O Pavio, a Torneira e a Peça de Xadrez

Julho 5, 2023

Nina Kole

[A Wick, a Faucet, and a Chess Piece]

Alguns anos atrás, eu fiz uma viagem a Paidha, em Uganda, para dar aulas bíblicas para um grupo de alunos. Levei alguns livros e artigos cristãos que eu queria incluir nas minhas aulas, com planos de dar uma aula sobre o tema de deixar Deus trabalhar através de nós. Um tópico que eu gosto muito, porque acho muito encorajador quando o Senhor escolhe pessoas inesperadas para fazer o Seu trabalho, e depois não só as ajuda a fazê-lo, mas também a fazê-lo de forma brilhante.

Moisés queixou-se para o Senhor que não era bom orador, mas mesmo assim Deus o escolheu para guiar os Judeus para fora do Egito. Diz-se que falar na frente de uma plateia é o maior temor de qualquer pessoa comum. E o segundo maior é o medo de morrer. Certa vez, Jerry Seinfeld disse brincando: “Isso quer dizer que a maior parte das pessoas em um funeral preferiria estar no caixão do que fazendo o discurso fúnebre”. Olha, falando sério, podem imaginar que Moisés precisou de muita fé de que Deus sabia o que estava fazendo quando o escolheu para uma missão tão importante. E, claro, Deus Se manifestou através dele!

E também teve o apóstolo Pedro, que às vezes parecia ser bem nervoso. Muitas vezes ele entrava em discussões e todo mundo sabe que ele negou conhecer Jesus justo antes de Ele ser crucificado. Mas, apesar disso, Deus ainda usou Pedro para alcançar milhares de pessoas depois de ter recebido o Espírito Santo. Podemos ter certeza que, a essa altura, Pedro sabia que foi só o poder do Senhor que o capacitou a tocar a vida de tantas pessoas.

Deus não parece ser seletivo e usar apenas pessoas com talento, vasta experiência, o background certo, ou até aquelas que são membros proeminentes da sociedade. Ele prefere alguém inexpressivo e então fazer algo maravilhoso através dessa pessoa, para que todos saibam que é obra dEle. Com esse pensamento, podemos concluir que uma das qualidades mais importantes para o Senhor é a disponibilidade da pessoa.

Um artigo que li para os estudantes de Paidha sobre o tema de estar à disposição, usava um lampião de querosene e uma torneira para explicar o conceito de ser um canal para o trabalho de Deus. O artigo dizia o seguinte:

“Quando eu era criança, todas as casas tinham lampiões de querosene nas mesas. Eles tinham lindos bojos de vidro para o querosene, de forma que se podia ver o pavio e o nível do querosene e assim saber quando era necessário reabastecê-lo. O lampião iluminava melhor quando estava cheio de querosene. Quando o nível baixava, uma parte muito grande do pavio ficava fora do querosene em vez de ensopado nele, e então o pavio queimava mais rápido, e o lampião começava a soltar fumaça.

Às vezes somos como um lampião cujo querosene está no nível mais baixo. Nós nos esforçamos demais, trabalhamos demais, e tentamos fazer tudo sozinhos. Mas isso não dura muito, pois precisamos ficar imersos em Jesus, que seria como o nosso querosene e deixar que Ele arda para iluminar o caminho, porque se tentarmos fazer isso por conta própria, logo vamos queimar e apagar.”[1]

O autor do artigo estava falando para pessoas de um país ocidental, então continuou dizendo: “Hoje em dia, a maior parte das pessoas não sabe muito sobre lampiões de querosene, mas algo que todas as pessoas conhecem é uma torneira". E então explicou que a torneia não tem água nem cria a pressão para a água sair, ela é apenas um duto pelo qual a água passa. (Mais um exemplo de estar disponível e disposto.)

Contudo, tive que rir deste exemplo da torneira, porque em Paidha ninguém tem água encanada. As pessoas tomam banho de baldes — um balde com água quente, outro com água fria. Mas todo o mundo tem um lampião à querosene, já que não têm eletricidade.

Em conta disso, alterei rapidamente a frase, de forma a ser mais aplicável. Eu li: “Hoje em dia, a maioria de vocês sabe o que são lampiões de querosene, mas uma coisa que nem todo mundo viu são torneiras de onde sai água”. Graças a Deus deu certo e eles entenderam o conceito que eu estava explicando.

Outra forma de considerar este princípio é pensando em Deus como qualquer que seja o meio que você use para ouvir música. Ele tem uma vastíssima coleção de músicas e a playlist perfeita, mas precisa de um meio para tocá-las. Você é como os fones de ouvido ou alto-falante. Você não tem que compor a música ou montar a playlist, mas desempenha um papel muito importante para levar a música até o ouvinte. Devemos lembrar que, apesar dos alto-falantes desempenharem um papel importante, sem a fonte da música, eles são inúteis.

Acontece o mesmo conosco quando queremos transmitir o amor e a mensagem de Deus. Na verdade, Jesus disse: “Sem Mim, nada podeis fazer” (João 15:5). Às vezes é fácil esquecer isso, porque o Senhor nos deu um cérebro maravilhoso e a capacidade de fazer muita coisa, de forma que pode ser fácil achar que somos maravilhosos e esquecer que precisamos muito da ajuda do Senhor.

Certa vez, visitei uma família na Namíbia, no sul da África, que estava dando aulas bíblicas para um amigo, que por acaso também era campeão nacional de xadrez. Uma vez na semana, ele vinha e ensinava para as crianças estratégia de jogo, e elas participavam de torneios locais e ganhavam muitas medalhas. As crianças se tornaram jogadores de xadrez fenomenais!

Eu joguei com a mais nova, um menininho, e ele me deu uma surra toda vez. Ambos tínhamos as mesmas peças e seguimos as mesmas regras, mas as estratégias e táticas dele eram muito melhores que as minhas.

Se você já jogou xadrez sabe que algumas peças só podem mover em uma direção e outras só em diagonal ou em “L”. A rainha pode se mover em linha reta em qualquer direção e tão rápido quanto ela quiser. Poderia se dizer que a rainha é mais poderosa ou útil que os peões, mas a realidade é que a menos que o jogador decida mover a rainha, ela fica ali travada. Além disso, ela, como qualquer outra peça de xadrez, ainda pode ser facilmente derrotada se movida na direção errada.

Eu gosto de ver a minha vida dessa forma, como um jogo de xadrez e as instruções do campeão nacional. Posso achar que sei o que eu quero para a minha vida e às vezes até sei como alcançar isso, mas aprendi pela experiência (grande parte através dos erros) que se eu não recorrer ao Senhor (meu Campeão) em busca de treinamento, orientação e sabedoria, posso rapidamente aprontar uma confusão.

Se seguirmos sincronizados com o Senhor, Ele pode esquematizar situações muito além do nosso poder! Ele pode gerar situações que parecem “coincidências”, mas que são de suma importância. Ou Ele pode nos colocar no lugar certo, na hora certa, para realizar algo impressionante.

Reserve um tempo para incluir Deus no seu planejamento e no seu dia a dia, verá que as coisas vão funcionar muito melhor, transcorrer mais tranquilamente, e ser menos estressantes. Você só tem que ser o pavio, a torneira, ou essa peça de xadrez submissa, e deixar que Deus planeje todas as estratégias e o guie através das diferentes jogadas do Seu plano de mestre.

Artigo adaptado do podcast Just1Thing, um recurso cristão de edificação de caráter para jovens.


[1] “The Oil Lamp,” More Like Jesus (Aurora Production, 2001).

 

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