Tempo Juntos

Agosto 27, 2012

Uma compilação

No futebol [americano], “hang time” [que também se traduz por passar tempo juntos] refere-se a quanto tempo a bola fica no ar depois de ter sido quicada. No basquete, é o período de tempo em que o jogador fica no ar quando salta para fazer uma cesta. Na inesperada aventura da evangelização, “hang time” refere-se a algo diferente: passar tempo suficiente com os amigos que estão buscando o sentido da vida para realmente chegar a conhecê-los, entender as suas questões e preocupações, e aprofundar a confiança que eles têm em você, e se permitir ir fundo em conversas espirituais.

Se você é pai ou mãe, sabe que as melhores discussões com seus filhos, especialmente quando são pequenos, não surgem dos primeiros minutos de sua interação com eles. Eles surgem muito mais tarde, depois que já investiu o bastante para convencê-los de que realmente se importa com eles e com o que acontece em suas vidas.

Um dos exemplos mais tocantes de um cristão que investiu justo nisto é descrito por Terry Muck em seu livro Those Other Religions in Your Neighborhood [Aquelas outras religiões em seu bairro – tradução livre]. Ele conta sobre uma carta escrita por um homem que não tinha nenhum interesse espiritual, mas que vivia do lado de um cristão dedicado.

Eles tinham uma relação bem casual que envolvia conversas por cima da cerca de seus quintais, pegar o cortador de grama emprestado, e coisas do tipo. A esposa do homem não cristão foi tomada então por câncer, e não tardou a morrer. Segue-se parte da carta que este homem escreveu depois da morte de sua esposa:

Fiquei totalmente desesperado. Passei pelas preparações para o funeral e a cerimônia como se estivesse em um transe. E depois fui para a beira do rio e caminhei a noite inteira. Mas não caminhei só. O meu vizinho ficou comigo aquela noite toda.

Ele não falou nada; nem mesmo andou ao meu lado. Simplesmente me seguiu de um lado para outro. Quando o sol finalmente nasceu ali no rio, veio até mim e me disse, “Vamos para casa tomar café.”

Eu agora frequento a igreja. Vou à igreja do meu vizinho. Uma religião que consegue produzir esse tipo de cuidado e amor que o meu vizinho demonstrou por mim é o tipo de coisa que quero encontrar mais. Quero ser assim. Quero amar e ser amado daquele jeito o resto da minha vida.

Não é interessante ver como ele compara o tempo que seu amigo passou com ele—sem dizer uma palavra nem fazer nada em particular—a “cuidar e amar”?

Então, com quem você precisa passar algum tempo? Talvez um conhecido que esteja passando por uma crise na vida. Ou talvez alguém do trabalho ou um vizinho com quem só tem uma conexão superficial. Passar tempo com essa pessoa pode alimentar a sua amizade e abrir a porta para conversas espirituais.—Lee Strobel[1]

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Thom Rainer descobriu em sua pesquisa que um dos principais fatores que influenciam as pessoas fora da igreja a abraçarem a fé no Senhor é relacionarem-se pessoalmente com um cristão, geralmente um membro da família ou um amigo. Isso deixa “pouca dúvida com relação à importância da evangelização pessoal para chegarmos aos que não estão na igreja.”

Permita-me lhe dar algumas ideias que pode usar no próximo ano para ganhar um amigo ou vizinho para Cristo.

Conheça a pessoa tanto quanto ela o permitir. Mas seja um bom ouvinte. Erramos ao pensar que testemunhar é simplesmente falarmos e os outros ouvirem. Faça perguntas e escute sua história. Faça perguntas e procure compreender a jornada de sua vida. O segredo aqui é relacionamento. Edifique uma amizade sincera baseada no respeito mútuo. Mostre que se interessa genuinamente pelo seu bem estar. Ame-a apesar dos defeitos e pecados.

Socialize com seu amigo. Desfrutem da presença um do outro. Apresente-o a outros cristãos. Permita-lhe o apresentar a seus amigos perdidos. Foi o que o apóstolo Mateus fez depois que deixou a banca onde coletava impostos e seguiu Jesus. Ele evidentemente fez uma festa e convidou todos os seus amigos e conhecidos “pecadores”. E também convidou Jesus.[2]

Tenha uma vida transparente. Quando usa máscaras em diferentes ocasiões, as pessoas não veem Jesus em você e você não fala dEle por medo de com isto deixar cair sua máscara. Quando é transparente, as pessoas conseguem ver Jesus através de você, e as palavras que fala quando testemunha soam verdadeiras.

