O Dia do Senhor

Março 10, 2025

Peter Amsterdam

[The Day of the Lord]

Em 1 Tessalonicenses capítulo 4, Paulo falou sobre os cristãos que faleceram: “Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança” (1 Tessalonicenses 4:13).Paulo usou a metáfora dormir para se referir aos mortos, mas alguns versículos mais para a frente ele fala diretamente os mortos (1 Tessalonicenses 4:16).

A razão pela qual Paulo não queria que os crentes fossem ignorantes sobre os cristãos que haviam morrido era para que eles “não se entristecessem como os outros que não têm esperança”. Paulo não estava dizendo que os crentes não podiam se entristecer com a morte de seus entes queridos, como esclarece um autor: “Paulo ensinou que a dor deve ser moderada e informada pela esperança que eles cultivavam, baseada na ressurreição do Cristo e na promessa de Sua vinda”.1

Paulo continua: “Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles que nele dormiram” (1 Tessalonicenses 4:14).Uma das crenças fundamentais da igreja foi e continua sendo que Jesus morreu e ressuscitou. Paulo provavelmente estava citando um credo que estava em circulação entre os crentes e foi usado na igreja de Tessalônica naquela época. A morte e ressurreição de Jesus foi apresentada como a garantia da ressurreição dos crentes (Romanos 8:11; 2 Coríntios 4:14).

“Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem” (1 Tessalonicenses 4:15). Por alguma razão, era importante para os tessalonicenses saberem que, quando Jesus voltasse, os crentes que estavam vivos não teriam precedência sobre aqueles que já haviam morrido.

A passagem continua: “Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro” (1 Tessalonicenses 4:16).

Nesse versículo, Paulo se referiu à vinda de Jesus usando a palavra grega parousia, que no geral significa a “vinda” gloriosa de um soberano ou governante, em visita a uma cidade. Visitas assim eram motivo de grandes celebrações, incluindo banquetes, discursos elogiando os visitantes, e dedicatórias de estátuas, bem como a construção de pórticos e novos edifícios. Nessas ocasiões, as autoridades e o povo da cidade usavam trajes especiais para receber o visitante e acompanhá-lo até à cidade.

Paulo usou esse conceito de parousia para descrever a vinda de Jesus, e as respectivas glória e cerimônia que acompanharão Seu retorno, bem como para tranquilizar os tessalonicenses de que todos os cristãos, tanto os vivos quanto os que morreram, participariam desse maravilhoso evento. O retorno de Jesus não será um segredo. Primeiro, haverá um grande brado. Não nos é dito quem brada, mas pode se referir a Deus Pai, que dá a ordem para que os mortos em Cristo ressuscitem.

O retorno de Jesus é acompanhado pela voz de um arcanjo e o som da trombeta de Deus. Na época de Paulo, as trombetas eram usadas em exercícios militares e eventos importantes, como procissões fúnebres. Na volta de Cristo, os mortos ouvirão o grande som do chamado da trombeta de Deus e responderão ao mandamento de ressuscitar. Nesta passagem e também em 1 Coríntios 15:52, a trombeta de Deus é o chamado para a ressurreição dos mortos.

Quando o som da trombeta de Deus for ouvido, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Nem todos os mortos ressuscitam nesse momento, apenas os que receberam a salvação através de Cristo antes de morrerem. Paulo queria deixar claro aos tessalonicenses que os crentes que haviam morrido estarão presentes quando Jesus voltar.

Paulo diz: “Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre” (1 Tessalonicenses 4:17). Depois que os mortos ressuscitarem, os cristãos que estiverem vivos se unirão aos ressuscitados para, juntos, irem ao encontro do Senhor, no tempo de Sua parousia, muitas vezes chamado de “arrebatamento”. Quando os dois grupos se reunirem, todos serão arrebatados juntos.

Ao escrever sobre o encontro com o Senhor nos ares, Paulo ressalta que são os corpos dos crentes ressuscitados e dos crentes vivos, e não apenas suas almas, que encontrarão o Senhor nos ares. Não explica como isso vai acontecer, mas esta e outras passagens deixam claro que o corpo humano passará por uma transformação, para um estado de imortalidade. Em outra passagem ele diz “[Jesus] transformará os nossos corpos humilhados, para serem semelhantes ao seu corpo glorioso” (Filipenses 3:20,21).

O fim deste processo, a ressurreição, é declarado na frase final, e assim estaremos com o Senhor para sempre. No retorno de Cristo, todos os crentes, mortos ou vivos, se reunirão a Jesus, nosso Rei e Salvador, e assim estaremos com o Senhor para sempre.

Em 1 Tessalonicenses 5, Paulo responde à terceira pergunta dos cristãos tessalonicenses: Quando viria o dia do Senhor? Ele escreve: “Irmãos, quanto aos tempos e épocas, não precisamos escrever-lhes, pois vocês mesmos sabem perfeitamente que o dia do Senhor virá como ladrão à noite” (1 Tessalonicenses 5:1,2).

