Novembro 14, 2023
“Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” (Colossenses 3:17).
Tudo o que fizerem.
A verdade é que às vezes adoro “o que quer que esteja fazendo” e às vezes detesto a mesma coisa. Não é assim a vida em todas as fases? Gostamos de algumas, outras toleramos e ainda outras nós detestamos. Algumas fases podem nos fazer rir, chorar, ou até nos deixarem enraivecidos. E ainda assim, durante tudo pelo que estamos passando, Deus insiste: “Tudo o que você fizer... faça em meu nome! Faça isso para Minha glória! Faça isso para Me servir”. Na verdade, Colossenses 3 promete que receberemos uma recompensa quando fizermos seja o que for de todo o coração, como para o Senhor (Colossenses 3:23,24).
Entende o que isso significa? Significa que até as coisas mais corriqueiras nas nossas vidas têm valor. Significa que sempre existe um propósito. Sempre temos a oportunidade de adorar. Passei o dia meditando nesses versículos enquanto lavava louça e limpava as bancadas na cozinha. Pensei em Jesus enquanto conferia o dever de casa, escovava o cabelo, varria o chão e arrumava as lancheiras. E bem na hora em que eu estava retirando o pequeno filtro de fiapos da secadora, senti isso e fui dominada por um sentimento de gratidão.
Parada ali, com uma enorme bola de fiapos na mão, eu disse a Deus: “Não sou digna de servir a Você. Eu não mereço fazer parte do Seu trabalho ou ficar na Sua presença e Lhe oferecer-lhe qualquer presente!”. Na minha pequena e velha lavanderia, senti fortemente a impressionante generosidade de Deus de me permitir participar da Sua história, de fazer contar os momentos mais insignificantes do meu dia, e de Se dignar aceitar um presente das minhas mãos sujas.
Na lavanderia de casa eu entendi que sirvo a um Deus tão generoso que está disposto a tornar sagrados os momentos comuns e ter comunhão comigo na rotina do meu dia a dia. Ele me dá crédito por dobrar roupas íntimas e considera um serviço a Ele. Não é surpreendente? Acho impressionante!
Hoje eu me pergunto, o que se encaixa em “tudo quanto fizerem”? Por acaso serão tarefas domésticas, como as minhas? Será que é cuidar de alguém que está doente? É orar (de novo) por um filho(a) que o deixa de coração partido? Ou mais um dia trabalhando?…
Tudo quanto fizerem ... temos a oportunidade de adorar a Jesus hoje. Então hoje, seja o que for, “façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo” (Colossenses 3:23,24). Querido amigo(a), é ao Senhor Jesus Cristo que você está servindo.—Jeanne Harrison[1]
Certa vez me falaram de um homem que tecia cestas usando freixo. Ele usava uma calça de brim xadrez desbotada. Vivia sozinho no alto dos Apalaches, onde o solo não era propício para plantações, mas as árvores de freixo eram abundantes. Ele tecia cada cesta com oração.
Morava tão longe de tudo que, no seu modo de pensar, o lucro das vendas seriam suficientes apenas para custear seu transporte para alguma feira nos sábados de manhã. Apesar disso, todos os dias ele cortava árvores. Depois de serrá-las, batia nos troncos com um martelo, de maneira a soltar os gravetos que então se amontoavam no chão.
O cesteiro trabalhava calmamente, invisível ao mundo, com os olhos e o coração fixos nas coisas que não se veem.
“Quando o coração descansa em Jesus — invisível e inaudível ao mundo — o Espírito vem gentilmente e preenche a alma que tem fé, dando vida e renovando o íntimo”, escreve Robert Murray McCheyne.
Dia após dia, o homem cortava as árvores, tecia e empilhava cestos. Ele disse que enquanto segurava a tira úmida e a entrelaçava — por baixo e por cima, por baixo e por cima — Deus lhe ensinava a tecer orações em cada cesto de maneira a espantar o vazio e preenchê-lo com coisas eternas e imperceptíveis aos olhos.
Era como se, sob todos os galhos daquelas árvores que se transformavam em cestos, ele tivesse conhecimento do que o clérigo James Aughey escreveu: “Assim como um membro fraco fica mais forte através do exercício, a sua fé também será fortalecida pelos seus esforços para expandi-la almejando as coisas invisíveis”...