A melhor e maior ferramenta é geralmente esquecida—a Bíblia. Ao desenvolver uma relação com uma pessoa perdida, pergunte-lhe se gostaria de ler a Bíblia junto com você. Reunir-se uma vez por semana para ler um capítulo ou dois talvez seja um com começo.

Acima de tudo, ore para a salvação de seu amigo. Peça a Deus para usar o seu amor e amizade para aproximar a pessoa de Jesus. Ame as pessoas, uma a uma, até chegarem a Jesus e todo o mundo, um por um, venha a conhecê-lO.—Woody D. Wilson[3]

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Discipular alguém requer estabelecer uma ligação com a pessoa, ensiná-la, ser seu mentor, orar com e por ela. É dedicar tempo, responder suas perguntas, alimentá-la espiritualmente e mostrar-lhe como se alimentar.

Para discipular não é preciso ser um talentoso professor da Bíblia ou saber tudo sobre Deus; discipular quer dizer que você faz o que pode para ajudar outros a se desenvolver no seu caminho espiritual. Nem todos são bons professores, mas todos podem dividir algo que aprenderam relacionado à fé, a Deus, ao amor e a Jesus. Você pode dar uma Bíblia, Novo Testamento, e outros materiais de leitura; pode tentar esclarecer as dúvidas de alguém, ou dividir o que aprendeu. Pode orar com as pessoas, mostrando-lhes como orar e proporcionando o apoio espiritual que obtemos quando “dois ou três se reúnem em meu nome.”—Peter Amsterdam[4]

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Aprenda uma dica com Dale Carnegie, que escreveu How to Win Friends and Influence People [Como Ganhar Amigos e Influenciar Pessoas]. A coisa principal e mais importante que deve mostrar a alguém é que ama a pessoa. Fazemos isso demonstrando interesse sincero na pessoa e no que a interessa, e a maneira de fazermos isso é perguntando-lhe sobre sua pessoa e sua vida.

Você vai descobrir, como disse Dale Carnegie, que não há nada sobre o qual as pessoas gostem mais de falar do que si mesmas. Como ele disse, “A definição de um chato é alguém que quer falar de si quando eu quero falar de mim!”

Vocês às vezes pregam demais. Falam sem parar e não demonstram nenhum interesse pela pessoa com quem estão falando. Pedem para ela chegar a uma decisão [com relação à salvação] antes de sequer descobrirem se a pessoa já é cristã. Só estão interessados em levá-la a uma decisão.

Eu costumava ir de casa em casa, testemunhando com um pregador. Toque, toque. Uma senhora vinha até a porta. “Ora, amada, queria que soubesse que as Escrituras dizem bum, bum, bum, bum!”

Parecia até que ele tinha subido em um púlpito e começado a pregar seu sermão. Assim que via a senhora, que estava lavando roupa e vinha atender a porta com uma criança ao colo, simplesmente começava o seu sermão. Por mais burro que eu fosse, não conseguia entender o que ele estava tentando fazer.

A primeira coisa que eu teria dito seria, “Ai, sinto muito interrompermos a senhora no seu trabalho e como a criança estar chorando. Não vamos incomodá-la agora. Vejo que está muito ocupada.” Ninguém tem tempo para ficar de pé à porta com uma criança em um braço berrando, a com a roupa na máquina e tudo o mais.

Você tem que mostrar consideração, interesse, e preocupação com a pessoa e seus problemas. Se realmente tiver a compaixão do Espírito Santo e o amor de Deus em seu coração, será como Jesus.

Faça perguntas, ouça as respostas, escute o que a pessoa tem a dizer sobre a história de sua vida. Isso talvez seja a melhor coisa que possa fazer por ela—simplesmente lhe oferecer um ouvido amigo, alguém com quem possa desabafar.

Todos os psiquiatras e psicólogos dizem a mesma coisa: Faz bem para as pessoas contarem a história de sua vida. Então, faça-lhes perguntas, demonstre que está verdadeiramente interessado na pessoa e preocupado com ela.

