Janeiro 8, 2013
“Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. -- Efésios 2:10
“Criados em Cristo Jesus” significa que todo filho de Deus é uma nova criação de Cristo Jesus. “Para as boas obras” significa que todo filho de Deus se renova em Cristo Jesus para servir a Ele. “As quais Deus preparou” significa que Ele tinha um plano para essa vida servir a Cristo Jesus séculos antes de nascermos. “Para que andássemos nelas” – “andar” implica em ação, é algo prático, ou seja, o propósito maior de Deus quanto ao serviço dos Seus filhos não é um capricho, mas sim uma realidade prática que deve ser conhecida e vivida no dia a dia, hoje. De maneira que este texto expressa a essência do pensamento supremo de que Deus tem um plano para todos os que vivem em Cristo Jesus.
É uma verdade maravilhosa e, ao mesmo tempo, prática! Se o arquiteto faz o projeto de uma mansão, o pintor o esboço de sua futura obra-prima, e o armador planeja nos mínimos detalhes a embarcação, por que então não haveria Deus de ter um plano para cada alma que cria e coloca “em Cristo Jesus?” Mas é claro que Ele tem. Toda nuvem que observamos passando no céu ensolarado, todo broto de grama apontando para o alto, toda gota de orvalho reluzindo à luz da manhã, todo raio de luz atravessando o espaço infinito vindo do sol à terra está dentro do perfeito desígnio e plano de Deus. – Quanto mais no seu caso, que a Ele pertence, em Cristo Jesus! Deus tem um plano perfeito um plano de vida específico para você. E não só isso, Deus tem um plano para a sua vida que ninguém mais poderá cumprir.
“Desde que o mundo é mundo, nunca houve ou haverá alguém exatamente como eu. Eu sou singular.” É verdade. Não existem duas folhas de vegetação, duas gemas preciosas ou duas vidas exatamente iguais. Cada vida é uma nova ideia de Deus que brota no mundo. Nenhuma pessoa neste mundo poderá realizar o seu trabalho melhor do que você. E se não encontrar e entrar no processo rumo ao cumprimento do desígnio divino para a sua vida, vai ficar faltando algo, parte da glória na situação. Toda pedra preciosa tem brilho próprio; toda flor exala o seu próprio perfume; todo cristão tem o seu brilho específico de Cristo e a fragrância de Cristo que Deus quer que ele exale para outros.
Deus por acaso lhe deu uma personalidade especial? Ele também criou um círculo especial de pessoas que podem ser alcançadas e impactadas pela sua personalidade, mais do que por qualquer outra no mundo todo. E assim ele molda e ordena a sua vida para colocá-lo em contato com esse círculo. Um desvio minúsculo na posição do telescópio e é possível observar algo belo que antes estava confuso e enevoado. Da mesma forma, esse grãozinho de variação na sua vida que o difere dos outros, possibilita que alguém veja Jesus Cristo de maneira mais clara e linda do que em qualquer outra situação.
É um grande privilégio – e também humilhante -- ter Cristo habitando na sua personalidade! Que alegria saber que Deus vai usar justamente essa diferença, pois é o que Ele usa para aqueles que têm afinidade com isso! Você representa uma variação mínima na lapidação da pedra preciosa, o suficiente para ajudar alguém a ver a luz! Você possui uma variação mínima na combinação de fragrâncias, o suficiente para alguém perceber a fragrância de Cristo!
Tivemos uma experiência interessante em uma cidadezinha de pescadores na região dos Grandes Lagos onde estávamos passando férias. Havia duas águias em cativeiro no local. Tinham sido capturadas com duas semanas de vida e colocadas em um viveiro de tamanho médio. E foram crescendo cada ano, até se tornarem espécimes magníficos com uma envergadura de quase dois metros. Certo verão, quando voltamos para as férias costumeiras, demos falta das águias. Ao indagarmos o seu paradeiro, o dono nos contou o ocorrido.
Ele tinha ido pescar no lago e ficou fora vários dias. Durante a sua ausência, alguns rapazinhos da pá virada abriram a porta do viveiro e soltaram as aves, que obviamente tentaram escapar. Mas como elas estavam presas desde bem pequenas, não sabiam voar. Aparentemente entenderam que Deus as havia criado para sobrevoar os céus, e depois de tantos anos presas, o instinto pelas alturas ainda ardia no seu íntimo. E as aves tentaram desesperadamente realizar a sua natureza. Foram aos trancos e barrancos pelo mato ali perto, esforçaram-se, caíram, bateram as asas num lastimável esforço de alcançar a liberdade nos céus e cumprir o seu destino – mas em vão!
