servos mais humildes. Jesus mostrou a cada um dos discípulos grande amor e humildade ao Se rebaixar e lavar seus pés. Ele Se fez um servo.[1]
Ele foi traído, mas não retaliou. Foi maltratado, mas não perdeu a calma. As pessoas mais próximas a Ele Lhe viraram as costas, mas Ele não Se irou. Ele foi acusado falsamente e humilhado, mas ficou calado.[2]
Ele foi extremamente honesto. Ao ser levado perante os Seus juízes—primeiro no Sinédrio e depois Pilatos—estes Lhe perguntaram diretamente: “Você é o Filho de Deus?” Ele poderia ter Se poupado muita dor e angústia simplesmente encobrindo a verdade. Mas disse a verdade sem importar-Se com o que Lhe custaria.[3]
Ele perdoou. Depois de ser açoitado, zombado, cuspido e arrastado pelas ruas para ser pendurado numa cruz, Ele disse: “Pai, perdoa-lhes.” Ele poderia ter invocado fogo do céu e relâmpagos contra Seus atormentadores e os amaldiçoado por ferirem o Filho de Deus. Mas, em vez disso, Ele perdoou até aqueles que zombavam dEle e O insultavam.[4]
Ele foi atencioso. Apesar da agonia de estar pendurado na cruz, Ele tomou tempo para certificar-Se de que Sua mãe seria bem cuidada. Tomou tempo para ouvir o ladrão moribundo ao Seu lado e reconfortá-lo na hora da morte. Em vez de pensar em Si mesmo e em Sua dor, Ele pensou nos outros e em seu bem estar.
A maneira como Jesus passou Seu último dia na verdade não foi em nada diferente da maneira como viveu toda a Sua vida. Jesus viveu cada dia como se fosse o último, porque honestidade, humildade, amor, perdão e bondade eram parte integral da Sua natureza, e essas foram as qualidades que Ele retratou. Viver cada dia como se fosse o último significa despender seu tempo e energia em coisas importantes—que não vão desvanecer com o decorrer do tempo, mas que permanecerão por toda a eternidade.—Marie Story
O dom da perspectiva
Alguns dias atrás eu estava escutando Tim Timmons num programa de rádio. Ele é uma pessoa bem conhecida nos círculos da música cristã. Uns 10 anos atrás, ele descobriu que tinha um câncer incurável. Durante a entrevista, ele disse algo que me impressionou: “O dom que recebemos através de um câncer incurável, ou qualquer outro problema que enfrentamos, é o da perspectiva. E perspectiva é um dom que flui constantemente.”
Como é que um câncer daria o dom da perspectiva? Provavelmente porque revela o que é realmente importante e o que não é. Percebemos que o relógio da nossa vida está correndo mais rápido do que o da maioria das outras pessoas. Provavelmente a pergunta: “Será que isso é importante se eu só tiver mais um ano de vida?” está sempre no nosso pensamento.
A percepção de morte iminente deixa claro o que é realmente importante e o que não é. Coisas que pareciam importantes, como quanto dinheiro se ganha ou nosso grau de beleza, perdem rapidamente o seu valor, ao passo que outras, como com quem estamos ou o que estamos fazendo ganham muito mais importância. Mesmo fazendo um esforço para imaginar isso, eu sei que não consigo ter toda essa clareza de perspectiva que uma doença capaz de mudar nossa vida pode dar. Mas posso fazer o meu melhor para viver como se me restassem poucos dias de vida (que é verdade) e desfrutar ao máximo da vida e dos que me são queridos.
