Influência de Longo Prazo
Li Lian
Durante uma viagem missionária, conversando com um obreiro, ouvi as questões perturbadoras que enfrenta regularmente no local de trabalho e na vizinhança. Lamentou-se especificamente do fato de que sempre encontra resistência quando tenta efetuar alguma mudança positiva no seu ambiente.
Tentou várias vezes orientar outros na direção certa, dos valores espirituais e de Deus, mas muitos estão tão envolvidos em suas buscas pessoais por poder, posição, prazer e popularidade que não dão atenção ao que ele diz.
Chegou a tal ponto que ele sentiu que era inútil continuar tentando guiar as pessoas no caminho do discipulado. Depois de ouvir que alguns conhecidos tinham se envolvido em negócios escusos que lhes renderam grandes lucros, ele começou a se perguntar de que adiantava defender suas convicções sendo que todos ao seu redor estavam preocupados apenas em cuidar de suas próprias vidas e ganhos financeiros.
Depois de ouvi-lo um pouco, mencionei uma história que ele conhece bem, sobre Mary Slessor[1], que viveu perto da cidade onde ele nasceu.
Ela também enfrentou desafios imensos quando chegou ao seu posto missionário em Calabar, na costa da África Ocidental. Na época, a cultura local era de embriaguês, superstição, lutas tribais, canibalismo, sacrifício humano e feitiçaria.
Uma das piores práticas das quais Mary tomou conhecimento foi a matança sistemática de gêmeos devido à superstição do povo. Ter dois bebês não é algo corriqueiro, portanto, na sua maneira de ver, um deles tinha que ter sido concebido pelo demônio. Como não podiam determinar qual era do pai biológico e qual era do demônio, ambos deveriam ser mortos para proteger a família de qualquer mal. Em muitos casos, a mãe também era banida do convívio, acusada de ser a culpada pela concepção de gêmeos.
Horrorizada com tal prática, Mary tomou uma atitude. Sua decisão foi simples, como ela própria disse: “Este povo… precisa mudar seus caminhos. Acho melhor eu ir lá falar com eles.”
No início as pessoas resistiram, pois muitos anciãos da vila se preocupavam que deixar gêmeos viverem acarretaria em uma terrível maldição a todos. Mary tentou argumentar com eles; às vezes ouviam, outras vezes estavam embriagados demais ou de tal maneira envolvidos nos conflitos entre tribos e disputas violentas que não davam atenção à sua mensagem.
Apesar dos desafios, ela continuou sua obra e não hesitou em corrigir as coisas erradas que presenciava no dia a dia, mesmo correndo risco de vida. A sua firmeza de caráter provou ao povo que ela era séria em relação à sua missão e propósito, de maneira que eventualmente conquistou seu respeito e em muitas ocasiões era chamada para mediar suas disputas.
No final, o povo nativo deixou seus costumes nocivos depois que Mary adotou gêmeos abandonados pelos pais (e posteriormente outras crianças na mesma condição). Entenderam que seus ensinamentos eram verdadeiros e, pelo seu exemplo, o povo compreendeu o valor da vida humana e que os bebês (inclusive gêmeos) são uma dádiva especial de Deus.
Agora, cem anos depois, o efeito do seu trabalho é extraordinário. Em toda a Nigéria os gêmeos são considerados uma bênção. É comum mulheres recém-casadas pedirem oração para terem gêmeos. Eu conheço uma mãe nigeriana que teve gêmeos e eles são a sensação da família. Imaginar o que poderia ter acontecido com eles se tivessem nascido cem anos antes nos faz parar e refletir.
Essa mudança dramática foi resultado do trabalho de uma mulher, cujo esforço e persistência em defender o que era certo gerou um impacto de longo prazo que afetou a vida de milhares de pessoas. Pense nisso. Era praticamente impossível uma pessoa transformar uma cultura para o bem, mas foi o que ela fez. Muitas gerações de gêmeos na Nigéria hoje são eternamente gratas pela ação positiva de uma única pessoa.
É difícil ir contra a corrente, mas perseverar em nossas crenças e convicções e fazer o certo gera um impacto duradouro no mundo. Quem pode imaginar todas as vidas e almas que serão salvas por causa de nossos atos!
[1] Mary Mitchell Slessor (2 de dezembro de 1848 – 13 de janeiro de 1915), foi uma missionária presbiteriana escocesa na Nigéria. Ao chegar ao país, aprendeu a falar Efik, a língua local, e começou a ensinar o povo. A sua compreensão da língua nativa, juntamente com sua ousadia, conquistou a confiança e aceitação do povo e lhe proporcionou a disseminação do cristianismo, a conscientização dos direitos das mulheres e a proteção das crianças nativas. Ela é famosa por ter colocado fim à prática do infanticídio de gêmeos na tribo Ibibio, uma etnia no sudeste da Nigéria. (Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Mary_Slessor.)
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