A Luz do Mundo
Peter Amsterdam
[The Light of the World]
No capítulo 8 de João, encontramos uma das declarações “Eu sou” de Jesus: “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8:12).
O entendimento do contexto de quando e onde Jesus fez essa declaração aumenta a clareza do seu significado. O oitavo capítulo de João começa com a história da mulher flagrada em adultério, e foi com esse pano de fundo que Jesus disse ser a luz do mundo. Para a maioria dos comentaristas, a história da mulher adúltera se desvia da narrativa do Evangelho. Se não lermos os primeiros onze versículos do capítulo, (a história da adúltera), então o décimo segundo parece uma continuação de João 7. Examinemos essa questão mais de perto:
O capítulo sete começa dizendo que Jesus estava na Galileia e que a Festa das Barracas estava próxima. (A festa é também conhecida como A Festa dos Tabernáculos e ainda é praticada pelos da fé judaica.) A Festa das Barracas é uma celebração de sete dias que ocorre em setembro ou no início de outubro. No fim do festival, há um oitavo dia de descanso, conforme o mandamento de Deus (Levítico 23:39, 42,43).
Jesus demorou-Se para ir a Jerusalém, para as festividades, e chegou de forma discreta. (João 7:10). Lemos que, “No meio da festa, subiu Jesus ao templo e ensinava” (João 7:14).
Seus ensinamentos causavam polêmica. Alguns que O ouviam entendiam ser Ele o Messias, enquanto outros O queriam preso. É nesse momento na história que uma mulher flagrada em adultério entra em cena, mas tão logo essa história termina, a narrativa volta à pregação de Jesus no festival, apesar de o texto não afirmar que Ele estivesse no festival, mas o sugerir.
Havia duas cerimônias associadas à Festa dos Tabernáculos nos dias de Jesus — o “derramamento da água” e a “iluminação do templo”. Cada dia do festival, os sacerdotes retiravam água do Tanque de Siloé e a traziam em procissão para o templo com o alegre som de trombetas, celebrando a provisão de Deus, quando Ele fez sair água da pedra no deserto, durante o êxodo de Israel.[1]
No capítulo sete lemos: “E, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, que venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isso disse ele do Espírito, que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado” (João 7:37-39). Quando Jesus falou sobre água viva nesse festival deu a entender que Se referia à procissão da água.
Outra parte do festival era a iluminação do templo. Durante o festival, em uma parte do complexo do templo chamada pátio das mulheres, quatro enormes castiçais dourados, cada um com quatro lamparinas, eram acesos na cerimônia da noite. Essa cerimônia celebrava a coluna de fogo que guiou os israelitas no deserto: “Durante o dia o Senhor ia adiante deles, numa coluna de nuvem, para guiá-los no caminho, e de noite, numa coluna de fogo, para iluminá-los, e assim podiam caminhar de dia e de noite (Êxodo 13:21).
Quando Jesus disse “Eu sou a luz do mundo” no capítulo oito, foi provavelmente nesse ambiente. No capítulo, a frase aparece sozinha, e deu origem a uma forte disputa entre Ele e os fariseus. Entretanto, João inclui várias outras referências a Jesus sendo a luz, especificamente no primeiro capítulo desse Evangelho: “Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens; e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo” (João 1:4,5, 9).
Mais à frente, neste Evangelho — quando a multidão perguntou a Jesus, “Como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem?” (João 12:34)—Jesus respondeu de uma maneira que o indicou como Ele sendo a luz:
“Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda está convosco por um pouco de tempo; andai enquanto tendes luz, para que as trevas vos não apanhem, pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Essas coisas disse Jesus; e, retirando-se, escondeu-se deles” (João 12:35,36).
A convocação para crer na luz é a mesma que se dá quando Jesus diz: “Crê em Mim”. Tornar-se filho da luz significa passar a pertencer a Deus. “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9).
Em João capítulo três, logo depois de dizer que Deus amou o mundo de tal maneira que enviara Seu Filho, Jesus refere-Se a Si mesmo como sendo a Luz:
“E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (João 3:19-21).
Os que não acreditam na Luz são condenados; os que acreditam, não — da mesma forma que Jesus dissera que os que creem no Filho de Deus “não perecem mas têm a vida eterna”, “quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (João 3:16,18). Crer na Luz é um requisito para a salvação, e essa Luz é Jesus.
No Livro de Isaías, ao falar da vinda da era do reino, é feita referência ao “Servo do Senhor” que seria como “luz dos gentios, para seres a minha salvação até as extremidades da terra”, e que “o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus a tua glória” (Isaías 49:6; 60:19).
Deus, que é a Luz e a fonte da luz, enviou Seu Filho, Jesus, a luz que veio ao mundo, para trazer vida. Quem seguir essa Luz “não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8:12). No Evangelho segundo Mateus, Jesus disse: “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5:14-16).
Jesus compara os que nEle creem como fontes de luz: uma cidade sobre um monte, um candelabro em um lugar elevado. Nossa luz reflete a de Cristo, a luz do mundo, a luz que veio para o mundo. Conforme caminharmos à Sua luz, refletiremos Cristo e seremos testemunhas para os outros. “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Coríntios 4:6).
Publicado originalmente em fevereiro de 2018. Adaptado e republicado em fevereiro de 2023.
[1] Leon Morris, The Gospel According to John (Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 1995), 372, 388.
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