Considerar Tudo como Perda
Compilação
“Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-Me.”—Jeremias 9:23–24
Se há um judeu que teria motivo para se gabar de ter o melhor currículo em termos de histórico familiar, educação e ocupação, este seria Paulo. Ele foi circuncidado no oitavo dia, era da tribo de Benjamin — um hebreu dos hebreus. Embora vivesse em Tarso e Selêucia, foi educado sob Gamaliel, um famoso professor judeu da época, e aprendeu a dominar a língua e as escrituras hebraicas. Ele estudou a lei e era um fariseu tão zeloso que perseguiu a igreja cristã.
Depois de afirmar todas as suas qualidades, Paulo nos diz: “Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo…”[1]. Vemos que a palavra que Paulo repete ao longo deste versículo é “perda”. Ele considera, com sobriedade, todas as suas credenciais e qualificações como perda e esterco.
Paulo desistiu de tudo para “ganhar a Cristo e ser encontrado nEle, não tendo uma justiça própria que procede da lei.”[2] O impressionante currículo de Paulo catalogou sua própria justiça, mas a justiça que vem de Deus não tem nada a ver com isso. Paulo nos lembra que nossa justiça vem “mediante a fé em Cristo”—a justiça que procede de Deus e se baseia na fé.[3] Não é uma justiça produzida, mas sim recebida.
Se o nosso relacionamento com Deus se baseia no que fizemos, alguns de nós teríamos vantagem sobre outros porque alguns são mais disciplinados e autoconfiantes do que outros. Mas o maravilhoso é que quanto mais fracos formos e quanto menos confiantes estivermos em nós mesmos, mais provável será que depositemos a nossa confiança exclusivamente em Deus e digamos: “Isto não é o que eu faço por Você, mas o que Você faz por mim”.
Não importa o quanto nosso currículo seja forte, a nossa justiça não deriva do que fazemos por Deus. Quando paramos de tentar nos justificar com nossas qualificações e começamos a crer pela fé que nossa justiça está em Cristo, mesmo quando consideramos tudo o que temos na vida perdas, ganhamos o tesouro mais precioso—o que encontramos nEle.—Brett McBride
O tesouro que transforma tesouros em lixo
Paulo ... não diz simplesmente que, comparado a Cristo, as conquistas da lei são lixo; ele é mais específico. Ele diz que superior às conquistas morais e religiosas é (1) conhecer a Cristo, (2) ganhar a Cristo, e (3) ser encontrado em Cristo.
1. Conhecer Cristo. “Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor.”[4] “Conhecimento” aqui não é apenas conhecer o fato de que Jesus é o Senhor. É o tipo de conhecimento que desencadeia a frase “meu Senhor”! Ele conhece o Senhor supremo do universo[5] como o seu Senhor. De modo que temos dois aspectos da paixão de Paulo por Cristo aqui. Um é o conhecimento racional e relacional da maior pessoa do universo. A mente e o coração de Paulo estão cheios de Cristo. O outro é que ele pertence a Cristo como alguém sujeito ao Senhor que tudo governa e que tudo protege. Isto é melhor do que estar no topo de qualquer escala humana.
2. Ganhar a Cristo. “Por cuja causa [de Cristo] perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo.”[6] “Ganhar” significa obter tudo o que Cristo é para nós no céu, não apenas na terra. Paulo já disse: “O viver é Cristo e o morrer é lucro,”[7], porque “partir e estar com Cristo, ... é muito melhor.”[8] ... Portanto, está claro que parte do que faz da realização humana uma pilha de lixo em comparação a Cristo é que logo (e muito em breve!) ele vai encontrar o rei—de uma forma muito mais plena e íntima, impressionante e satisfatória do que qualquer coisa que conheceu. E ele obteve tamanho conhecimento de Cristo que pode declarar que tudo o mais era esterco.
3. Ser encontrado em Cristo. “E ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé.”[9] Paulo ficou impressionado com o fato de que “em Cristo”—ou seja, unido a Cristo pela fé apenas—ele possuía uma justiça infinitamente melhor do que todas as suas realizações, segundo a lei, jamais poderiam ser. Paulo sabia que precisava de uma vida justa para ser aceito por Deus e para poder desfrutar para sempre de todas as glórias de Cristo. Ele não tinha tal justiça em si mesmo, precisava do dom gratuito de justiça do próprio Deus. E Deus lhe concedeu isso em Cristo.
Por um lado, Jesus Cristo era o tesouro que ele estimava e, por outro, Aquele que concedia o direito de possuir tal tesouro. ... Cristo é a base da nossa aceitação com Deus e o que almeja o nosso coração. Ele é a nossa justiça e a nossa recompensa. Comparado a ele (conhecê-lo, ganhá-lo, ser encontrado nele), tudo o mais é lixo.—John Piper[10]
As coisas eternas que importam
Nossa verdadeira cidadania não é da terra. A Palavra de Deus diz: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo”. Paulo dizia que todas as coisas não eram nada, ele as contava como perda! Não valiam nada em comparação com o que ele recebeu no Senhor Jesus Cristo. “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo ... Para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte.”[11]
Então Paulo continua e diz: “A nossa cidadania, porém, está nos céus.”[12] Nossa atitude como cidadão do céu é de nos desligarmos deste mundo, não nos apegarmos a ele. Não nos conformarmos com este mundo, embora estejamos bem informados em vários sentidos, mas devemos ser transformados pelo nosso viver pelas coisas eternas, na presença do Senhor Jesus Cristo e segundo a Sua Palavra.[13]
Devemos ter uma profunda compreensão de que estamos vivendo para a eternidade e não para o tempo. Nossa cidadania celestial nunca deve ser relegada a segundo plano. Nunca foi tão fácil preterir as questões espirituais; as coisas do tempo podem realmente consumir nossos pensamentos e energia. Não podemos nos entregar impensadamente ao que é temporário, porque seríamos derrotados mental e espiritualmente por todo o burburinho que nos cerca.
Se pudéssemos apenas ver os eventos da vida enquadrados nos resultados finais a que conduzem, que mudança haveria em nossas vidas e em nosso senso de valores! Deus nos ajude a manter clara a perspectiva divina e a não ficarmos tão ocupados com as coisas temporárias que não tenhamos tempo para as coisas eternas.
A Palavra de Deus diz em Colossenses: “Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus,” e “Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas.”[14] E Hebreus 13:14 diz: “Pois não temos aqui nenhuma cidade permanente, mas buscamos a que há de vir”.
Você consegue confiar que, no Senhor Jesus Cristo, você terá a Sua força, o Seu poder e a Sua sabedoria para desempenhar um papel ativo em Seu serviço e nos assuntos do reino celestial do qual você é verdadeiramente cidadão?—Virginia Brandt Berg
Publicado no Âncora em fevereiro de 2021.
[1] Filipenses 3:7–8 NVI.
[2] Filipenses 3:8–9 NVI.
[3] Filipenses 3:9 NVI.
[4] Filipenses 3:8 NVI.
[5] Ver Filipenses 2:9–11.
[6] Filipenses 3:8 NVI.
[7] Filipenses 1:21.
[8] Filipenses 1:23.
[9] Filipenses 3:9 NVI.
[10] https://www.desiringgod.org/articles/the-treasure-that-turns-treasures-to-garbage.
[11] Filipenses 3:8–10 ACF.
[12] Filipenses 3:20 NVI.
[13] Romanos 12:2.
[14] Colossenses 3:3, 2.
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