Como se Tornar um Herói
Compilação
Eu me lembro de ler O Esconderijo (a história de Corrie ten Boom, uma mulher que arriscou a vida para salvar judeus durante a Segunda Guerra Mundial) e de orar desesperadamente para que tivesse a coragem e o altruísmo de Corrie se um dia me encontrasse em situação que exigisse essas qualidades.
Como nos tornamos nesse tipo de pessoa? Jonathan Parnell compartilhou algumas reflexões sobre isto no Desiring God Blog, onde escreve sobre Jon Meis, um jovem que arriscou a vida para salvar um colega estudante durante o tiroteio na Universidade Seattle Pacific:
A pessoa que estaria disposta a colocar o bem dos outros antes do seu próprio em caso de uma grande perda é aquela que coloca o bem dos outros antes do seu próprio em centenas de pequenas perdas todos os dias. “Estamos sempre nos tornando”, como diz Joe Rigney, “quem seremos. Neste exato momento, estamos indo para algum lugar, e, mais cedo ou mais tarde, chegaremos lá”.
A pessoa capaz de fazer um grande sacrifício, portanto, é a mesma pessoa capaz de pequenos sacrifícios—a que descobriu que a vida de amor altruísta é a vida de maior alegria. A resposta do amor altruísta em situação de pânico é o fim de uma trajetória que se desenrola como amor e abnegação durante a normalidade...
O grande momento de uma ação corajosa não ocorre no vácuo, é consequência de todos os momentos de simples sacrifício que o conduzem nessa direção. Em outras palavras, se não podemos lavar pratos e trocar fraldas, não deveríamos nos enganar achando que teríamos condições de ficar sob a mira de uma arma de fogo. Se somos sovinas em relação ao nosso tempo e dinheiro para com os necessitados, seremos com nossas vidas quando alguém mirar uma arma contra pessoas inocentes.
Histórias com a de Jon deveriam nos fazer parar e perguntar se reagiríamos como ele. Mas a questão não é o que vamos fazer em uma determinada situação; mas sim o que estamos fazendo agora.
Não saberemos verdadeiramente quem nos tornaremos até sermos postos à prova. Até lá, oremos para o Espírito Santo nos capacitar a dar as nossas vidas a cada momento. “A pessoa que faz grandes sacrifícios é aquela capaz de pequenos sacrifícios.” Agora é a hora de praticarmos morrer — pelo Seu poder, olhando para Jesus, o autor e consumador da fé.
“Qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal; e qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.”[1]—Amy K. Hall[2]
O coração de um herói
Eu lembro de ter memorizado Hebreus 11 quando criança, o qual detalhava várias mortes horríveis: “Foram apedrejados; serrados pelo meio; mortos ao fio da espada. Andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra.”[3]
Isso me fez cogitar quão doloroso seria morrer. Sabendo que era bem medroso no que se refere a dor, tentei imaginar qual seria a forma menos dolorosa de morrer, e se tivesse que decidir, optaria por essa. Entendam que eu não queria de forma alguma envergonhar Deus sendo totalmente covarde.
Hoje posso olhar para os meus receios de criança e sorrir. Agora vejo que o x da questão era que eu sempre achei que tinha pouca coragem. A Bíblia relata inúmeras histórias de homens que fizeram coisas corajosas. Encontramos diversos desses atos de bravura em praticamente qualquer livro da Bíblia. Mais uma vez, Hebreus 11 nos dá uma lista de muitas dessas pessoas corajosas. “E que mais direi? Certamente me faltará o tempo para falar de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas, os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam a boca de leões, apagaram a força do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram forças, tornaram-se poderosos na batalha, puseram em fuga exércitos de estrangeiros.”[4]
Mas ao olhar para a lista de homens corajosos neste capítulo, as origens da palavra “coragem” assumem dimensões mais amplas: seu coração estava no lugar certo. Esses homens que realizaram feitos corajosos tinham algo maravilhoso em comum, que era a origem da sua coragem. No Salmo 37:31, o Rei Davi diz o seguinte sobre o justo: “Ele traz no coração a lei do seu Deus; não pisará em falso.”
E tem o famoso relato bíblico dos três rapazes hebreus que receberam ordens de adorar à estátua de ouro ou seriam jogados na fornalha. Mas ficaram firmes e disseram que não iam se prostrar diante da estátua. Provavelmente acharam que aquela resposta ao rei irado seriam suas últimas palavras:
“Rei Nabucodonosor, nós não precisamos responder a essa pergunta. Se o nosso Deus, a quem nós servimos, quiser nos livrar, ele nos livrará da grande fornalha e também das suas mãos, ó rei. Mas se Ele não quiser, mesmo assim, senhor, nós nunca serviremos os seus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que o senhor levantou.”[5]
Eu li esta passagem na segurança da minha casa, a milhares de anos de distância dessa cena, mas a intensidade do que eles acreditavam ainda reverbera nessas palavras; não denotam a mínima hesitação ou tentativa de negociar algo menos perigoso e fatal. Mas, para se ter a coragem de enfrentar uma experiência assim, acho que precisamos recuar um pouco no tempo. Vejam bem, eu não acho que seus pais alguma vez tenham dito para eles “Olhem, um dia vocês vão ser levados à presença de um rei assustador, vai ter uma fornalha, e vocês vão ter que escolher entre a vida ou adorarem a um ídolo. Quando isso acontecer, lembrem-se de escolher a fornalha.”
Em vez disso, acho que o que eles provavelmente disseram: “Amem o Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma e com todas as suas forças.”[6] E, “O nome do Senhor é uma torre forte; os justos correm para ela e estão seguros.”[7]
Duvido que os pais de Sadraque, Mesaque e Abednego soubessem o que os esperava, ou quando e como iriam precisar demonstrar sua coragem. Mas uma coisa eles sabiam que podiam controlar: o que estava armazenado no coração de seus filhos. Provérbios 4:23 explica esse conceito: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, pois dele procedem as saídas da vida.”[8] A Nova Tradução Internacional traduziu o mesmo versículo da seguinte forma: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida.”
Todo o mundo adora uma boa história de heróis. Eu gosto especialmente daquelas em que os caras bons usam capas e aquelas calças justas que parecem uma meia calça. A coisa é que, na vida real, não podemos escolher ter oportunidade para um momento heroico espetacular — salvar alguém ou de alguma forma salvar o dia — mas temos controle sobre o que colocamos no nosso coração. É assim que podemos estar preparados tanto para esses momentos heroicos como para os momentos comuns da vida que requerem coragem.—T. M.[9]
Publicado no Âncora em julho de 2017.
[1] Marcos 10:43–45.
[2] https://www.str.org/blog/how-to-become-a-hero#.WEsJl_krLIU.
[3] Hebreus 11:37–38 NVI.
[4] Hebreus 11:32–34 NVI.
[5] Daniel 3:16–18 Bíblia Viva.
[6] Deuteronômio 6:5 NVI.
[7] Provérbios 18:10.
[8] NVI.
[9] Just1Thing.
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