Agosto 9, 2023
Embora a maioria de nós tenha ouvido muitas vezes o termo “bom samaritano”, talvez não saibamos quem eram os Samaritanos e a inimizade histórica que existia entre os judeus e eles. Para os judeus da época de Jesus, a palavra “samaritano” já era um insulto. (Veja João 8:48).
No ano 720 a.C., Salmaneser, rei do Império Assírio, invadiu Israel e levou cativas as dez tribos do norte para a Assíria. Depois, trouxe estrangeiros das terras longínquas da Babilônia, Cuta, Ava, Hamate e Sefarvaim para habitarem as cidades do norte de Israel, outrora lar dos judeus. Essa região passou a ser conhecida como Samaria (2 Reis 17:22–34).
Muitos dos habitantes ali eram descendentes do reino norte de Israel, mas se casaram com outros povos e assimilaram as diferentes culturas dos que ali se estabeleceram. Esses povos passaram a adorar o Deus dos Judeus, mas não consideravam Jerusalém a cidade santa nem adoravam no templo judeu em Jerusalém. Para eles, o Monte de Gerizim na Samaria era o lugar mais sagrado onde deviam adorar a Deus e construíram um templo no topo dele. Pelo fato de os samaritanos serem um povo mestiço e terem costumes e adoração religiosa diferentes, os judeus evitavam se associar a eles.
Uma vez, enquanto fugia dos Seus inimigos religiosos na terra da Judéia, Jesus decidiu ir para norte para a sua província natal da Galileia. O caminho mais curto e mais direto entre a Judéia e a Galileia era através de Samaria. Mas, como os judeus não se envolviam com os samaritanos, eles preferiam atravessar o rio Jordão e dar uma grande volta ao redor de Samaria para não passar por lá. Para surpresa dos Seus discípulos, Jesus ignorou essas convenções e os levou direto por Samaria.
Jesus e os Seus discípulos percorreram muitos quilômetros pelo terreno acidentado e irregular de Samaria desde cedo. Já era quase meio-dia enquanto caminhavam penosamente sob o sol escaldante na estrada que serpenteava entre o Monte de Gerizim e o Monte Ebal. Ao passarem uma curva na estrada, se depararam com uma vista convidativa: o poço de Jacó, escavado pelo grande patriarca Jacó e os seus filhos quase dois mil anos antes.
O grupo de viajantes cansados e sedentos reuniu-se ao redor do famoso poço para saciar sua sede, mas não tinham cântaro para retirar a água e o poço tinha mais de 30 metros de profundidade. Eles também estavam sem comida. A apenas um quilômetro de distância, no lindo vale entre os dois montes, estava a cidade samaritana de Sicar (chamada Siquem no Antigo Testamento). Decidiram então ir à cidade comprar comida. Mas Jesus, exausto, sentou-se junto ao poço para descansar, enquanto seus discípulos seguiram rumo à cidade. (João 4:5–6).
Depois de os discípulos terem ido embora, Jesus ouviu passos se aproximando e viu uma mulher descendo a estrada em direção ao poço, trazendo nas mãos um cântaro vazio. Ao se aproximar do poço, surpresa ao ver um estranho sentado na sombra ali perto, olhou para ele desconfiadamente umas duas vezes. “Obviamente é um judeu”, pensou. Esperando que Ele não a incomodasse, preparou-se para descer o balde dentro do poço.
— Poderia me dar de beber? — perguntou Jesus. (João 4:7).
Surpresa, a samaritana olhou para Ele.
— Como é que você, sendo judeu, pede de beber a mim, que sou uma mulher samaritana? — ela questionou. Segundo a tradição judaica os judeus eram proibidos de beber de um recipiente que um samaritano “impuro”, principalmente uma mulher samaritana, tivesse tocado. Os judeus não tinham contato algum com os samaritanos (João 4:9).
Jesus respondeu:
— Se você conhecesse o dom de Deus e quem é que lhe diz: “Me dê de beber”, você Lhe pediria e Ele lhe daria água viva!
Admirada com a resposta, a mulher respondeu:
— Senhor, você não tem com que tirar a água, e o poço é fundo. Onde é que vai arranjar essa “água viva”? — Talvez, com a intenção de colocar aquele estranho no seu devido lugar, ela acrescentou:
— Você acha que é maior do que o nosso pai Jacó que nos deu este poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos e o seu gado? (João 4:10–12).
Jesus levantou-Se e, caminhando até ao poço, descansou a mão sobre ele e disse:
— Qualquer que beber desta água tornará a ter sede, mas aquele que beber da água que Eu lhe der, nunca terá sede. Porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna!
“Que afirmação extraordinária”, pensou a mulher. Imagine! Ter um abastecimento de água interno e nunca mais sentir sede! Um pouco na dúvida sem saber se Ele estava falando sério ou não, ela respondeu:
— Senhor, dá-me dessa água para que eu não tenha mais sede e para que não tenha que vir aqui tirá-la. (João 4:13–15).
A resposta inesperada foi:
— Primeiro vá chamar o seu marido e depois volte aqui.
— Eu não tenho marido — disse ela.
