Justiça Segundo a Bíblia
Sally García
Este ano, “justiça” é uma palavra usada constantemente nas colunas dos jornais e nos noticiários na televisão. Ouvimos as pessoas clamarem por justiça, mas também ouvimos uma mistura confusa do seu significado.
O que alguns consideram justiça, outros podem considerar algo desproporcional ou impossível de ser cumprido. Você pode exigir justiça por algo que aconteceu há muito tempo? Processos judiciais multimilionários irão curar uma injustiça feita? Justiça às vezes é usada como sinônimo de vingança?
E quando e onde devemos tomar uma posição como cristãos? Porque há muitos “erros” a serem “corrigidos” neste mundo! O cristianismo tem desempenhado um papel ativo na ajuda aos feridos, famintos e oprimidos desde seu início. Mas por onde começamos, e como sabemos quais são as causas que devemos abraçar?
Estas têm sido as perguntas que têm voltado para mim enquanto percorro minha conta no Facebook, onde tenho desde amigos de infância até o presente momento, além de conhecidos e membros da minha família pessoal que—quando postos todos juntos—têm visões do mundo que cobrem toda a gama de opiniões na rede. Além disso, leio o jornal e as mesmas perguntas surgem, especialmente depois de ler as páginas de opinião.
Então, como definir corretamente “justiça” e como e quando “lutamos por ela”? A abrangência deste tópico excede o escopo desta postagem, mas aqui estão algumas conclusões após o estudo da questão. Foi bom vasculhar a Bíblia para encontrar o terreno sólido de que eu precisava para ter uma compreensão mais clara do assunto. Estas são algumas das coisas que fazem sentido para mim. Até agora, encontrei na Bíblia mais referências sobre minha necessidade de agir com justiça do que minha necessidade de clamar por justiça—a menos que seja um apelo ao Juiz Divino para administrar a Sua justiça de acordo com Sua perspectiva onisciente.
Na minha visão, a justiça segundo a Bíblia encontra-se nesses principais preceitos:
- Todos os serem humanos são feitos à imagem e semelhança de Deus; somos Suas criaturas divinas.
- Nossa responsabilidade é sermos justos, imparciais e honestos no que fazemos.
- No final das contas, o juízo pertence a Deus, que conhece e vê todas as coisas.
Qual é o nosso papel? Quais são nossas obrigações sociais?
- Vivermos com justiça segundo os Seus preceitos.
- Lidarmos com os outros com justiça em tudo o que fazemos.
- Sermos Seus instrumentos na terra onde quer que possamos ajudar os que precisam de nossa ajuda.
Fazer todo o bem possível, de todas as maneiras possíveis, a todas as almas que pudermos, onde pudermos, sempre que pudermos, com todo o zelo que pudermos, enquanto pudermos.[1]
Um blog cristão faz a seguinte colocação:
Justiça, na sua forma mais simples, significa retificar as coisas. Contudo, como vamos saber o que é certo? Quem define o que é “certo”? É a sociedade em geral ou a cultura na qual vivemos? Existem leis morais que sabemos no íntimo que devemos seguir? ...Ao observarmos a vida de Jesus e o mandamento dado ao longo das Escrituras, fica claro que os seguidores de Cristo são chamados a “agir com justiça”. Somos chamados a agir e confrontar o mal, cuidar dos vulneráveis, e retificar aquilo que está errado. Este mandamento não é nada novo. Não é uma moda cultural ou uma mera tendência na sociedade atual. Ao longo do Antigo e do Novo Testamento, nosso chamado para agirmos com justiça é claro.[2]
Com tantas “questões” sendo lançadas por aí, é importante reservarmos o tempo necessário para analisarmos cuidadosamente o que endossamos e o que condenamos. Estamos sendo usados para promover a agenda de outra pessoa? Qual é a fonte de tal campanha? Qual é a sua origem? Como o slogan se coloca segundo os preceitos da Bíblia e especialmente os ensinamentos de Jesus? Ele conhece a nossa motivação e quer que amemos os outros, não porque somos constrangidos a reagir nem porque é a última causa nas manchetes, mas porque sentimos o Espírito de Deus falar ao nosso coração.
