Setembro 9, 2024
[The Rich Man and Lazarus]
A história do rico e Lázaro no evangelho segundo Lucas compara a vida de dois homens — um era rico; o outro, pobre. Ultrapassa os limites desta vida e inclui eventos da próxima. Jesus começa a parábola descrevendo o homem rico.
“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e vivia no luxo todos os dias” (Lucas 16:19).
A breve descrição introdutória não diz muito, mas foi o bastante para que seus primeiros ouvintes tivessem clareza do que Jesus estava falando. O homem não era apenas rico, mas vestia púrpura, um luxo reservado para as pessoas de grandes posses. Ele também se vestia com linho fino. O uso de vestes brancas de linho por baixo dos mantos de cor púrpura eram sinal de riqueza. Além disso, banquetes suntuosos faziam parte de seu cotidiano, mostrando que ele anfitrionava eventos diária ou regularmente. O que é dito, tanto na introdução quanto mais adiante na história, deixa claro que o homem era riquíssimo e que não se privava de desejo algum.
“Diante do seu portão fora deixado um mendigo chamado Lázaro, coberto de chagas; este ansiava comer o que caía da mesa do rico. Em vez disso, os cães vinham lamber as suas feridas” (Lucas 16:20,21).
Como as parábolas são, por característica, breves, não há muitas informações sobre Lázaro. O interessante é que nesta parábola Jesus diz o nome do homem e é a única em que Ele cita nomes. Lázaro é a versão grega de Eliezer ou Elazar, que em hebraico significa aquele que Deus ajuda.
Lázaro é tão pobre que tem de mendigar comida. Sua saúde era ruim, sua pele tomada por chagas, e ele não podia caminhar. Na Palestina do primeiro século, não havia serviços governamentais para cuidar dos pobres e isso era feito pela comunidade ou por indivíduos. Gente como Lázaro sobrevivia principalmente de esmolas, de doações de comida ou dinheiro dado aos carentes.
Lázaro ficava todos os dias sentado ao portão do homem rico, na esperança de receber alguma comida que caísse da mesa do dono da casa, pois sabia que sua fome podia ser saciada se tão somente lhes fosse dada parte do que caía no chão durante os banquetes diários. Os cães lambiam as feridas de Lázaro. A maioria dos comentaristas da Bíblia presume que esses cães fossem animais de rua sujos e sarnentos.
A situação de Lázaro era deplorável. Incapaz de andar, coberto de feridas, sempre com fome e sentado à porta de uma casa rica, cujo dono, aparentemente, o ignorava. Além de ser impuro no tocante aos rituais religiosos, era socialmente excluído.
A parábola continua: “Chegou o dia em que o mendigo morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão” (Lucas 16:22).
Ser levado para junto de Abraão ou estar ao seu lado, como se encontra em algumas traduções, expressa que o morto passou a desfrutar de um estado abençoado, como o dos que dividem a mesa com os patriarcas, conforme lemos em Mateus 8:11: “Eu lhes digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente, e se sentarão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no Reino dos céus”.
Lázaro, que jamais fora convidado para os banquetes do homem rico, que precisava se contentar em alimentar-se com o que caía da mesa, agora senta-se confortavelmente em lugar de honra, em um banquete, ao lado de Abraão, o pai da fé. A experiência do homem rico, contudo, é muito diferente.
“O rico também morreu e foi sepultado. No Hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e viu Abraão de longe, com Lázaro ao seu lado. Então, chamou-o: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo’” (Lucas 16:22-24).
Ao falecer, esse rico, cujo nome desconhecemos, certamente teve um funeral caro. Entretanto, sua existência a partir de então passou a ser bem diferente do que era quando estava na terra. O que se banqueteava em mesa farta de comida e vinho é quem agora sofre necessidade e precisa que outros o ajudem. Invocou Abraão, chamando-o de “pai”, possivelmente para lembrar ao patriarca de que era descendente judeu, na esperança que se sentisse por isso na obrigação de ajudá-lo.
Neste ponto da parábola, uma revelação surpreendente: o homem rico sabia o nome de Lázaro. Aparentemente, estava bem ciente da existência daquele que todos os dias passava extrema necessidade à sua porta. Contudo, em vez de manifestar remorso, instrui Abraão a enviar Lázaro para que lhe preste um serviço.
“Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento’” (Lucas 16:25).
Abraão não responde com aspereza, mas o chama “filho” e diz para o homem pensar na vida que tivera e todas as regalias que recebera — muito diferente das experiências ruins de Lázaro. Abraão lhe faz lembrar que as posses do rico na verdade não lhe pertenciam, mas eram um empréstimo de Deus, que deveria ser usado com sabedoria. Agora, sua vida terrena havia chegado ao fim e, por conta das suas ações, passava por sofrimentos.
Lázaro, por sua vez, está recebendo compensações. Depois de uma vida de sofrimento, passou a viver sem dor nem tormento. Tampouco sofre negligência e, depois de sua morte, recebeu consolo eterno.
Abraão então disse: “E além disso, entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem” (Lucas 16:26).
Mesmo se Lázaro, movido por compaixão, quisesse molhar o dedo na água para com ela refrescar a língua do homem rico, seria impossível. Lázaro teria todo o direito de mostrar o absurdo que era para o rico sequer pedir a Abraão que o enviasse para aliviar seu sofrer. Não fora Lázaro quem diariamente padecera à sua porta sem nada receber? Contudo, Lázaro nada diz em toda a parábola.
O homem rico então tem outra coisa que quer que Lázaro faça. “Ele respondeu: ‘Então eu lhe suplico, pai: manda Lázaro ir à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos. Deixa que ele os avise, a fim de que eles não venham também para este lugar de tormento’” (Lucas 16:27,28).
