Caminhando no Amor de Cristo

Julho 30, 2024

Por Peter Amsterdam

[Walking in the Love of Christ]

No livro de 1 João lemos a breve, porém profunda afirmação de que “Deus é amor” (1 João 4:8). Na sequência, João esclarece que, “nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” (1 João 4:9).

Apesar de a frase Deus é amor não se encontrar no Antigo Testamento, o amor de Deus é um tema constante nele. A palavra em hebraico mais comumente usada para se referir ao amor de Deus no Antigo Testamento é chesed, a qual é traduzida em diferentes versões como misericordioso, longânimo, fiel e piedoso. Das 194 vezes que esta palavra é usada, refere-se ao amor de Deus 171 vezes.         

Assim Deus proclamou quando Se revelou a Moisés: “Senhor, Senhor, Deus compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e de fidelidade, que mantém o seu amor a milhares(Êxodo 34:6,7). Nessa passagem Deus fala que Ele é cheio de amor e que mantém o seu amor. No antigo hebraico usava-se a repetição para dar ênfase à mensagem. Em todo o Antigo Testamento, Deus fala que o seu amor se mantém “por mil gerações” e “o seu amor é eterno” (Deuteronômio 7:9; Salmo 103:17).

Desde Gênesis até Malaquias, Deus é retratado como Aquele que é fiel e cujo amor é eterno. No Novo Testamento é feita a afirmação direta de que Deus é amor, e Jesus é retratado como representativo do amor de Seu Pai pela humanidade. Em João 3:16, lemos que “Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Jesus foi o amor de Deus manifesto na terra. Ele instruiu os que O amam e nEle creem a seguir Seus ensinamentos, para que permaneçam em Seu amor e o reflitam para os demais (João 15:9,10). Para nos ajudar a permanecer no Seu amor, Ele diz que, “Aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14:26). O amor é um dos frutos da presença do Espírito Santo em nossas vidas (Gálatas 5:22).

É importante entender que há algumas palavras na Bíblia que foram traduzidas como amor, mas que em grego, língua em que foi escrito o Novo Testamento, tinham significados diferentes. Uma dessas palavras é eros, que expressa o sentimento “estar apaixonado”, e não é usada no Novo Testamento. Outro vocábulo que é traduzido para amor é phileo, usado para expressar afinidade, laços fortes de profunda amizade, amor pelos seres humanos, compaixão e amor fraternal. A terceira palavra é storge, que significa o amor e a afeição que se tem pelos familiares, especialmente os filhos.

A quarta palavra e a mais comumente usada para se referir ao amor no Novo Testamento é agape. Na forma como é usada nas Escrituras, significa o amor de Deus. Por exemplo, em 1 João 4:8, quando afirma que Deus é amor, a palavra usada em grego é agape. Tudo que Deus faz é motivado por e flui do Seu amor. Agape também se refere ao amor que temos por Deus e pelo nosso próximo, um mandamento que Jesus destacou como sendo o maior de todos (Marcos 12:30,31), e o amor semelhante ao de Cristo que devemos demonstrar pelos outros: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos amei” (João 13:34).

Quando lemos sobre o amor (agape) nos Evangelhos e nas epístolas, vemos o amor de alguém que escolhe as necessidades alheias às próprias, que aceita sofrer inconveniências, que abnegadamente sofre para o benefício de outra pessoa, sem esperar nenhum tipo de recompensa. É um amor que exibe boa vontade, fidelidade, compromisso, e um caráter íntegro. É o amor que Jesus mostrou e que O motivou a dar a vida para que pudéssemos viver com Ele para sempre.

Agape é o amor abnegado que Jesus manifestou e que nos chama para copiar, como Paulo escreveu: “Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados, e vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus” (Efésios 5:1,2)

É o amor que Jesus disse que os cristãos devem compartilhar entre si. “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos amei” (João 13:34). É também o amor que devemos mostrar pelos que nos perseguem ou maltratam. “Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem” (Mateus 5:44).