Não sejam parciais no julgamento! Atendam tanto o pequeno como o grande. Não se deixem intimidar por ninguém, pois o veredicto pertence a Deus.[3]
Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.[4]
Aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva.[5]
O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?[6]
Jesus liderou o caminho, mostrando-nos o espírito dos preceitos do Antigo Testamento. Ele era um amigo para todos os que O buscavam com o coração aberto. O gênero, a posição social ou a reputação não Lhe importavam. Ele viu além de tudo isso e olhou diretamente para dentro da alma das pessoas. Com amor, Ele desafiou radicalmente as convenções a fim de curar e confortar aqueles que O buscavam. Através do exemplo de Jesus e de Seus seguidores, aprendemos a fazer o mesmo.
Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus.[7] Pois em Deus não há parcialidade.[8]
Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.[9]
O seguinte trecho de um artigo de Timothy Keller explica em detalhes as palavras originais em hebraico e grego usadas para justiça:
A palavra hebraica para “justiça,” mishpat, … no seu significado mais básico quer dizer tratar as pessoas com equidade. Significa absolver ou punir cada pessoa segundo os méritos do caso, independentemente de raça ou status social. Qualquer pessoa que cometa o mesmo erro deve receber a mesma penalidade. Significa também dar às pessoas seus direitos. Mishpat descreve o cuidado e a causa das viúvas, órfãos, imigrantes e pobres—aqueles anteriormente chamados de "o quarteto dos vulneráveis". Nas sociedades agrárias pré-modernas, estes quatro grupos não tinham poder social. Eles viviam em nível de subsistência e estavam a apenas dias de passar fome se houvesse escassez de alimentos, invasão ou mesmo um pequeno conflito social. O mishpat, ou justeza, de uma sociedade, segundo a Bíblia, é avaliado pela forma como ela trata esses grupos. ... É isso que significa “agir com justiça.”
Temos mais discernimento quando consideramos uma segunda palavra hebraica que pode ser traduzida como “ser justo”, embora geralmente seja traduzida como “ter retidão”. A palavra é tzadeqah, e se refere a uma vida de relacionamentos corretos. Tzadeqah refere-se à vida cotidiana na qual uma pessoa conduz todas as relações na família e na sociedade com justiça, generosidade e equidade.
Estas duas palavras correspondem aproximadamente ao que alguns chamaram de “justiça primária” e “retificadora”. Justiça retificadora é mishpat. Significa punir os malfeitores e cuidar das vítimas e injustiçados. Justiça primária, ou tzadeqah, é um comportamento que, se prevalecesse no mundo, tornaria desnecessária a justiça retificadora, pois todos teriam relações corretas com todos os outros.
Se você tenta levar uma vida de acordo com a Bíblia, o conceito e o chamado à justiça são inevitáveis. —Fazemos justiça quando damos a todos os seres humanos o que lhes é devido como criações de Deus.[10]
Então, como isso se aplica a mim, e como filtrar as notícias, páginas de opinião e comentários do Facebook que vejo? Como sei quais são as causas a que devo aderir? Como ser consequente em minhas crenças e ações? Em vez de pegar carona na última onda, preciso fazer as pesquisas necessárias e pedir orientação e discernimento através da Palavra de Deus e do Espírito Santo.
E em meu pequeno canto do mundo, oro para que eu possa ser uma força para o bem e ser fiel em dividir o que Ele me deu—quer sejam bênçãos espirituais, quer materiais. Todos os meus estudos me levaram de volta ao início—a Lei do Amor que resumiu e simplificou todos os livros dos profetas e a lei:
Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo.[11]
Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá.[12] Façam tudo com amor.[13] Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei.[14]
O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.[15]
Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus.[16]
[1] Atribuído a John Wesley.
[2] Christine Erickson, https://sharedhope.org/2018/06/04/biblical-justice-and-social-justice.
[3] Deuteronômio 1:17 NVI.
[4] 2 Coríntios 9:7 NVI.
[5] Isaías 1:17 NVI.
[6] Isaías 58:6–7 NVI.
[7] Gálatas 3:28 NVI.
[8] Romanos 2:11 NVI.
[9] 1 João 4:7–8 NVI.
[10] https://relevantmagazine.com/god/practical-faith/what-biblical-justice.
[11] Mateus 22:37–39 NVI.
[12] 1 Coríntios 13:3 NVI.
[13] 1 Coríntios 16:14 NVI.
[14] Romanos 13:8 NVI.
[15] Mateus 25:40 NVI.
[16] Miquéias 6:8 NVI.
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