Os efeitos do cristianismo: o status das mulheres

Outubro 30, 2025

Por Peter Amsterdam

[The Effects of Christianity: The Status of Women]

Um dos efeitos mais profundos do cristianismo no curso da história humana, após a morte e ressurreição de Jesus, refere-se à dignidade e status das mulheres.1

No Império Romano, as mulheres viviam sob a lei da patria potestas, que conferia ao chefe masculino da família autoridade absoluta sobre seus filhos, mesmo os adultos. As mulheres casadas permaneciam sob a autoridade do pai, exceto no caso de um casamento manus, o que significava que a mulher deixava de estar sob a autoridade de seu pai e ficava sob o controle de seu marido. Nessa condição, o marido poderia castigar fisicamente a esposa e, em caso de adultério, poderia matá-la. O casamento manus dava ao homem autoridade total sobre sua esposa, de modo que ela só tinha o status legal de uma filha adotiva.

Além disso, as mulheres não podiam falar em ambientes públicos. Todas os cargos de autoridade, como conselhos municipais, senado e tribunais, eram exclusivamente para os homens. Se uma mulher tivesse queixas ou reclamações legais, tinha que transmiti-las ao marido ou ao pai, que levava o assunto às autoridades competentes. As mulheres eram obrigadas a permanecer em silêncio sobre tais assuntos, sendo geralmente tidas em pouca consideração pela sociedade.

Na cultura judaica da era rabínica (400 aC a 300 dC), também existia um forte preconceito contra as mulheres. Elas não podiam testemunhar no tribunal, pois não eram consideradas testemunhas confiáveis. Também eram impedidas de falar em público nem tinham permissão para ler a Torá em voz alta nas sinagogas. O rito na sinagoga era conduzido por homens, e as mulheres presentes eram separadas dos homens por uma divisória.

Muitas mulheres ficavam confinadas em suas casas, e as jovens permaneciam em aposentos específicos para evitar serem vistas pelos homens. As casadas que viviam nas áreas rurais tinham um pouco mais de liberdade de movimento, pois ajudavam seus maridos na lavoura. No entanto, era considerado inadequado trabalharem ou viajarem sozinhas. Qualquer renda que uma mulher casada recebesse, incluindo heranças, pertencia ao marido.

Ao longo dos Evangelhos, percebemos que Jesus tinha uma atitude muito diferente em relação às mulheres, do que a prevalecia da época - uma atitude que elevou seu status. Por meio de Seus ensinamentos e ações, Ele rejeitou as crenças e práticas comuns que consideravam as mulheres inferiores.

Um exemplo é Sua interação com a mulher samaritana, no Evangelho de João. Naquela época, os judeus não interagiam com os samaritanos, mas Jesus pediu que ela lhe desse de beber do poço. Ela ficou surpresa que lhe pedisse tal coisa, pois sabia que “os judeus não se dão bem com os samaritanos” (João 4:7–9). Jesus não apenas ignorou o fato de que ela era samaritana, mas também falou com uma mulher em público. Isso violava a lei oral (leis religiosas judaicas adicionadas ao longo dos séculos às leis originais de Moisés).

Os Evangelhos segundo Mateus, Marcos e Lucas relatam que mulheres seguiam Jesus, algo incomum na época, já que outros mestres e rabinos não tinham discípulas. “Algumas mulheres estavam observando de longe. Entre elas estavam Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, o mais jovem, e de José. Na Galileia elas tinham seguido e servido a Jesus. Muitas outras mulheres que tinham subido com ele para Jerusalém também estavam ali.” (Marcos 15:40–41). (Ver também Lucas 8:1–3.)

Após Sua ressurreição, Jesus apareceu primeiro às mulheres e as instruiu a contar ao resto de Seus discípulos que Ele havia ressuscitado (Mateus 28:1–10).

A igreja primitiva seguiu o precedente de Jesus e ignorou as normas culturais em relação às mulheres. Elas desempenharam um papel importante na igreja, como visto nas epístolas de Paulo, que mencionam que conduziam reuniões de fé em suas casas. Na carta a Filemom, ele saúda a irmã “Áfia, a Arquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que se reúne com você em sua casa”(Filemon 1:1–2). Ninfa tinha uma igreja em sua casa em Laodiceia (Colossenses 4:15), e referiu-se a Prisca que com seu marido Áquila também tinha uma igreja em sua casa, como “meus colaboradores em Cristo Jesus” (Romanos 16:3). 

No livro de Romanos, Paulo escreve: “Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva da igreja em Cencreia” (Romanos 16:1). Diakonos é a palavra grega traduzida como serva e que às vezes nas epístolas é traduzida como diácono e ministro. Paulo refere-se a si mesmo e a seus cooperadores e colíderes como diakonos inúmeras vezes nas epístolas (Efésios 3:7, Colossenses 1:7). Então, ao elogiar Febe como uma diakonos da igreja, parece que Paulo estava reconhecendo que ela era uma diaconisa ou ministra dentro da igreja.

