Culto Racional
Peter Amsterdam
Durante um período em que andava mais atarefado do que o normal, fiz um ajuste de perspectiva que melhorou muito minha visão das coisas. Na época, eu tinha uma montanha de trabalho e estava muito cansado. Para ser sincero, estava praticamente exausto. Mas percebi: “Ora, o que eu esperava?” Estávamos cuidando de projetos de grande porte e o Senhor tinha confirmado que eram todos necessários na ocasião. Então, logicamente, tínhamos muito trabalho. O versículo que me veio foi: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo e santo, agradável a Deus, que é o vosso culto racional.”[1]
Vi, então, mais uma vez, que as muitas horas de trabalho, o cansaço e as decisões difíceis a ser tomadas faziam parte do meu culto racional,do apresentar-me como sacrifício vivo diante do Senhor. É o fator “morrer cada dia” ao qual Paulo se referiu em 1 Coríntios: “Morro todos os dias.”[2]
Comecei a pensar em alguns dos grandes homens e mulheres de Deus, nossos antepassados na fé e tudo o que suportaram e como se dedicaram. Temos batalhas e provações, que são difíceis e desgastantes. Enfrentamos situações desafiadoras, que nos impõem perdas, sacrifícios e nos custam muito pessoalmente. Tenho certeza de que todos já nos sentimos cansados a ponto de achar que não conseguiríamos continuar.
Pensar em tudo pelo que passaram alguns dos grandes homens e mulheres de Deus como Amy Carmichael, David Livingstone, William Carey, Hudson Taylor e muitos outros nos ajuda a ver as dificuldades da vida sob uma ótica diferente. Vários deles perderam filhos ou cônjuges no campo de missão, tinham problemas de saúde recorrentes, muitos se sentiam sós, alguns batalhavam contra depressão, ou trabalharam anos a fio sem ver muitos resultados.
Isso confirma que não estamos sozinhos. “Portanto nós também que estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que está proposta."[3] Essas pessoas tementes a Deus entendem e se identificam com muitas das coisas que enfrentamos cada dia, pois travaram muitas dessas batalhas espirituais e físicas.
Acho que é comum pensar nessas pessoas tão célebres e imaginar: “Mas não estou na mesma categoria.”Contudo, esses homens e mulheres tementes a Deus são parte da nossa “herança espiritual”.
Esses grandes homens e mulheres podem nos inspirar, e podemos aprender muito sobre suas atitudes e perspectivas da vida de serviço ao Senhor. Precisavam ter a visão celestial. Era o que lhes dava a fé para suportar os importantes sacrifícios, físicos e espirituais, necessários para realizarem a vontade do Senhor.
O versículo logo após “apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo” diz: “transformai-vos pela renovação do vosso entendimento.”[4] Ele se aplica muito bem à necessidade de uma perspectiva correta das dificuldades, dos sacrifícios que devemos fazer pelo Senhor e pelos outros. A perspectiva correta, realista e, ao mesmo tempo, positiva e de louvor, faz uma grande diferença.
Renovar a perspectiva e a alinhar à do Senhor literalmente transforma sua vida. Portanto, sempre que houver a tentação de achar que a vida é difícil demais,que as batalhas são duras demais, ou que não deveríamos trabalhar tanto, experimente ver por esse outro prisma os sacrifícios que tem feito, pois o ajudará a ter uma visão mais positiva.
Há muitos anos, quando eu ficava chateado com as coisas e reclamava disso e daquilo, minha esposa pregava o que eu denominava “sermão da prisão”. Ela dizia: “Se você acha que as coisas estão difíceis, imagine a vida daqueles missionários do passado que foram presos e passaram anos sofrendo. Se fizer essa comparação, vai ver que seus problemas não são tão graves assim.” Eu não gostava muito quando ela me dizia isso, mas —veja você—, depois de tantos anos, estou finalmente captando a mensagem.
