Escavando mais Baixo e Profundo: Um Conto sobre Mordomia
Paul Miller
Crescer no alto de uma montanha era garantia de florestas para explorar, mas para encontrar água eu tinha que descer. Depois de uma chuva de primavera, eu seguia o escoamento da água e me deparava com um riacho, onde então encontrava cachoeiras e piscinas. Mais abaixo ainda, notava como o volume de água aumentava, criando correntezas e paredões ao longo das margens, como uma garganta formada pelo tempo, até começar a ficar mais largo e correr mais devagar e tranquilamente.
Não era nada muito grandioso lá onde eu morava, mas a passagem do tempo era evidente.
Vocação é assim também. Às vezes nosso trabalho caminha rápido e é emocionante. Cachoeiras e correntezas. A maior parte do tempo é lento, como as águas buscando onde escoarem, com um pequeno efeito notável, escavando cada vez mais baixo e profundo.
Minha própria trajetória profissional serve de exemplo. Antes de me formar na faculdade ponderei se deveria ir para casa e arrumar um emprego ou seguir alguns dos meus colegas em um ministério no campus. Escolhi a segunda opção. Não fazia muita ideia do que era, ou por que estava seguindo por aquela estrada, mas, tal como o riacho, parecia ser o caminho de menor resistência.
Depois de cinco anos no ministério no campus a tempo integral (e mais desafios do que pude antecipar), servi de várias formas, inclusive como capelão na equipe Ultimate Frisbee, como o cara da tecnologia na igreja, filósofo, conselheiro leigo, amigo, chefe de construção e líder de adoração. Tudo isso me levou ao seminário? Não, fui a um acampamento e então soube que minha vida tinha sido mudada para sempre.
Os altos e baixos da mordomia
Pesquisar maneiras de transformar uma viagem de acampamento em carreira de liderança ao ar livre foi a princípio desanimador. A escalada profissional não é muito grande, e muita gente acha que dirigir um programa universitário ao ar livre é uma espécie de conselheiro de acampamento glorificado (na verdade um alto chamado; pense nos inúmeros jovens que são abençoados por um conselheiro de acampamento).
Mas foi isso que fiz. Apesar de meus amigos e familiares me chamarem de maluco, minha esposa e eu e nosso neném de três meses nos mudamos para o outro lado do país para eu frequentar uma faculdade de um assunto que poucas pessoas que gostam de ar livre estudam: Administração Universitária. Eu queria desenvolver tanto no campo do meio ambiente natural quanto acadêmico, no qual eu esperava servir. Dois anos de aventura depois, fiz o que havia determinado fazer; tornei-me diretor de um programa.
Este trabalho me permite a oportunidade de conectar estudantes universitários urbanos com a natureza e uns com os outros de maneiras significativas. Eu lhes mostro como essas conexões podem nos levar a cuidar ou prejudicar. Mas apesar do programa ter crescido substancialmente, a empolgação já está passando. Sinto falta das aspirações que tinha antes de ir para a faculdade. O rio está correndo mais devagar e começou a formar piscinas.
Por exemplo, parte da liderança ao ar livre é praticar e ensinar a Não Deixar Rastros. Quando fiz isto pela primeira vez, estava muito ciente das minhas ações, como pisar com cuidado para não esmagar uma samambaia. Treze anos depois, me preocupo ainda mais com esse conceito, mas isso é muito menos divertido agora. Foram-se os dias quando eu me orgulhava por caminhar em linhas tortuosas sem deixar pistas—uma prática usada para evitar deixar uma trilha que outros pudessem seguir. Eu já não fico muito entusiasmado com a necessidade de beber a água do enxague da louça no acampamento—uma prática (definitivamente nojenta) que evita que os animais fiquem dependentes de partículas de alimentos prontos que, de outra forma, teriam ficado para trás. Agora eu só quero chegar ao meu destino com o mínimo de energia possível.
As formas criadas por Deus
Permanecer paciente quando nossa cultura nos diz para conquistar avanços emocionantes é difícil. Nossas instituições e colegas nos dizem: “Viva em alto e bom som!” “Siga sonhos ambiciosos!” “Continue rumo ao sucesso financeiro!” Sou tentado por essas metas. Para mim, é um PhD, para você talvez seja algo diferente. Mas temos a mesma escolha a fazer: poder, prazer e prestígio; ou fidelidade a Deus, não importa o que aconteça. Ao decidirmos permanecer quietos, temos o mesmo potencial de crescimento de quando estamos correndo livremente e rápido—só que de forma diferente.
Água é uma metáfora tão apropriada. Muitos buscam a emoção das cachoeiras e das correntezas. Mas e se você se encontrasse no meio de uma piscina tranquila? Quando a vida e o trabalho são monótonos, sou facilmente tentado a buscar algo novo. Aí é quando tenho que dar meia volta e olhar para trás, rio acima. Olho para a rocha que permanece ali e pergunto, “Que formas as minhas decisões esculpiram? Onde causei erosão? Estou mais confortável durante as quedas emocionantes ou quando a água forma piscinas como agora?” Também olho para os riachos que fluem para o meu e como minha garganta está conectada a outras.
Encoraje-se pelas voltas e reviravoltas. Fique bem com o silêncio e a quietude. Deus é fiel quer corramos quer permaneçamos, porque ambas experiências nos moldam e às nossas comunidades. Ele está sempre operante, estabelecendo o Seu reino independentemente de onde nos encontramos em nossa jornada.
Escavando mais baixo e profundo.
De http://www.thehighcalling.org/young-professionals/carving-down-carving-deep-tale-stewardship, © 2001 - 2011 H. E. Butt Foundation. Todos os direitos reservados. Reimpresso com permissão de Laity Lodge and TheHighCalling.org. Artigo de Paul Miller.
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