Em algumas traduções, agape é muitas vezes traduzido como “caridade” o que ajuda a entender que esse amor é generoso e altruísta. É fazer aos outros o que se gostaria que fosse feito a si. O chamado para imitar Jesus é um chamado para amar não apenas aqueles com os quais temos afinidade, ou que nos parecem merecedores de nosso amor. Significa amar os que achamos que não merecem, os que pensam, creem e agem de formas com as quais não concordamos. Afinal, Jesus nos disse para amar nossos inimigos e os que nos prejudicam ou nos maltratam.

Em 1 Coríntios 13, muitas vezes chamado “o capítulo do amor, o apóstolo Paulo define bem o amor (agape) ao relacionar o que o amor é, o que faz, e como se manifesta:

“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13:4-7).

Algumas palavras usadas na Nova Tradução na Linguagem de Hoje nos dão um entendimento mais profundo desta passagem. “Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas. Quem ama não fica alegre quando alguém faz uma coisa errada, mas se alegra quando alguém faz o que é certo. Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência” (1 Coríntios 13:4-7). A Nova Versão Transformadora diz: “O amor não é orgulhoso nem grosseiro. Não exige que as coisas sejam à sua maneira. Não é irritável, nem rancoroso. Não se alegra com a injustiça, mas sim com a verdade. O amor nunca desiste, nunca perde a fé, sempre tem esperança e sempre se mantém firme” (1 Coríntios 13:4-7).

Essa lista levanta muito a régua e estabelece bons parâmetros para os que desejam copiar Jesus e procuram viver no amor de Cristo, representando o Seu amor, a Sua compaixão e bondade. Jesus nos deu exemplo de como demonstrar esse amor no nosso dia a dia: “Dê a todo o que lhe pedir, e se alguém tirar o que pertence a você, não lhe exija que o devolva. Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês” (Lucas 6:30,31).

Jesus continua: “… façam-lhes o bem e emprestem a eles, sem esperar receber nada de volta. Então, a recompensa que terão será grande e vocês serão filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso para com os ingratos e maus. Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso. Não julguem, e vocês não serão julgados. Não condenem, e não serão condenados. Perdoem, e serão perdoados. Deem, e lhes será dado” (Lucas 6:35-38).

O Livro de 1 João faz eco aos mandamentos de Jesus sobre o amor: “Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade” (1 João 3:18). E no capítulo seguinte lemos: “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós” (1 João 4:12).

Na sua epístola, Tiago nos oferece exemplos concretos de como colocar em ação nossa fé e o amor de Cristo: “Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se’, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta” (Tiago 2:15-17).

Ter e demonstrar o amor de Cristo é essencial para vivermos de forma a refletir Jesus. Amor pelo Senhor e pelos outros é a base para os atributos que nos ajudam a nos tornarmos mais semelhantes a Cristo. Compaixão, integridade, perdão, bondade, gentileza, paciência, autocontrole, esperança, humildade, alegria, paz, gratidão, santidade e fidelidade são valores que derivam do amor. Tomar a decisão de desenvolver o caráter cristão, afastar-se da velha criatura e se revestir da nova, como escreveu Paulo, também é tem a sua base no amor.  (Efésios 4:20-24).

Amamos a Deus porque Ele nos amou e, fundamentados no Seu amor, queremos ser mais semelhantes a Ele, refletir o Seu Espírito e amor para todos com que temos contato cada dia — mesmo que esse reflexo seja bastante opaco em comparação ao que Ele é em Sua plenitude. Mas por mais fraco que seja nosso brilho, reluzirá em um mundo de trevas e dará glória Àquele que nos criou, nos ama e nos salvou, com quem passaremos a eternidade.

Que possamos crescer em semelhança a Cristo para melhor O refletirmos conforme seguimos no sentido de sermos mais como Jesus.

Publicado originalmente em setembro de 2018. Adaptado e republicado em setembro de 2024.

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