Entender o que os outros enfrentaram, seus sacrifícios, a vida difícil que levaram, o impacto no mundo de sua coragem e perseverança – não na época, mas hoje, devido à postura de fé que assumiram –ajudou-me a colocar minha vida e trabalho na perspectiva certa. Na verdade, ajudou-me a encarar minhas tarefas com mais alegria, pois percebi que por meio do trabalho difícil e de fazer o que for preciso é que geramos progresso e conquistamos a vitória.
Quando trabalho duro ou as coisas são mais difíceis para mim, quando preciso dar um passo a mais e fazer tarefas que considero maçantes, estou prestando o meu “culto racional”, sendo o “sacrifício vivo”, do qual Paulo fala nesses versículos. Ligar uma coisa à outra muda minha maneira de ver o trabalho árduo e as dificuldades. Passo a ter uma visão muito mais positiva e, como resultado, uma atitude mais positiva.
O apóstolo Paulo com certeza sofreu muitas aflições e angústias durante o tempo em que serviu ao Senhor. Ele disse:
Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; em viagens, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; em trabalhos e fadiga, em vigílias, muitas vezes, em fome e sede, em jejum, muitas vezes, em frio e nudez. Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas.[5]
Apesar de tudo que Paulo viveu e suportou —as privações físicas, as batalhas e tribulações espirituais—, manteve-se focado na visão celestial.Houve momentos em que foi muito franco, com respeito às dificuldades: “Fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos”. Mas mesmo então, resumia a situação com uma declaração de louvor e fé: “O qual nos livrou…, e livrará; em quem esperamos que também nos livrará ainda.”[6]
Tenho certeza que o apóstolo precisou tomar a decisão consciente de ter uma atitude positiva,encarar com fé e louvor os sacrifícios e os custos de servir Jesus. Veja algumas outras coisas que ele disse.
Nada disso me abala, mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira…[7]
Também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo…[8]
Para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.[9]
Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?
Como está escrito: Por amor de Ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro.
Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou.
Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.[10]
Estou cheio de consolação e transbordante de gozo em todas as nossas tribulações.[11]
Ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.
Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente,
Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.[12]
E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte.[13]
Eu, de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas.[14]
Esses versículos são muito significativos. Realmente ajudam a dar uma nova perspectiva ao “culto racional” e ao “sacrifício vivo”. A nossa vida envolve muito trabalho árduo, certas dificuldades, luta espiritual e sacrifícios. Não deveríamos ficar surpresos nem perplexos quando essas coisas acontecem nem acharmos que indicam que algo está errado. É tudo parte do pacote.
Graças a Deus, nossa vida a serviço do Senhor não envolve apenas sacrifícios. E a maior parte do tempo nossa situação não é tão ruim assim. Temos bastante trabalho, dificuldades e obstáculos, mas se tivermos a atitude certa em relação a essas coisas, vamos ver que também temos muitas bênçãos e benefícios. Podemos louvar ao Senhor pela graça que nos dá quando precisamos trabalhar arduamente e fazer sacrifícios. Podemos fazer bom uso das Suas promessas na Palavra para conseguirmos enfrentar as provações com graça, sabendo que muitos grandes homens e mulheres de Deus antes de nós fizeram o mesmo pelo seu Senhor e Salvador. Estamos em boa companhia!
Publicado originalmente em novembro de 2008. Adaptado e republicado em março de 2013. Tradução: Hebe Rondon Flandoli. Revisão: Mário Sant’Ana.
[1] Romanos 12:1 NVI.
[2] 1 Coríntios 15:31.
[3] Hebreus 12:1.
[4] Romanos 12:2.
[5] 2 Coríntios 11:25–28 NVI.
[6] 2 Coríntios 1:8,10 NVI.
[7] Atos 20:24 RC.
[8] Romanos 5:3–5 RC.
[9] Romanos 8:18 RC.
[10] Romanos 8:35–39 RC.
[11] 2 Coríntios 7:4 RC.
[12] 2 Coríntios 4:16–18 RC.
[13] 2 Coríntios 12:9–10 RC.
[14] 2 Coríntios 12:15 RC.
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