Uma delas tentou voar por cima de um riacho, caiu indefesa na água e precisou ser resgatada para não morrer afogada. A outra, depois de sucessivas tentativas sem êxito – e constrangedoras – alcançou o galho mais baixo de uma árvore próxima, e ali foi morta por um tiro disparado por um rapazinho cruel. Pouco depois a outra ave teve a mesma infelicidade, e esse foi o final da tragédia de suas vulneráveis vidas.
Desde então, muitas vezes nós pensamos na lição que se pode aprender com a tragédia na vida dessas águias no viveiro. Deus planejou para esses grandes pássaros uma herança nobre de liberdade. Foi-lhes dado o direito de alçar voo rumo ao sol, montar ninhos em picos nunca desbravados, enfrentar resolutamente tempestades nos céus. Esses pássaros eram donos de uma herança nobre, sem dúvida, mas tudo isso lhes foi tirado pela crueldade do ser humano. E em vez da liberdade infinita planejada para elas, tinham vivido presas em um viveiro, indefesas e humilhadas até o momento da sua morte. Até mesmo esses grandes pássaros tinham deixado de cumprir o grandioso plano de Deus para suas vidas. – E o mesmo acontece com os filhos dos homens.
Não é exatamente isso o que Paulo quis dizer com: “Assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”?[1] O que são essas vozes interiores que, se não lhes dermos atenção elas deixam de se manifestar? Quais são essas visões que, se não as seguirmos, elas se desvanecem? O que são esses anseios de ser tudo por Cristo que, se não concretizados, morrem? O que é tudo isso a não ser uma obra do Deus vivente em nós para que realizemos na nossa vida a obra que Ele planejou desde a eternidade? E é isso o que somos chamados a “operar”; operar em amor; operar cada dia, ministrando fielmente -- operar conforme Deus opera em nós.
Mas é possível perder tudo isso e ficar aquém da realização do plano perfeito de Deus para a sua vida. Portanto, devemos operar a nossa salvação com temor e tremor! -- Aquela bem-aventurada vida dando testemunho, servindo e dando fruto, como Deus planejou para nós em Cristo Jesus desde a eternidade. Tudo isso devemos operar com temor. Temor – antes que o deus deste mundo cegue a nossa visão para o serviço que Deus nos apresenta constantemente. Temor – para que as vozes de prazer e ambição do mundo não nos deixem surdos à voz que está sempre sussurrando: “Vem tu e segue-Me; vem tu e segue-Me”.
Todos os dias as pessoas falam de “escolher” uma vocação. Mas será que não estão usando o termo errado? Como é possível “escolher” uma “vocação”? Se a pessoa é chamada, ela não escolhe. Quem escolhe é que lhe dá a vocação. “Não fostes vós que me escolhestes a Mim, mas eu vos escolhi e designei para que vades e deis fruto”, diz o nosso Senhor.[2] As pessoas agem como se Deus tivesse lhes apresentado diversos planos para escolherem aquele que mais lhes agrada, como a atendente em uma loja apresenta dez ou mais peças de seda para a cliente escolher o que lhe agrada. Mas não é assim que acontece; Deus é quem escolhe. A nós cabe simplesmente determinar e obedecer. No âmbito da eternidade, depois da salvação vem a orientação para a vida de um filho de Deus. E ambas as questões são Suas prerrogativas. O homem que confia em Deus quanto a uma delas, mas O enfrenta na outra comete um erro fatal. Quem dera aprendêssemos isso antes de, na nossa ignorância, atrapalharmos o plano! Na falta desse ensinamento, devemos admitir humildemente os erros cometidos nessas questões, devido ao osso débil julgamento humano.
Você se encontra nessa posição difícil, sendo pressionado a “escolher” uma vocação? Você está prestes a jogar o dado e decidir o seu trabalho de vida? Não jogue, não tente escolher. Porventura o texto não diz que somos “criados em Cristo Jesus para boas obras”?[3] Se o plano está em Cristo, não há como descobri-lo sem antes ir a Cristo! Portanto, vá até Deus com simplicidade e confiança, em oração, e peça para Ele lhe mostrar o que Ele escolheu para você desde a eternidade. E conforme caminhar na luz que ele incide cada dia no seu caminho, com certeza Ele o guiará ao plano de vida por Ele designado. Agindo assim, será poupado da tristeza, das desilusões e das falhas resultantes de “escolher” o seu próprio caminho, e perceber, já tarde demais, que vale a pena confiar em Deus quanto a tão grande preocupação, como em todas as outras questões relacionadas à sua vida.
Publicado originalmente em 1911, Life Talks: A Series of Bible Talks on the Christian Life (Falando da Vida, uma Série de Palestras Basedas na Bíblia sobre a Vida do Cristão), publicado no Âncora em janeiro de 2013.
Tradução Hebe Rondon Flandoli. Revisão Tiago Sant’Ana.
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