Assim que lhe contar toda a sua vida, você então poderá lhe dar as respostas aos seus problemas: as Escrituras e o amor de Deus. Diga-lhes o que precisam ouvir, as soluções. Mas como vai saber que versículo lhe dar, ou qual seria a solução que ela precisa ou o que ela precisa ouvir se não a ouvir para ter conhecimento de seus problemas, se não descobrir mais sobre a sua história?

Você não entra no consultório de um médico e senta-se na frente dele e ele de repente diz, “Muito bem, o que você precisa é isso assim assado, e vou lhe dar esta receita. Adeus!” Ele fica ali e o ouve para saber qual é o seu problema.

Você é um médico de almas, e o seu negócio é ouvir o paciente e quais são os seus sintomas e até mesmo o que ele acha que é o problema. Mesmo se ele não estiver certo, você o ouve e tenta escutar o seu lado da história. Se não ouvi-lo sobre os sintomas e seus problemas e todas essas coisas, como é que vai lhe dar uma receita certa?—David Brandt Berg[5]

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A maioria dos esforços de evangelização requer que tomemos tempo para edificar uma relação com o perdido e possamos verdadeiramente nos inteirarmos de suas necessidades. Isto requer um compromisso de tempo para o indivíduo ou família. Chega das nossas tentativas de ganhar os perdidos com pressa. Entramos com tudo e cobramos uma decisão, e isso a custas de uma alma. Muitos que estão buscando e interessados estão “perdidos” para a igreja porque assaltamos suas casas com um fogo rápido, com um tipo de arma de evangelização automática. É como se disséssemos: “Tenho ótimas notícias para lhe dar. Você tem aproximadamente 5 a 10 minutos para ouvir, entender, apreciar e receber o que tenho a dizer. Pronto? Aqui vão quatro simples verdades que você precisa saber.”—Woody D. Wilson[6]

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E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.[7]

É um princípio importante que se aplica tanto a culturas quanto a pessoas. Paulo estava dizendo que é preciso ser relevante, entender que as pessoas, bem como culturas, são diferentes e para conquistá-las é importante se integrar, reconhecer o que é relevante e importante para elas, e alcançá-las em seu âmbito de interesse ou cultura.

Antes de elas demonstrarem interesse no que o torna diferente, precisam reconhecer as coisas que vocês tem em comum, que partilham de alguns dos mesmos valores, que você é relacionável, e não alguém com um ar de superioridade ou desconectado das questões com as quais se importam.

Para ser eficaz em fazer com que Evangelho seja conhecido pelas pessoas, é necessário se relacionar com elas. Para alcançar as pessoas na sua cidade ou país, ou com as quais trabalha, seus vizinhos e conhecidos, é preciso entendê-las, sua cultura e o que elas valorizam. É importante se integrar à cultura para que elas passem a confiar em você como pessoa, e ao confiar em você elas se sentirão seguras o bastante para aceitar o que você diz sobre Deus, Seu amor e Seu Filho.

Como David ensinou:

Você não pode dizer muito bem às pessoas que as ama, se não faz o mínimo esforço para aprender a língua delas, seus costumes, cultura, história, religião, características, traços de nacionalidade, etc., os quais são todos parte delas. Nós nem podemos esperar entendê-las efetivamente sem mostrar um genuíno interesse amoroso por quem elas realmente são, e como são, tanto quanto realmente o possamos, no tempo que nos resta.

Isso sempre foi parte do segredo do sucesso de cada missionário verdadeiramente frutífero: um verdadeiro esforço de identificação com o povo, um verdadeiro exemplo amoroso do amor de Deus, e uma apresentação clara de Sua mensagem em alguma forma que eles possam entender.[8]—Peter Amsterdam[9]

Publicado em Âncora em agosto de 2012. Tradução Denise Oliveira.


[1] Uma Aventura Inesperada (Zondervan, 2009).

[2] Ver Marcos 2:14­–17.

[3] A Sombra de Babel (CrossHouse Publishing, 2009).

[4] Originalmente publicado em janeiro de 2012.

[5] David Brandt Berg, maio de 1976, 548 (extraído de DB 13).

[6] A Sombra de Babel

[7] 1 Coríntios 9:20–22.

[8] David Brandt Berg, originalmente publicado em março de 1973.

[9] Originalmente publicado em janeiro de 2012.

 

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