Quando eu preciso descobrir a perspectiva nas situações que enfrento, gosto de fazer a oração do rei Davi: “Desde o fim da terra clamo a ti, por estar abatido o meu coração; leva-me para a rocha que é mais alta do que eu.”[5]
Lá do topo da rocha, a nossa percepção ou perspectiva é bem diferente. Ter uma nova perspectiva é algo que se pode pedir ao Senhor, exatamente como Davi fez. Até mesmo com uma nova perspectiva, haverá coisas que não percebemos ou entendemos completamente. Talvez ainda vejamos por “espelho obscuro” durante a nossa vida na terra.[6] Mas temos a promessa de que um dia entenderemos perfeitamente e saberemos, assim como somos completamente conhecidos de Deus. Então tudo fará sentido perfeitamente.—Mara Hodler
É uma questão de tempo
Recentemente, assisti ao filme Questão de Tempo. Na trama, os homens de uma certa família podem voltar no tempo para corrigir erros ou relembrar diferentes momentos de suas vidas. Todos nós entendemos que voltar no tempo pode ser vantajoso de alguma forma. Podemos retificar erros, alterar uma decisão ou voltarmos atrás quando dissermos ou fizermos algo estranho ou inconveniente.
Infelizmente, não temos essa capacidade. Temos apenas uma chance de viver uma dia de cada vez, e às vezes nos esquecemos que cada dia tem um valor inestimável. Muitas vezes permitimos que os problemas diários e o estresse atrapalhem as bênçãos maravilhosas que temos — amizades, família, experiências e o fato de estarmos criando memórias cada dia, as quais podemos guardar para sempre.
O que valorizamos muitas vezes também é uma questão de perspectiva. Muitas vezes não apreciamos algo quando está sempre disponível ou quando temos em abundância, e podemos aplicar esse conceito ao tempo. Muitas vezes, é apenas quando o trabalho ou a vida sobrecarregam nossa agenda, ou quando doenças ou acidentes ameaçam tirá-la completamente, que prestamos mais atenção ao quão precioso nosso tempo é aqui.
O Salmo 90:12 diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria.”
No filme Questão de Tempo, o pai aconselha o filho a viver cada dia duas vezes. Ele sugere que viva pela primeira vez com toda a tensão e preocupações que o impedem de perceber quão ameno o mundo pode ser, e na segunda vez pare e observe — para amar as pessoas ao seu redor e desfrutar de todas as coisas belas. Infelizmente não temos o luxo de viajar no tempo, mas podemos nos esforçar para viver cada dia ao máximo na primeira vez, observando tudo de maravilhoso que nos oferece e a bondade de Deus para conosco.
Na Bíblia, Jesus contou uma breve história sobre um tolo rico que acumulou toda a sua riqueza em celeiros. Quando seus bens não cabiam mais nos celeiros, ele decidiu construir celeiros maiores para armazenar tudo que possuía. Deus não ficou positivamente impressionado; disse-lhe que naquela mesma noite ele morreria e perguntou-lhe a quem todas essas coisas pertenceriam após a sua morte.[7] O que ele poderia levar consigo de todas as coisas que egoisticamente escondera dos outros e de Deus? Nada!
Isso me lembra uma piada moderna sobre outro rico tolo: Este viveu para ganhar dinheiro, e ganhou tanto que implorou a Deus que o deixasse levar parte dele para o céu. Deus riu de sua tolice, mas decidiu conceder-lhe seu desejo e deixá-lo escolher uma coisa valiosa para levar consigo. O rico decidiu que iria vender toda a sua riqueza e comprar barras de ouro, que tinham o valor mais alto, e levá-las consigo. Satisfeito, chegou às portas do céu, onde São Pedro o cumprimentou e perguntou o que havia em sua mala muito pesada. O rico explicou o acordo que fizera com Deus. Curioso, Pedro perguntou o que ele havia escolhido trazer, pois devia ser muito especial! O rico orgulhosamente abriu a mala e lhe mostrou as reluzentes barras ouro. Surpreso, Pedro exclamou: “Você trouxe parte de uma calçada?”
Ruas de ouro à parte, este é um bom lembrete do que realmente importa no final das contas. Como disse Madre Teresa: “Ontem se foi. O amanhã ainda não chegou. Temos apenas hoje. Comecemos.”—Nina Kole
Publicado no Âncora em abril de 2021.
[1] João 13:5.
[2] Lucas 22:45–71.
[3] Lucas 22:66–71.
[4] Lucas 23:34.
[5] Salmo 61:2.
[6] 1 Coríntios 13:12.
[7] Lucas 12:16–21.
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