As Tentações no Deserto

Novembro 6, 2025

Por Peter Amsterdam

[Temptations in the Wilderness]

Ao batizar Jesus, João Batista ouviu a voz de Deus proclamar que Aquele era Seu filho (Marcos 1:9-11).  Foi então que Jesus recebeu o poder do Espírito Santo para realizar Seu ministério de pregar o reino de Deus e cumprir a tarefa que Seu pai Lhe dera — trazer salvação para a humanidade.

Os três evangelhos sinóticos falam de um período de provações que Jesus vivenciou logo após Seu batismo. Em Marcos encontramos o relato mais curto dessa passagem:

Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador aproximou-se dele e disse: “Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães". Jesus respondeu: "Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’".

Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse: "Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra’". Jesus lhe respondeu: "Também está escrito: ‘Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus’".

Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: "Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar". Jesus lhe disse: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’". Então o diabo o deixou, e anjos vieram e o serviram.

Levou-O novamente o Diabo a um monte muito alto, e mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E Lhe disse: “Tudo isto Te darei se, prostrado, me adorares.” Então Jesus lhe disse: “Vai-te, Satanás! Pois está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás.’” Então o Diabo O deixou, e chegaram os anjos e O serviram (Mateus 4:1-11).

O Espírito Santo, que desceu sobre Jesus no Seu batismo e com Ele permaneceu desde então (João 1:32), levou-O para o deserto para um período de provações. O deserto foi o campo de provas antes do início do Seu ministério, onde o Diabo tentou demovê-lO de fazer a vontade do Seu Pai.

O jejum de quarenta dias que Jesus fez remeteu ao de Moisés e Elias, que durou esse mesmo tempo (Êxodo 34:28; 1 Reis 19:8). Os testes aos quais Jesus foi submetido foram comparáveis aos que a nação de Israel vivenciou ao longo dos quarenta anos que vagou no deserto. Ele respondeu a cada tentação citando Deuteronômio, ligando a Sua experiência à do povo de Israel no deserto.

A primeira tentação foi de transformar pedras em pão: “O tentador chegou-se a Ele e disse: ‘Se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães’.’ No original grego, a expressão “se você é” pode significar “já que você é”, de forma que é mais provável que Satanás estivesse reconhecendo que Jesus, como o filho de Deus, tinha a capacidade de ordenar às pedras a se tornarem pães.

Por que isso foi um teste? O que haveria de errado em Jesus transformar as pedras em pão? Havia uma relação entre isso e como Jesus realizaria Seu ministério, que tipo de Messias seria, como usaria Seu poder e autoridade. Ele Se valeria da condição privilegiada para atender aos Seus próprios fins e necessidades pessoais? Ou agiria de acordo com a vontade do Seu Pai e em submissão a Ele? Aquele que deveria ensinar aos Seus discípulos a fé na provisão de Deus do pão de cada dia, confiaria da mesma forma quando Ele estivesse passando fome? Teria Jesus a fé de que Deus O alimentaria, como o fizera por Israel no deserto, por quarenta anos?

No fim do período que Israel passou no deserto, Moisés disse para aqueles que estavam prestes a entrar na terra prometida: “Lembre-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não” (Deuteronômio 8:2-3).

Deus cuidou de Israel e atendeu às suas necessidades no deserto.  Será que Jesus, Seu filho, confiaria nEle, ou agiria por conta própria? A decisão definiria Seu ministério e determinaria a qualidade do Seu messiato.

A resposta de Jesus foi citar Deuteronômio 8, que ensina que “não só de pão vive o homem, mas de tudo o que sai da boca do Senhor”. – Escolheu fazer o que Israel não fizera: confiar em Deus. Conduziu-Se de acordo com a vontade e a orientação divinas. Comprometeu-se a deixar Deus governar Sua vida.

A tentação seguinte, ou teste, sobre a qual lemos no Evangelho segundo Mateus, foi o desafio lançado pelo Diabo para que Jesus Se atirasse do pináculo do templo em Jerusalém, afirmando que, se Ele o fizesse, Deus O protegeria. Não nos é dito como levou Jesus ao templo, só que o fez. 