Paulo afirmou que, em Cristo, “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28). Jesus, Paulo e a igreja primitiva opuseram-se ao isolamento, ao silêncio e à subserviência imposta às mulheres no culto e no ministério.

A mensagem de salvação de Jesus ressoou entre as mulheres na igreja primitiva. Historiadores afirmam que geralmente elas eram mais ativas na igreja do que os homens. O historiador e teólogo alemão Leopold Zscharnack escreveu: "A cristandade não se atreve a esquecer que foi principalmente o sexo feminino que, na maior parte, provocou sua rápida expansão. Foi o zelo evangelístico das mulheres nos primeiros anos da igreja e, posteriormente, que conquistou os fracos e poderosos.2

Nos primeiros 150 anos do cristianismo, as mulheres eram altamente respeitadas na igreja e muito importantes na comunidade cristã. Infelizmente, tempos depois, alguns líderes da igreja voltaram a adotar práticas e atitudes dos romanos em relação às mulheres, e elas foram lentamente excluídas dos papéis de liderança dentro da igreja. Apesar dessas atitudes distorcidas, elas ainda permaneceram em pé de igualdade de muitas maneiras durante aquele período: Recebiam a mesma instrução que os homens ao se tornarem membros da igreja, eram batizadas da mesma maneira, participaram igualmente da comunhão, oravam e adoravam no mesmo ambiente que os momentos.

Embora houvesse alguma divergência do que o Novo Testamento ensinava sobre as mulheres ao longo dos séculos, também houve mudanças legais significativas em todo o território do Império Romano. Meio século após a legalização do cristianismo, o imperador Valentiniano revogou a patria potestas de mil anos em 374 d.C., de modo que o chefe masculino da família não tinha mais autoridade absoluta sobre sua esposa e filhos. As mulheres conquistaram os mesmos direitos de propriedade que os homens e o direito de tutela sobre seus filhos.

Isso também significava que as mulheres podiam escolher com quem se casavam, em vez de ter um marido escolhido pelo pai, o que permitiu que se casassem mais tarde. Por causa dos ensinamentos de Paulo, os maridos começaram a ver suas esposas como parceiras, tanto espiritual quanto na vida prática. Hoje, as mulheres no mundo ocidental não são mais obrigadas a se casar contra sua vontade, nem podem ser legalmente obrigadas a ser noivas na infância, como ainda acontece em alguns lugares.

Antes e durante a vida de Jesus, muitas sociedades antigas, especialmente no Oriente Médio, permitiam a poligamia (um homem desposar mais de uma mulher ao mesmo tempo). Muitos dos patriarcas e reis judeus, como Abraão, Jacó, Davi, Salomão e outros, tiveram várias esposas. Quando Jesus falou de casamento, no entanto, foi invariavelmente no contexto da monogamia. Jesus disse: “Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ e disse: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’?” (Mateus 19:4-5).

Vários líderes da Igreja primitiva no segundo e terceiro séculos escreveram contra a poligamia e, quando o casamento é mencionado no Novo Testamento, entende-se que se refere ao casamento monogâmico. A visão cristã do casamento como um relacionamento monogâmico permeou as leis da sociedade ocidental.

Nos Evangelhos, vemos que Jesus tinha compaixão pelas viúvas. Ele ressuscitou o filho de uma viúva (Lucas 7:11–15), censurou os fariseus por explorarem financeiramente as viúvas (Marcos 12:40), e elogiou a pobre viúva que abnegadamente deu duas moedas como oferenda ao templo (Lucas 21:2-3).O apóstolo Paulo em seus escritos instruiu a igreja de Éfeso a honrar as mães viúvas (1 Timóteo 5:3–4), e na Epístola de Tiago lemos: "A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo" (Tiago 1:27).

A vida, morte, e a ressurreição de Jesus que trouxe a salvação para aqueles que creem nEle fizeram uma diferença monumental em inúmeras vidas ao longo dos séculos. Seu exemplo e ensinamentos fizeram com que Seus discípulos e a igreja primitiva concedessem um nível mais alto de dignidade, liberdade e direitos às mulheres. Portanto, nos países influenciados pelo cristianismo, as mulheres, em geral, têm mais liberdade, oportunidades e reconhecimento do seu valor humano do que em países sem essa influência.

Publicado originalmente em abril de 2019. Adaptado e republicado em outubro de 2025.


1 Points from this article were taken from How Christianity Changed the World, by Alvin J. Schmidt (Zondervan, 2004).

2 Leopold Zscharnack, Der Dienst der Frau in den ersten Jabrhunderten der christlich Kirche (Gottingen: n.p., 1902), 19.

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