Não Seja Feita a Minha Vontade

Abril 16, 2024

Uma compilação

Jesus estava orando entre as oliveiras. Muitas vezes, Ele Se retirava para “lugares solitários” para orar (Lucas 5:16). No entanto, nunca havia se sentido tão isolado como nesse momento. Nesse tão bem conhecido jardim de oração, Jesus olhou profundamente para o Cálice do Pai que estava prestes a beber e ficou aterrorizado. Na Sua condição humana, Ele queria fugir da iminente tortura física da crucificação. E seu Espírito Santo gemia com um pavor indescritível diante da tortura ainda maior, a espiritual, que sofreria em breve quando seria abandonado pelo Pai.

Sua angústia em relação a esse “batismo” (Lucas 12:50), exatamente o que Ele viera ao mundo para realizar (João 12:27), era tão grande que Jesus clamou: “Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice! Porém não seja o que eu quero, e sim o que tu queres” (Marcos 14:36).

Porém não seja o que eu quero, e sim o que tu queres. Poucas palavras, porém muito profundas.

Deus [o Filho], tendo desejado e até mesmo implorado para se livrar da vontade de Deus, expressou nessas poucas palavras simples uma fé humilde e uma submissão à vontade de Deus que era mais bela do que toda a glória dos céus e da Terra juntos. ... Nunca outro ser humano sentiu um desejo tão intenso de ser poupado da vontade de Deus. E também nunca nenhum ser humano demonstrou uma fé tão humilde e obediente à vontade do Pai. “E, tendo sido aperfeiçoado”,—com confiança e obediência perfeitas ao Pai em todas as dimensões possíveis—tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que Lhe obedecem” (Hebreus 5:9). …

Ninguém entende melhor do que Deus como é difícil para um ser humano aceitar a Sua vontade. E nenhum ser humano sofreu mais ao aceitar a vontade de Deus, o Pai, do que Deus, o Filho. Quando Jesus nos chama para segui-lO não importa o custo, Ele não está nos chamando para fazer algo que Ele não está disposto a fazer ou que Ele mesmo nunca tenha feito.

Por isso olhamos para Jesus como o “autor e consumador da fé” (Hebreus 12:2 ). Ele é o nosso sumo sacerdote que entende, muito melhor do que nós, o que é suportar voluntária e fielmente a vontade de Deus, às vezes excruciante e momentaneamente dolorosa, em prol da alegria eterna que está diante de nós (Hebreus 4:15; 12:2). E agora Ele vive sempre para interceder por nós, para que possamos passar pela dor e alcançar a alegria eterna (Hebreus 7:25). …

Se de corpo e alma desejamos que a vontade de Deus para nós seja feita de uma forma diferente daquela que parece ser a vontade de Deus, podemos orar de todo o coração com Jesus: “Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice”. Mas somente se também orarmos como Jesus as seguintes palavras gloriosamente humildes: “Porém não seja o que eu quero, e sim o que tu queres”.

Porque a vontade de Deus para nós, por mais penosa que pareça no momento, resultará numa alegria indizível e gloriosa e na salvação das nossas almas (1Pedro 1:8).—Jon Bloom1

Entregar a nossa vontade

Acho que muitas vezes ignoramos o significado do que aconteceu no Getsêmani. Mas, no que diz respeito à nossa redenção, nada poderia ser mais importante. Se o Calvário é a porta para a salvação, o Getsêmani foi a dobradiça. Foi nesse jardim que o futuro eterno da humanidade ficou em jogo. Foi ali que nosso destino foi decidido. Toda a história dependia desse momento.

Naquilo em que Adão falhou no Jardim do Éden, Jesus prevaleceu no Jardim do Getsêmani. E o segredo para a vitória de Cristo foi o segredo de toda a Sua vida, incorporado naquelas poucas palavras imortais: “Não seja o que eu quero, e sim o que tu queres”.

Os soldados romanos prenderam Jesus e O crucificaram, mas não puderam tirar Sua vida, pois Ele já a havia entregado no Getsêmani. “Ninguém tira a minha vida de mim”, foi a afirmação de Jesus, “mas eu a dou por minha própria vontade”. Não se pode matar um homem que já está morto! Aqui encontramos o próximo grande segredo para descobrir a vontade de Deus para nossa vida—entregar a nossa vontade.

Devemos começar reconhecendo algo muito simples, mas muito significativo: pode haver uma diferença entre o que queremos e o que Deus quer. Com essa consciência, devemos nos certificar constantemente de que nossa vontade se rende à dEle. Muitas vezes, as pessoas embarcam na jornada de descoberta da vontade de Deus de cabeça feita sobre o que acham que Deus quer que elas façam. E, muitas vezes, o que estão realmente buscando é a validação divina do que desejam.