Não surpreende que Paulo tenha abordado a questão de quando viria o dia do Senhor, um tema recorrente em toda a literatura judaica e nas Escrituras. No livro de Daniel, é feita a pergunta: Quanto tempo decorrerá antes de se cumprirem essas coisas estupendas? (Daniel 12:6). No Monte das Oliveiras, os discípulos pediram a Jesus: Dize-nos quando acontecerão estas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim dos tempos. Jesus deixou claro que a respeito daquele dia e hora, somente o Pai sabe (Mateus 24:36; Atos 1:6,7).

Nas Escrituras, a expressão o dia do Senhor muitas vezes se refere a quando o Senhor virá para julgar as pessoas da terra e derramar Sua ira por causa do pecado.2  Para o povo de Deus, porém, o dia do Senhor será um dia de salvação (Zacarias 14:1-21). Em suas epístolas, o apóstolo se refere a quando Ele executará o juízo divino como “o dia do nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 1:8; Filipenses 1:6, 9,10).

 Visto que não era possível os crentes saberem quando esse dia chegaria, foram chamados a estarem sempre prontos. Isso se aplica a todos os cristãos — do passado, do presente e do futuro. “Estejam também vocês preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que não o esperam” (Lucas 12:39,40).

O dia do Senhor virá subitamente e Sua vinda será inesperada, como quando um ladrão arromba uma casa no meio da noite. Paulo não disse que não veríamos sinais antes do fim, mas enfatizou que é impossível saber exatamente quando Cristo retornará, por isso os crentes devem estar sempre preparados.

Depois de afirmar que a vinda será inesperada, Paulo passa a explicar que os incrédulos não encontrariam refúgio do julgamento vindouro: “Quando disserem: ‘Paz e segurança’, então, de repente, a destruição virá sobre eles, como dores à mulher grávida; e de modo nenhum escaparão” (1 Tessalonicenses 5:3).

Paulo então contrasta os crentes tessalonicenses com os incrédulos da cidade: “Mas vocês, irmãos, não estão nas trevas, para que esse dia os surpreenda como ladrão” (1 Tessalonicenses 5:4). Paulo não diz que a igreja saberá quando esse dia chegará, mas enfatiza que os cristãos estão preparados para o evento final e, portanto, não estão nas trevas.

Os autores do Novo Testamento descrevem a salvação como passar das trevas para a luz. “Porque outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor” (Efésios 5:8). “Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado” (Colossenses 1:13). Os crentes na Tessalônica (e os cristãos em geral) estão preparados justamente porque creem, de modo que podem viver na expectativa desse dia.

Paulo então diz: “Vocês todos são filhos da luz, filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas” (1 Tessalonicenses 5:5). Os “filhos da luz” são todos aqueles salvos das trevas que agora pertencem ao reino de “luz”. Como o apóstolo Pedro escreveu: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9).

Paulo passa a falar sobre o que o cristão deve fazer. “Portanto, não durmamos como os demais, mas estejamos atentos e sejamos sóbrios” (1 Tessalonicenses 5:6). O cristão deve se conduzir como um “filho da luz”. Um autor expressou da seguinte forma: “O cristão deve ter uma conduta distinta das ‘outras pessoas’, dos incrédulos que estão ‘dormindo’ no pecado e na indiferença moral”.3

Em vez de estarem “dormindo” no pecado, Paulo diz que os crentes tessalonicenses devem ser vigilantes e sóbrios e ter domínio próprio. O chamado é para estar alerta e vigilante espiritual e moralmente, e exercitar autocontrole. A passagem continua: “Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação” (1 Tessalonicenses 5:8). Além de serem sóbrios e estarem prontos para o dia do Senhor, os crentes também devem estar revestidos das virtudes cristãs – fé, amor e esperança.

Paulo estabeleceu a diferença entre o destino dos cristãos e o dos incrédulos: “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele” (1 Tessalonicenses 5:9,10). Por ocasião da volta do Senhor, os cristãos receberão a salvação, não por mérito próprio, mas por causa do amor e da graça de Deus manifestados no sacrifício de Jesus na cruz e Sua ressurreição. Essa salvação final é descrita como viver junto com nosso Senhor Jesus Cristo. Será maravilhoso!

Paulo conclui dizendo: “Exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo” (1 Tessalonicenses 5:11). Os crentes tessalonicenses estavam preocupados com o dia do Senhor em relação ao seu questionamento sobre os mortos na fé. Ele os orienta a se animarem e se consolarem mutuamente, lembrando uns aos outros que Deus os trouxera, tanto os vivos quanto os que já faleceram, para a salvação. Que estas palavras também sejam um encorajamento para todos nós.

Publicado originalmente em março de 2023. Adaptado e republicado em março de 2025.


1 Gene L. Green, The Letters to the Thessalonians (Grand Rapids: Eerdmans, 2002), 219.

2 Veja Ezequiel 30:3; Joel 1:15; Amós 5:18,20; Sofonias 1:14; Atos 2:20; 2 Pedro 3:10.

3 Green, The Letters to the Thessalonians, 238.

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