O que deixamos de realizar não é tão importante quanto à prioridade que damos às coisas invisíveis. …. … “Ore a seu Pai que está no secreto. Então seu Pai, que vê no secreto ...” (Mateus 6:6). O que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno (2 Coríntios 4:18).
As coisas invisíveis são as mais importantes... Quando o coração e a mente se concentram nelas, ocorre uma mudança visível em nós. O exterior e o visível só se tornam semelhantes a Cristo na medida em que colocamos o nosso foco na Pessoa invisível e indiscernível de Cristo.
João Calvino orou exatamente nesse sentido: “Devemos tornar visível o reino invisível em nosso meio”.— Ann Voskamp[2]
Passei muitos anos sem entender a importância da história [do Natal]. … Mesmo quando paro para ler a história do Natal, não compreendo o significado eterno dessas poderosas palavras. Numa frase, o Natal significa:
Nosso Deus extraordinário desceu a este mundo comum para habitar entre nós.
O nosso Deus Se importou o suficiente para entrar neste mundo decaído na vulnerável forma humana e passar por cada um dos anos de desenvolvimento exatamente como acontece conosco. Durante toda a Sua vida, Jesus foi obediente ao plano de Deus, até à cruz. Nós servimos a um Deus surpreendente!
Se você tem dificuldade em ver Deus nas coisas comuns na sua vida (estou no mesmo barco, pois nem sempre é fácil!), lembre-se de que Ele desceu ao plano comum para que você pudesse um dia ser elevado ao Seu lar extraordinário no céu.—Mikayla Briggs[3]
O escritor britânico, Gilbert Keith Chesterton, escreveu uma série de histórias curtas sobre Padre Brown, um religioso com queda para detetive, que investigava crimes, porém sem perder a compaixão pelo culpado. O padre também intercede em oração para que situações injustas sejam reveladas. Ressentido, o delegado considera que o padre está se intrometendo em suas investigações, mas este não assume o mérito pelos mistérios resolvidos, de maneira que se torna, comprovadamente, indispensável na averiguação dos fatos.
Nessa série, o protagonista é retratado como alguém que consegue façanhas extraordinárias em uma situação modesta, sempre contente e útil no seu dia a dia. Ele não tem um carro, mas sempre tem um sorriso quando pedala sua bicicleta. Não costuma se deixar abalar pelos insultos que recebe, aos quais muitas vezes responde com um elogio a quem o ofendeu ou chamando a atenção da pessoa a algo pelo qual ambos possam estar gratos. Ele simplesmente segue em frente fazendo o que acredita que deve fazer, um dia de cada vez.
Deus criou cada um de nós para um lugar e propósito específicos. Talvez possamos encontrar maior senso de realização na situação em que nos encontramos se aproveitarmos melhor as oportunidades e nos prepararmos mais para produzir o melhor que somos capazes, a cada passo da jornada da vida.
Não há nada de errado em almejarmos a excelência no que fazemos e sermos reconhecidos por isso, mas podemos desanimar se não valorizarmos nosso lugar na vida e gastarmos nossa energia na busca por uma posição aparentemente mais importante. Muitos se destacam em posições de grande utilidade ou proeminência, enquanto a maioria ocupa lugares que costumam ser considerados comuns e não importantes.
A pressão dos pares, a cultura predominante e a mente humana podem muitas vezes nos levar a não valorizar nosso lugar e posição, fazendo-os parecer comuns e nada especiais. Mas isso não existe, se estivermos onde Deus quer que estejamos para podermos servir a Ele e a outros.
Nosso lugar na vida pode não resultar em uma renda expressiva nem em uma posição de destaque, mas pode ser um lugar muito especial e nos trazer o mais profundo senso de realização quando damos prioridade ao que tem mais valor: amar a Deus de todo o coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças; e amar o próximo como a si mesmo. (Marcos 12:29-31) Onde quer que Deus nos tenha colocado neste mundo, pelo tempo que for, independentemente do propósito, podemos ser o Seu sal e a Sua luz para o mundo. Foi o que fez o Padre Brown.—William B. McGrath
Publicado no Âncora em novembro de 2023.
[1] https://www.reviveourhearts.com/blog/dear-god-i-dont-want-serve-you-way.
[2] https://www.desiringgod.org/articles/see-the-invisible-kingdom
[3] https://www.findinggodintheordinary.com/blog/when-an-extraordinary-god-comes-to-an-ordinary-world
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