Se você realmente quer viver a vontade de Deus, não pode simplesmente orar “Seja feita a sua vontade”; você deve incluir Não seja feita a minha vontade”.—Daniel Kolenda2

Seus caminhos são melhores

Você já sentiu a agonia que surge quando sabe que Deus o está chamando para fazer algo que você não quer fazer? A realidade é que a maior parte da Bíblia nos chama para algo que não queremos fazer, mas sabemos que os caminhos de Deus são melhores, por isso confiamos nEle. Se você já se sentiu assim, não está sozinho. Muitos personagens na Bíblia sentiram a tensão de confiar em Deus. O principal foi Jesus.

Antes de ir para a cruz para morrer pelos pecados do mundo (incluindo o seu e o meu), Jesus foi para o Jardim do Getsêmani , onde frequentemente Se recolheia para orar, em frente ao riacho de Cedrom. Foi durante essa sessão de oração que lemos que Jesus orou: “Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice! Contudo, não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mateus 26:39). Mas não percamos algo significativo aqui. Jesus ficou angustiado por causa do que estava por vir e do que Ele teria que fazer…

Mateus 26:37  diz que ele sentiu-Se tomado de “tristeza e angústia”. Marcos 14:33 diz que Jesus estava “tomado de pavor e angústia”. E Lucas registra que um anjo apareceu para confortar Jesus; e Ele estava em agonia, tanto que o suor dEle se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra. (Entretanto, alguns manuscritos não contêm Lucas 22:43-44.) A questão é que Jesus estava muito desconfortável, e até mesmo indagou de Deus se havia uma outra maneira.

No entanto, Jesus estava comprometido a fazer a vontade do Pai, não importava o que acontecesse. ... E a vontade do Pai era que Jesus morresse sob o peso esmagador do pecado do mundo para que Deus e o homem pudessem se reconciliar.

Às vezes, sentimos agonia e angústia por fazermos a vontade do Pai. Ficamos preocupados e aflitos. Ficamos hesitantes. Mas, no final, precisamos dizer: “Não seja a minha vontade, mas a vontade de Deus”. ...

Você pode estar lutando na tensão de confiar que os caminhos de Jesus são melhores do que os caminhos do mundo ... Não fique em agonia, mas se estiver, confie em Deus. Seus caminhos são melhores.—Bryan Catherman3

Sentir-se “inspirado” para fazer a vontade de Deus

Todos nós temos certas responsabilidades e obrigações que o Senhor espera que façamos quer sintamos vontade quer não. Até mesmo oração — a nossa comunhão com o Senhor — é algo que o Senhor espera que façamos e sabemos que devemos fazer. Testemunhar e ser um representante do amor do Senhor para os outros é outra obrigação muito importante e uma responsabilidade.

Nem sempre nos sentimos inspirados e cheios de entusiasmo para testemunhar ou ministrar aos outros, ou para passar tempo com o Senhor, ou mesmo orar. Mas não podemos esperar até nos sentirmos inspirados para fazermos seja o que for que devemos fazer. Não podemos nos basear em nossos sentimentos nem viver Segundo eles—Deus é quem tem que nos guiar.  

Sentir-se inspirado é uma motivação que surge e desaparece. A motivação na qual devemos depender são os fatos, não os sentimentos—o fato que a Palavra de Deus nos diz para fazermos certas coisas que vão nos ajudar em nossa caminhada espiritual com o Senhor ou que irá ajudar outros. São os fatos na Palavra de Deus que mostram qual é a Sua vontade para nós que vão verdadeira e consistentemente nos motivar. Quer você se sinta inspirado a fazer uma certa coisa quer não, se souber que é a Vontade de Deus, simplesmente Lhe obedeça e o faça por fé, como para o Senhor, e Ele irá abençoá-lo por isso.

Se os grandes homens de Deus na Bíblia só tivessem obedecido ao Senhor se e quando se sentissem "inspirados," nunca teriam realizado nada para Ele! Moisés com certeza não sentiu vontade de enfrentar o Faraó e conduzir o povo judeu para fora do Egito. Nem tampouco os profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, sentiram vontade de fazer todas as coisas difíceis e perigosas que o Senhor lhes ordenou que fizessem. Na realidade, a maioria deles discutiu com o Senhor, dizendo que Ele tinha escolhido o cara errado e que devia escolher outra pessoa para fazer o trabalho!

E nós sabemos que Jesus não Se "sentia inspirado" para morrer na cruz pelos pecados do mundo, e até suplicou ao Seu Pai dizendo: “Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice! Porém não seja o que eu quero, e sim o que tu queres”.

Quando sabemos que o Senhor quer que façamos algo, quer sintamos vontade de fazer quer não, deveríamos simplesmente seguir em frente e fazer por fé, confiando nEle. Ele sofreu e morreu para nos redimir, de modo que estamos endividados para com Ele. Nós somos Seus servos, os quais Ele comprou com Seu próprio sangue.

“Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver que lhes foi transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo” (1Pedro 1:17-19 ).—Maria Fontaine

Publicado no Âncora em abril de 2024.


1 https://www.desiringgod.org/articles/not-my-will-be-done

2 https://cfan.org.uk/connect/bible-studies/not-my-will-thine-be-done

3 https://www.redeeminglifeutah.org/news/2017/4/3/not-my-will

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