Escolher Acreditar
Compilação
“Se você é o Cristo, diga-nos, disseram eles. Jesus respondeu: Se eu vos disser, não crereis em mim.”—Lucas 22:67[1]
Ninguém pode obrigar outrem a acreditar em seja o que for. Cada um de nós escolhe acreditar em algo com base na nossa avaliação da evidência apresentada. Fé e crença têm diferentes sentidos, mas no Novo Testamento a mesma palavra em grego é apresentada de diferentes formas. Acreditar é o verbo, e fé é o substantivo. (Como pensar e pensamento.)
João 20:25: “Os outros discípulos lhe disseram: Vimos o Senhor! Mas ele lhes disse: Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei.”[2]
Observe que Tomé disse: “EU NÃO crerei”.
Muitos pensam que a evidência de milagres gera fé. Mas os únicos que acreditam por terem visto milagres são os que escolheram aceitar o milagre como evidência para crerem. É sempre uma escolha. “Mesmo depois que Jesus fez todos aqueles sinais miraculosos, não creram nele.”[3]
Eu costumava pensar que era difícil definir a fé com exatidão — como se fosse uma sensação ou estado de espírito. Mas agora entendo que, após tomarmos a decisão de crer, estamos na fé, independentemente dos sentimentos. No fundo, ter fé é sempre uma decisão. Não se pode obrigar alguém a acreditar em algo. A escolha é pessoal.
Contudo, não é possível acreditar ou ter fé em algo se não houver evidência. Devemos ter evidência convincente para acreditarmos em algo. A Palavra é a evidência principal que Deus nos deu para a fé nEle. Deus não mente. Podemos confiar em Deus. Tudo o que Ele diz sempre acontece. Por isso, se alguém diz que não tem muita fé, a solução é observar a evidência existente na Palavra de Deus a respeito do assunto, e então escolher aceitar que o que Deus disse é verdade. Fazendo isso, terá fé. Em um primeiro momento, talvez não exista sensação alguma, mas existirá a fé.
A ação principal da fé em Deus é falar de acordo com a Sua Palavra. Jesus disse que, se tivermos fé, confessaremos, ou seja, vamos expressar por meio de palavras aquilo em que acreditamos. E então assumir uma posição de fé, não importam os sentimentos ou as circunstâncias.—aDevotion.org[4]
Adoração com base na razão
Na Bíblia, “coração” não equivale apenas a emoções como se pensa atualmente. No pensamento bíblico, o “coração” é o centro da personalidade humana, e a palavra geralmente é usada de maneira a enfatizar o intelecto acima das emoções. Por isso o pedido em Provérbios 23:26: “Dá-me, filho meu, o teu coração” muitas vezes é interpretado como um apelo por nosso amor e devoção, quando, na realidade, é mais um apelo por concentração — não consagração. Isso fica evidente no livro dos Provérbios, onde lemos que deveríamos “inclinar o coração ao entendimento” e “ter sabedoria”.[5]
No Novo Testamento também encontramos passagens nas quais “coração” significa principalmente a “mente”. A conversão de Lídia, por exemplo, que vendia púrpura em Filipo. Lucas a descreveu da seguinte maneira: “O Senhor abriu seu coração para atender à mensagem de Paulo”.[6] Em outras palavras, abriu o seu entendimento para compreender e aceitar o Evangelho.
Logicamente, o coração envolve mais do que a mente. Mas não envolve menos. Portanto, a adoração no coração é um culto racional. Amar a Deus de todo o coração engloba amá-lO com todo o nosso entendimento.
