Janeiro 20, 2025
[The Parable of the Wheat and the Weeds]
A Parábola do Joio e do Trigo, registrada unicamente no Evangelho segundo Mateus, revela algumas similaridades com a que fala do crescimento das sementes em Marcos 4:26-29, em termos do vocabulário usado e das ideias expressas. Mas as duas histórias têm também grandes diferenças. No capítulo 13 de Mateus encontramos oito parábolas, dentre as quais a do joio e do trigo, relatada logo após outra que também usa sementes como ilustração: a “Parábola do Semeador”.
Vejamos o que diz:
Jesus lhes propôs outra parábola, dizendo: — O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas, enquanto todos estavam dormindo, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e foi embora. E, quando as plantas cresceram e produziram fruto, apareceu também o joio. Então os servos do dono da casa chegaram e disseram: "Patrão, o senhor não semeou boa semente no seu campo? De onde, então, vem o joio?" Ele, porém, lhes respondeu: "Um inimigo fez isso." Mas os servos lhe perguntaram: "O senhor quer que a gente vá e arranque o joio?" O dono da casa respondeu: "Não! Porque, ao separar o joio, vocês poderão arrancar também com ele o trigo. Deixem que cresçam juntos até a colheita. E, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ‘Ajuntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; mas recolham o trigo no meu celeiro’” (Mateus 13:24-30).
Diferentemente do lavrador na parábola do semeador que espalhou, ele próprio, as sementes, lemos sobre um proprietário de terras que atribui a tarefa a seus servos. Na história, após o trigo ser plantado, um inimigo veio à noite e plantou sementes de ervas daninhas no mesmo campo.
No mundo antigo, quando havia rivalidades entre os agricultores, alguns contaminavam o campo dos outros com ervas daninhas. O joio, citado na passagem, é uma planta venenosa muito parecida com o trigo, abundante na Síria e na Palestina. Nos primeiros estágios de crescimento, parece com o trigo, mas conforme cresce fica fácil diferenciá-lo pois tem espigas menores.
O crime só foi notado meses após o plantio, quando a erva cresceu e frutificou e apareceu também o joio. Até então, a contaminação não havia sido percebida e os dois tipos de planta cresceram juntos.
O dono da propriedade reconhece que seu inimigo o havia prejudicado ao espalhar sementes venenosas em sua cultura de trigo, mas sabe que seria inútil tentar arrancar as ervas daninhas. Qualquer tentativa de entrar no campo para limpá-lo da praga poderia prejudicar também o trigo, pois as raízes das duas espécies estavam entrelaçadas. Em vez disso, o fazendeiro decide esperar a colheita, quando os ceifeiros terão sua tarefa duplicada: arrancarão o joio e depois colherão o trigo. As plantas prejudiciais serão atadas em molhos e queimadas, provavelmente como combustível. O trigo será levado para o celeiro.
Jesus não explicou essa parábola para as multidões, posteriormente, porém, explicou aos Seus discípulos.
Então, despedindo as multidões, Jesus foi para casa. E, aproximando-se dele os seus discípulos, disseram: — Explique-nos a parábola do joio do campo. E Jesus respondeu: — O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do Maligno. O inimigo que o semeou é o diabo. A colheita é o fim dos tempos, e os ceifeiros são os anjos. Pois, assim como o joio é colhido e jogado no fogo, assim será no fim dos tempos. O Filho do Homem mandará os seus anjos, que ajuntarão do seu Reino todos os que servem de pedra de tropeço e os que praticam o mal e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol, no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mateus 13:36-43).
O campo é o mundo, em que o Filho do Homem, Jesus, semeia “os filhos do Reino”. No entanto, o Diabo tem semeado “os filhos do maligno” no campo também. A expressão “filhos de...” neste tipo de contexto é uma frase comum em hebraico ou em aramaico, significando “alguém que pertence a”.
Os filhos do reino foram semeados pelo semeador (Jesus). Deus é descrito como “o Pai”, eles são chamados “justos” e “resplandecerão como o Sol no reino de seu Pai”. Em contraste, os filhos do maligno são “semeados pelo inimigo” (o Diabo), ou, como vemos em outras traduções, “aqueles que praticam o mal”, os quais serão “jogados em uma fornalha acesa”, onde haverá “choro e ranger de dentes”.
Segundo os ensinamentos de Jesus nesta parábola, o bem e o mal coexistiriam lado a lado no mundo e a maldade não seria retirada da humanidade até o fim dos tempos, o Dia do Juízo. Apesar de o trigo e a erva daninha crescerem lado a lado por um tempo, virá o tempo quando haverá uma separação e cada um terá o seu destino. O joio que cresceu com o trigo será reunido, amarrado e queimado.