Jesus respondeu-lhe:
— Você tem razão quando diz que não tem marido. A verdade é que você já teve cinco maridos e o homem com quem você vive agora não é seu marido. O que você acabou de dizer é bem verdade. (João 4:16–18).
Impressionada, a mulher se indagou como aquele estranho sabia estes detalhes da sua vida particular? Como Ele poderia saber a menos que fosse um profeta? De repente ela teve uma ideia! Ali na frente dela estava uma boa pessoa a quem fazer a pergunta mais controversa e polêmica da época!
— Senhor vejo que é profeta — disse ela. Depois de uma pequena pausa, apontou para o templo no topo do monte de Gerizim e disse:
— Nossos pais adoraram neste monte, mas vocês, os judeus, dizem que é Jerusalém o lugar onde se deve adorar.
Jesus respondeu-lhe:
— Mulher, acredite no que eu lhe digo: a hora vem em que você não adorará o Pai nem neste monte nem em Jerusalém sequer. Mas chegará a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim O adorem! Deus é um Espírito e é necessário que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade! (João 4:19–24).
Admiradíssima com essa resposta ela achou uma maravilha! “Quem dera se pudéssemos simplesmente adorar a Deus nos nossos corações onde quer que estejamos!” Ao ouvir a resposta à sua pergunta, decidiu então fazer uma pergunta ainda mais importante sobre a tão esperada vinda do Salvador, o Messias.
— Eu sei que o Messias, que é chamado o Cristo, quando vier nos dirá tudo.
Jesus, olhando profundamente nos olhos dela, disse:
— Eu sou Ele; Eu que falo com você. (João 4:25–26).
Ela olhou para Jesus espantada. “Será que Ele é realmente o Messias, o Cristo?” Naquele exato momento, eles foram subitamente interrompidos pelo som dos discípulos de Jesus que regressavam da cidade. Ao se aproximarem, a mulher ergueu-se de um salto e, deixando o seu cântaro, correu pela estrada em direção à cidade, a um quilômetro de distância.
Ofegando, chegou a Sicar. O mercado ainda estava cheio de compradores e via-se homens sentados à sombra das portas da cidade, descansando e conversando.
— Venham! — exclamou ela emocionada, atraindo uma multidão. — Venham ver um homem que sabe tudo sobre mim. Será que Ele é o Cristo? (João 4:28–29). Pouco depois os discípulos de Jesus viram uma multidão se apressando pela estrada abaixo, vinda da cidade e caminhando em direção a eles, estando a mulher no meio deles ainda falando excitadamente. A multidão se aproximou do poço onde Jesus e Seus discípulos estavam, e imediatamente as pessoas começaram a pedir com insistência que ficassem na sua cidade e lhes ensinasse. Jesus concordou em ficar alguns dias. Os samaritanos, cheios de alegria, os levaram de volta para Sicar e lhes deram a melhor comida e o melhor alojamento que puderam preparar.
Durante dois dias Jesus ensinou na cidade deles. Ao ouvirem as lindas Palavras da verdade que Ele ensinou muitos passaram a crer e, maravilhados, disseram à mulher:
— Já não é pelo que você disse que nós acreditamos, porque agora nós mesmos O ouvimos, e sabemos que este homem é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo! (João 4:39–42).
No último dia, enquanto Jesus e os Seus discípulos se preparavam para continuar a sua viagem para a Galileia, uma grande multidão da cidade foi até onde eles estavam para se despedirem e os presentearam com alimentos e vinho para a viagem. Com um largo sorriso no rosto, a samaritana, com o coração cheio de amor por Jesus, abriu caminho por entre a multidão para se despedir. Agora ela entendia perfeitamente o significado das Suas palavras naquele dia junto ao poço, e um ribeiro de água viva fluía na sua alma.
Esta linda história encontrada no livro de João nos ensina que Jesus não hesitou em quebrar as tradições da época de maneira a alcançar almas perdidas e solitárias com o amor e a verdade de Deus. Ele não só ignorou as diferenças culturais, raciais e religiosas dos samaritanos, mas olhou além dos pecados da mulher junto ao poço e viu uma alma que ansiava pelo amor e pela salvação de Deus.
Jesus disse à mulher que se ela soubesse o que era a dádiva de Deus, ela Lhe teria pedido “água viva saltando para a vida eterna”. Esta é uma das promessas mais lindas da Bíblia — a dádiva da salvação, a vida eterna. Romanos 6:23 diz: “O dom (dádiva) de Deus é a vida eterna por Jesus Cristo, nosso Senhor.” A água viva simboliza não só a vida eterna, mas também o Espírito Santo de Deus que Jesus prometeu que viveria nos nossos corações se acreditássemos nEle. (João 7:37–39).
A Bíblia nos diz que “o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens” (Atos 7:48). O verdadeiro templo de Deus é o nosso coração, como diz em 1 Coríntios 6:19: “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo que habita em vós?”
Se você ainda não recebeu o maravilhoso dom da vida eterna pela fé em Jesus e na Sua morte na cruz para o perdão dos nossos pecados, pode fazer isso agora. Basta pedir a Ele a dádiva da salvação e que o Seu Espírito habite em você!
De um artigo no livro Tesouros, publicado pela Família Internacional em 1987. Adaptado e republicado em agosto de 2023.
Copyright © 2024 The Family International