Como a reação de Jesus à primeira tentação foi citar as Escrituras, o Diabo apresenta a segunda tentação citando o Salmo 91:11–12: “Porque a seus anjos dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos; com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra”. Por que o Diabo levou Jesus ao templo e O desafiou a Se atirar de lá? Foi um desafio para Ele colocar a proteção divina à prova e “forçar” Deus a realizar um milagre de proteção, em vez de simplesmente confiar nas Suas promessas.

Jesus não Se opôs ao uso das Escrituras por Satanás, mas usou a passagem em Deuteronômio 6:16 para demonstrar o mal uso dos versículos: “Não ponham à prova o Senhor seu Deus, como fizeram em Massá”.

Esse versículo faz referência à ocasião em que os israelitas, na travessia do deserto, queixaram-se a Moisés sobre não terem água para beber. Moisés disse: “Por que se queimam a mim? Por que colocam o Senhor à prova?” Deus disse a Moisés que estaria à sua espera no alto da rocha em Horebe e o instruiu a bater na rocha para que dela saísse água. “E [Moisés] chamou aquele lugar Massá e Meribá, porque ali os israelitas reclamaram e puseram o Senhor à prova, dizendo: ‘O Senhor está entre nós, ou não?’” (Êxodo 17: 2-7).

Testar o Senhor da maneira como o Diabo estava sugerindo teria sido falta de fé da parte de Jesus, que repetiria o erro cometido por Israel. Jesus confiava em Seu Pai e não precisava de uma manifestação milagrosa do amor e da proteção de Deus. Ele tinha a paz e a certeza de que Sua vida estava nas mãos de Seu amoroso Pai.

Na terceira tentação, “O diabo o levou a um lugar alto e mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo. E lhe disse: ‘Eu lhe darei toda a autoridade sobre eles e todo o seu esplendor, porque me foram dados e posso dá-los a quem eu quiser. Então, se você me adorar, tudo será seu.’” (Lucas 4:5-7)

Mais uma vez, Jesus respondeu citando um versículo: “Vai-te, Satanás! Pois está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás” (Mateus 4:10 ARC).

O trecho citado está em Deuteronômio 6, que relata a advertência dada por Moisés aos israelitas para ficarem longe da idolatria quando entrassem na Terra Prometida. Satanás ofereceu a Jesus poder, autoridade e a glória do mundo, se Ele o adorasse e servisse. Ao rejeitar a oferta, Jesus mostrou-se fiel ao Seu Pai e ao Seu plano para a redenção da humanidade. Sem interesse no poder mundano, Jesus escolheu trilhar o caminho que Deus Lhe havia determinado e entregar-Se para a salvação dos homens. Por ter escolhido o Pai —rejeitando a autoridade sobre os reinos do mundo oferecida pelo Diabo—, Jesus pode afirmar tempos depois: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra” (Mateus 28:18).

Mateus nos conta: “Então o Diabo o deixou, e anjos vieram e o serviram” (Mateus 4:11). Lucas concluiu assim o relato: “Tendo terminado todas essas tentações, o diabo o deixou até o momento oportuno” (Lucas 4:13). O período de testes terminou, Jesus Se provou digno e leal ao Pai, e anjos foram enviados para ministrar a Ele e atender às Suas necessidades.

As informações sobre a tentação de Jesus no deserto só podem ter vindo do próprio Jesus, já que não havia ninguém com Ele. Em algum ponto de Seu ministério, Ele deve ter contado aos discípulos aquela experiência.

O fato de o Diabo ter “deixado” Jesus, não significa que Ele nunca mais sofreu tentações, mas sim que suportou as provações e derrotou toda tentativa de Satanás de desviá-lO logo no início de Seu ministério. Os Evangelhos nos falam de outras situações em que Jesus Se referiu às experiências com Satanás ou às tentações que sofreu (Mateus 16:21-23).

 Jesus permaneceu leal ao Seu Pai até a morte na cruz. E foi por essa lealdade que derrotou Satanás de uma vez por todas e concluiu Sua missão e cumpriu o plano de Deus da salvação. Nós, como Seus seguidores, fomos incumbidos de dar continuidade à Sua obra de “buscar e salvar os que estão perdidos” e levar Sua mensagem ao mundo todo (Lucas 19:10; Marcos 16:15; João 20:21).

Publicado originalmente em março de 2015. Adaptado e republicado em novembro de 2025.

Copyright © 2025 The Family International