Por outro lado, as imagens descrevem o destino glorioso do trigo que é recolhido no celeiro do fazendeiro. A linguagem remete a Daniel 12:3: “Os que forem sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento, e os que conduzirem muitos à justiça brilharão como as estrelas, sempre e eternamente”.
Esta parábola nos ensina que os filhos do reino e do maligno viverão lado a lado neste mundo até o Dia do Juízo. Apesar de o reino ter chegado ao mundo pelo ministério de Jesus, não existe em sua plenitude. Tanto o bem quanto o mal coabitam neste mundo, mas, no futuro, serão lançados fora, depois do que o reino de Deus se fará presente em sua plenitude.
Uma mensagem similar é encontrada na parábola da rede de pesca, recontada por Mateus poucos versículos depois.
O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede que foi lançada ao mar e apanhou peixes de toda espécie. E, quando já estava cheia, os pescadores a arrastaram para a praia e, assentados, escolheram os bons para os cestos e jogaram fora os ruins. Assim será no fim dos tempos: os anjos sairão, separarão os maus dentre os justos e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. (Mateus 13:47-50 ).
Enquanto a parábola do joio e do trigo descreve os justos brilhando como o sol e o castigo dos desobedientes, a da rede fala somente da punição dos maus ou iníquos. Mais uma vez, lemos sobre anjos que apartarão os maus e os lançarão na fornalha acesa, onde haverá pranto e ranger de dentes. Ao contar esta parábola, Jesus falou de um processo de separação de um julgamento futuro. Nesse tempo específico, no fim da era, o mal será removido do reino de Deus.
Admito que não gosto de pensar no juízo referido em toda a Bíblia e do qual falou Jesus. Como escreveu C. S. Lewis:
Se eu pudesse, nenhuma doutrina me daria tanto prazer de remover do cristianismo quanto essa. Contudo, é plenamente corroborada em toda a Bíblia, inclusive nas palavras do Senhor e tem sido defendida pela cristandade, e por bom motivo.1
Só no Evangelho segundo Mateus, Jesus fala 21 vezes direta ou indiretamente sobre o juízo. Não é um tópico popular e costuma ser erroneamente usado, no passado e no presente, para gerar medo. Contudo, por mais que não gostemos do conceito, trata-se de um elemento central da mensagem de Jesus no tocante à Sua pregação sobre o reino.
O juízo futuro é uma realidade e é justamente por isso que Jesus veio à Terra e sacrificou Sua vida por todos nós. Todo ser humano merece ser julgado devido ao pecado que nos separa de Deus. Ele não quer essa separação, mas por ser completamente santo, nada impuro pode estar na Sua presença. Entretanto, movido por Seu amor pela humanidade, criou uma maneira de nos redimirmos e sermos pronunciados puros, a saber, pela morte de Jesus na cruz, pela qual podemos ser perdoados de nossos pecados. Por isso, somos contados justos e, na separação que haverá no fim da era, os que tiveram um relacionamento com Deus por meio de Jesus não compartilharão do mesmo destino que os demais.
As imagens de uma fornalha ardente e de um lugar de pranto e ranger de dentes usadas nas duas parábolas não passam de símbolos e não devem ser interpretadas literalmente. Entretanto, quaisquer que sejam as circunstâncias, será um lugar de separação de Deus e dos que O amam. Quando pensamos em tudo que Deus é: amor, beleza, bondade, misericórdia, santidade, justiça, integridade e muito mais, a ideia de viver em um lugar em que Deus não esteja presente é terrível.
Essa verdade deve nos deixar gratos por termos tido a oportunidade de ouvir o evangelho, receber Jesus como Salvador e ter um relacionamento com Deus. Em segundo lugar, ela deve nos impressionar com a importância de compartilhar a mensagem do evangelho com outras pessoas.
As pessoas precisam de Deus e Ele não quer que ninguém pereça, mas que, como escreveu o apóstolo Pedro, todos cheguem ao arrependimento (2Pedro 3:9). “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). A nós, que vivenciamos o amor e a misericórdia de Deus, é pedido que compartilhemos as boas novas do Seu amor e darmos a outros a oportunidade de viverem eternamente em um lugar onde impera a essência de Deus. Façamos o melhor ao nosso alcance para levar aos outros o amor e a mensagem de Deus.
Publicado originalmente em novembro de 2015. Adaptado e republicado em janeiro de 2025.
1 The Problem of Pain (New York: HarperCollins, 2015), 119–20.
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