Percebendo que sua situação não mudaria, pede que Lázaro seja enviado em uma missão, para alertar seus irmãos. Vê que o mesmo destino os aguarda, pois muito provavelmente viviam como ele, perseguindo prazeres egoístas sem nenhum interesse pelos carentes.
“Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’” (Lucas 16:29). Abraão diz que as Escrituras, a Palavra de Deus escrita, bastavam para instruir seus irmãos sobre como viverem de forma íntegra e terem fé. Se ouvirem essas palavras, ou seja, se lhes obedecerem e as praticarem, não terminarão como o irmão.
O homem rico insatisfeito com a reposta e acostumado a que suas vontades fossem feitas, contra-argumentou. “‘Não, pai Abraão’, disse ele, ‘mas se alguém dentre os mortos fosse até eles, eles se arrependeriam’” (Lucas 16:30).
Chega a ser irônico, considerando que ele próprio não mostrou nenhum sinal de arrependimento, apesar de estar vendo “um dos mortos”, Lázaro, sentado à mesa com Abraão. Contudo, está convencido de que se Lázaro aparecer aos seus irmãos, eles se arrependerão.
Abraão explicou que não era bem assim. “Abraão respondeu: ‘Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos’” (Lucas 16:31).
O homem rico queria avisar os irmãos. Obviamente sabia que não obedeciam à Palavra de Deus e que acabariam na mesma condição que ele, se não recebessem algum sinal. Todavia, Abraão disse que nenhum sinal lhes seria dado, pois tinham a seu dispor a Palavra de Deus e que isso bastava. Conheciam o suficiente as Escrituras, para saber que o Deus disse sobre como viver com justiça e como tratar os pobres.
Muitos dos que ouviam Jesus provavelmente pensavam, inicialmente, que o homem rico era abençoado por Deus e que Lázaro estava sendo julgado, pois acreditavam que a prosperidade era a bênção de Deus e que a pobreza, Seu castigo. Jesus estava esclarecendo que isso não é necessariamente assim. A riqueza não é forçosamente um sinal das bênçãos de Deus ou que a pessoa rica seja justa. Da mesma forma, os que sofrem de uma doença ou de pobreza não estão necessariamente sendo punidos por Ele.
A parábola mostra também aos ricos como não agir. O homem rico na história sabia de Lázaro e suas necessidades, mas agiu com indiferença. Nada fez para ajudá-lo, apesar de ter todos os recursos para isso. Ao ver um mendigo, é fácil desviar o olhar, especialmente quando sua aparência é desagradável, como exemplificou Jesus de forma muito gráfica ao falar das feridas pustulentas do mendigo que eram lambidas por cachorros. Em vez de ver um ser humano, criado à imagem de Deus, alguém que Deus ama, é mais fácil evitar a pessoa, olhar na outra direção e ser indiferente. O cristão deve reagir com amor e compaixão quando vir as condições dos que padecem necessidade.
Nesta parábola, Jesus usa o rico como o mau exemplo para salientar o risco da atitude de alguém ser afetada negativamente por suas posses e riquezas. O fator determinante é a importância que damos aos nossos bens e como os usamos. Servimos ao nosso dinheiro e bens, ou os usamos para a glória de Deus?
Acaso vivemos a nosso bel prazer como o rico na parábola, ou ajudamos os outros? Mesmo que não tenhamos o bastante para dar muito na forma de recursos financeiros, podemos ajudar aqueles em necessidade talvez doando parte do nosso tempo, atenção ou de alguma forma ajudando a atender suas necessidades. Qual é nossa atitude em relação aos pobres e necessitados? Somos indiferentes? Olhamos para eles com desprezo, de forma crítica, achando que merecem estar nessa situação? Ou demonstramos compaixão, desvelo e interesse em nossas ações?
A parábola também adverte sobre ignorar ou rejeitar a Palavra de Deus. O homem rico não tinha uma crença ou tinha a crença errada, e sabia que os irmãos também. Pediu que eles fossem avisados, mas Abraão disse que isso não aconteceria porque a palavra de Deus já estava disponível para eles. Deus responsabilizou o homem rico porque, apesar de este ter acesso à Sua Palavra, não viveu em conformidade com ela, fato evidente por ele não ter tratado o pobre como ensinam as Escrituras.
Nossa maneira de viver afeta nosso futuro na eternidade. Nossas ações e omissões influenciam não apenas a vida hoje, mas por toda a eternidade. Devemos ser cuidadosos com as escolhas que fazemos, como nos conduzimos, como usamos nosso dinheiro, nossos bens e como tratamos os que estão passando necessidade. A soma de nossas decisões, escolhas e ações não apenas nos fazem o que somos hoje, mas afetam nosso futuro na vida após esta.
Nós, cristãos, estamos cercados por muitos que, como o homem rico, não acreditam ou não entendem haver uma vida após desta. Talvez não saibam que receber a salvação por Seu Filho Jesus mudará suas vidas agora e por toda a eternidade. Nosso trabalho é compartilhar nossas riquezas da verdade espiritual com eles. Não devemos ser como o rico na parábola, nos contentarmos com nossas riquezas espirituais, e ignorar os “Lázaros” deste mundo que vivem em grande carência não apenas física, mas também espiritual.
Por sermos cristãos, possuímos o que há de mais valioso: a vida eterna e um relacionamento pessoal com Aquele que torna tudo possível — Jesus. Há multidões de pessoas de todas as camadas sociais que sofrem de carências tremendas e temos as riquezas espirituais da fé, da salvação e do profundo amor de Deus para compartilhar com elas. Somos chamados a fazer o máximo ao nosso alcance para levar-lhes consolo e salvação.
Publicado originalmente em julho de 2014. Adaptado e republicado em setembro de 2024.
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