Isso nos leva a afirmar o primeiro princípio básico da adoração cristã, que é conhecer a Deus antes de Lhe prestar culto. É verdade que Paulo encontrou um altar em Atenas dedicado ao “DEUS DESCONHECIDO”. Mas reconheceu tratar-se de uma contradição, visto ser impossível adorar a um deus desconhecido. Se é desconhecido, o tipo de culto que deseja será igualmente desconhecido. Por isso, Paulo disse aos filósofos que “o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio”.[7]
Esse mesmo princípio fica claro na conversa de Cristo com a samaritana junto ao poço de Jacó… Os samaritanos aceitavam o Pentateuco, mas rejeitavam a revelação dada por Deus acerca de Si mesmo por meio dos profetas. Sendo assim, o conhecimento que os samaritanos tinham de Deus era incompleto, pois tinham a lei sem os profetas. Foi a isso que Jesus Se referiu na conversa com a mulher junto ao poço: “Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem; nós [no caso os judeus] adoramos o que conhecemos, pois a salvação [o Messias prometido] vem dos judeus. No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em… verdade”.[8] A “verdadeira adoração” é “adoração em verdade”, adorar o Deus Pai por fim plenamente revelado em Seu Filho Jesus Cristo.—John Stott[9]
Confiança, aceitação e compromisso
Acreditar em Deus não é o mesmo que acreditar em Sua existência ou que existe algo como Deus. Acreditar que Deus existe é simplesmente aceitar uma proposta, por assim dizer – uma proposta na existência de um ser que existe desde a eternidade, é onipotente, totalmente sábio, perfeitamente justo, que criou o mundo e ama as criaturas que criou. Acreditar em Deus, porém, é outra história. No início do credo dos apóstolos diz: “Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, criador do Céu e da terra”. A pessoa que repete essas palavras de coração não está apenas afirmando aceitar a veracidade de uma proposta; engloba muito mais. Acreditar em Deus significa confiar em Deus, aceitá-lO, entregar a Ele a sua vida.
O crente vê o mundo de uma forma diferente. O céu azul, os bosques verdejantes, as montanhas grandiosas, os mares em movimento, amigos e família, o amor em suas variadas formas e manifestações, para o crente, são dádivas recebidas de Deus. A sua relação com o universo é pessoal; a verdade fundamental sobre a realidade é a verdade sobre uma Pessoa. Por isso, acreditar em Deus vai além de aceitar a proposta de que Deus existe. Uma mínima parte envolve isso. Não é possível acreditar em Deus e Lhe agradecer pelas montanhas sem acreditar que existe alguém a quem se deve agradecer, e que Ele é em parte responsável pela existência das montanhas. Não é possível confiar em Deus e se entregar a Ele sem acreditar que Ele existe. “Quem se aproxima de Deus precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.”[10]—Alvin Plantinga
Fé crescente
A fé surge e aumenta conforme se ouve a Palavra de Deus. Não é algo súbito. “A fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus.”[11] Essa é a lei da fé.
Mas muitas vezes falta-nos fé por ignorância! A fé é edificada por meio da Palavra. Leia a palavra em oração e peça a Deus para fortalecer a sua fé. Ele sempre atende ao coração faminto. A Sua Palavra lhe dará fé para isso.
Deus não só é capaz, mas quer lhe dar fé! Quando o pobre leproso aproximou-se de Jesus e disse: “Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo”, as Escrituras dizem que “Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. E logo ficou purificado da lepra”.[12] Deus está mais disposto a dar do que nós a receber.
Ele pede apenas que O honremos com fé, acreditando na Sua Palavra e confiando nas Suas promessas. “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.”[13] Confie no Senhor. “Não ficou sem cumprimento nem uma de todas as boas promessas que ele fez.”[14]—David Brandt Berg
Publicado no Âncora em novembro de 2017.
[1] RC.
[2] RC.
[3] João 12:37 NVI.
[4] http://adevotion.org/archive/faith-is-a-choice.
[5] Por exemplo, Provérbios 2:2; 23:15.
[6] Atos 16:14 NVI.
[7] Atos 17:23 NVI.
[8] João 4:22–23 RC.
[9] John Stott, Christ in Conflict: Lessons from Jesus and His Controversies (InterVarsity Press, 2013).
[10] Hebreus 11:6 NVI.
[11] Romanos 10:17 RC.
[12] Mateus 8:2–3.
[13] Hebreus 11:6 NVI.
[14] 1 Reis 8:56 NVI.
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