Fundamentos Inabaláveis

Maio 23, 2014

Hannah Whitall Smith

“... do que pode ser abalado, isto é, coisas criadas, de forma que permaneça o que não pode ser abalado.”[1]

Imagino que todos nós concordamos que, para podermos nos sentir consolados e em paz, devemos nos firmar em fundamentos inabaláveis.

Existem ocasiões quando sentimos que a nossa fé está tão firme e irremovível quanto uma cordilheira de montanhas. Em algum momento tudo começa a ficar de pernas para o ar; nossos fundamentos se abalam e desmoronam. A vontade é de nos desesperarmos. Questionamos se vamos conseguir sequer perseverar na fé. Às vezes as mudanças ocorrem em circunstâncias externas, outras vezes é uma experiência interna. Se a nossa segurança é o fato de servirmos fielmente a Deus, muitas vezes o Senhor tem que retirar toda a força que nos capacita para a obra, ou todas as oportunidades, para a nossa alma poder se deslocar daquele local de falso repouso e ter apenas o Senhor em quem se apoiar.

Às vezes, nós nos apoiamos nas boas sensações ou emoções de uma vida piedosa, então a alma tem que ser privada desses elementos para poder aprender a se apoiar apenas em Deus.

Existem ocasiões quando ocorre uma reviravolta nas circunstâncias externas. Tudo parece firmemente estabelecido a ponto de nem cogitarmos um possível desastre. Nossa reputação está garantida, nosso trabalho próspero, nosso empenho rendeu sucesso além da nossa expectativa, e a nossa alma está descansada. A necessidade que sentimos por Deus corre o risco de se tornar algo isolado e vago. Então o Senhor tem que dar um basta. A nossa prosperidade desmorona como uma casa construída na areia, e o nosso primeiro pensamento é de que Deus está bravo conosco. Mas na realidade é amor, terno amor, e raiva. Jesus, no Seu amor, retira toda a prosperidade exterior que impede a nossa alma de fazer uma imersão no reino espiritual interior que tanto ansiamos.

Paulo declarou que contava todas as coisas perda para que pudesse ganhar a Cristo. Quando nós pudermos ecoar essas palavras, passaremos a possuir permanentemente a paz e alegria que o Evangelho nos promete.

Os antigos místicos ensinavam a doutrina do “desapegar”, significando que a alma devia se desapegar de tudo o que a afastasse de Deus. A razão por que ocorrem muitos desses “abalos” na nossa vida é justamente pela necessidade de nos desligarmos do mundo. Não é possível seguir plenamente a Deus se estamos presos a outras coisas, da mesma forma que um barco jamais chegará ao alto mar enquanto suas amarras estiverem no cais.

Para chegarmos à “cidade que tem fundamentos”, devemos sair como Abraão, deixar outras cidades e nos desligarmos de todas as amarras terrenas. Tudo na vida de Abraão que podia ser abalado passou por mudanças. Nós, como Abraão, procuramos uma cidade com fundamentos, cujo artífice e construtor é Deus. O Salmista aprendeu isso, e depois de muitos abalos na sua vida, afirmou: “Descanse somente em Deus, ó minha alma; dele vem a minha esperança. Somente ele é a rocha que me salva; ele é a minha torre alta! Não serei abalado! A minha salvação e a minha honra de Deus dependem; ele é a minha rocha firme, o meu refúgio.”

Ele finalmente chegou ao ponto em que Deus era tudo na sua vida, e então aprendeu que Deus bastava.

O mesmo acontece conosco. Quando tudo em nossa vida e experiências que pode ser abalado passa por reviravoltas, e apenas o inabalável permanece em pé, percebemos que Deus é a nossa única rocha e alicerce, e aprendemos a contar apenas com Ele.

“Por isso não temeremos, embora a terra trema e os montes afundem no coração do mar, embora estrondem as suas águas turbulentas e os montes sejam sacudidos pela sua fúria... Deus nela está! Não será abalada! Deus vem em seu auxílio desde o romper da manhã.

“Não será abalada” — que declaração mais inspiradora! Será possível que nós, tão facilmente abalados pelas circunstâncias, conseguimos chegar a um ponto em que nada nos perturba ou tira a nossa calma? É possível, e o apóstolo Paulo bem sabia. Quando ele estava a caminho de Jerusalém, previu “ligaduras e aflições”, disse vitoriosamente: “Mas nada disso me abala”.

Tudo que podia ser abalado na vida de Paulo teve uma reviravolta, a tal ponto que ele não tinha mais amor por suas posses ou nada na sua vida. Se conseguirmos deixar Deus agir conosco como Ele deseja, talvez cheguemos a esse ponto em que os imprevistos ou as grandes e difíceis provações na nossa vida não nos farão temer nem tremer, ou tirar a nossa paz que sobrepassa todo o entendimento. Então teremos aprendido a nos apoiarmos apenas em Deus.

Adaptado do texto The God of All Comfort, de Hannah Whitall Smith (1832–1911). Publicado no Âncora em maio 2014. Tradução Hebe Rondon Flandoli.


[1] Hebreus 12:27.

 

Copyright © 2024 The Family International