A Oração do Senhor—3ª Parte

Maio 11, 2023

Peter Amsterdam

[The Lord’s Prayer—Part 3]

Depois dos três primeiros pedidos na oração do Pai Nosso, nos quais oramos que Deus seja reverenciado, que Seu reino venha, que Sua vontade seja feita na Terra como é no céu, a oração deixa de apresentar petições relacionadas ao Pai para se concentrar nas necessidades humanas. “Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal” (Mateus 6:10-13). Esse padrão — priorizar Deus e, em seguida, as necessidades humanas — aparece também em outro momento, nos ensinamentos de Jesus: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mateus 6:33).

A oração passa da segunda pessoa do singular (teu nome, teu reino, tua vontade) para a primeira do plural (o pão nosso, nossas dívidas). Quem ora se dirige a Deus, mas no centro da oração não estão apenas as necessidades do indivíduo, mas também dos outros crentes: o pão “nosso” o perdão das “nossas” dívidas, e que “nós” sejamos livrados do mal.

Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia expressa o pedido para que nosso Pai atenda às nossas necessidades físicas — as necessárias para o nosso sustento. Ao lhe pedir nossas necessidades, expressamos nossa dependência dEle. No primeiro século, os trabalhadores que viviam às margens do Mediterrâneo eram pagos diariamente e tinham apenas o bastante para viver o dia a dia. O que recebiam por um dia de trabalho era o suficiente apenas para comprar a comida daquele dia. Esse grau de insegurança dava a essa oração grande importância.

A provisão do pão de cada dia remetia os judeus ao maná que Deus enviara todos os dias no deserto. Diariamente, Ele supria o suficiente para cada dia, exceto no sexto dia da semana, quando dobrava a porção, para que não precisassem fazer a coleta no sábado (Êxodo 16:13-26). Deus supria, literalmente, o pão de cada dia.

Por essa oração, reconhecemos nossa dependência de nosso Pai celestial. Expressamos que contamos com Ele para a provisão de nossas necessidades e é o que Lhe pedimos para fazer. O Senhor quer que confiemos nEle e dependamos dEle para a provisão de nossas necessidades.

O quinto pedido é: Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. A oração do Senhor em Mateus usa as palavras dívida e devedores ao se referir ao pecado. No texto em Lucas, o pedido é que “nossos pecados sejam perdoados assim como perdoarmos a qualquer que nos deve” (Lucas 11:3,4). Em aramaico, língua materna de Jesus, a palavra khoba era usada para expressar tanto dívidas quanto pecados. As palavras dívidas, em Mateus, e pecados, em Lucas, ambas expressam transgressões contra Deus.

Ao dizer para os discípulos para pedirem perdão por suas dívidas, assim como perdoam aos seus devedores, Jesus Se refere a sermos perdoados de nossos pecados. Deus, por graça e misericórdia, nos perdoa de nossos pecados pela salvação. Portanto, devemos perdoar aos outros, como uma extensão da Sua graça. Os que são perdoados devem perdoar aos outros.

A reconciliação — o fim de um conflito e renovação de uma relação — é distintiva do cristianismo, do reino de Deus. Ele reconstruiu o relacionamento entre a humanidade pecaminosa e Ele próprio, por meio de Jesus. Deus renovou essa relação pelo perdão. Como membros do Seu reino, devemos fazer o mesmo por aqueles que pecam contra nós. Devemos refletir a natureza de Deus, que é essencialmente de misericórdia e perdão. Isso faz parte de ser um cristão.

O último pedido é: E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal (Mateus 6:13). A frase anterior, perdoa as nossas dívidas, abordou nossos pecados passados. Agora a oração fala de pecados futuros.

Às vezes surge o seguinte questionamento sobre o primeiro pedido: será que Deus nos deixa cair em tentação? No livro de Tiago, lemos: “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta” (Tiago 1:13).

A palavra grega usada aqui, peirasmos, significa teste, provação ou tentação. Apesar de significar, primariamente, “teste”, quando o termo é usado no sentido de Satanás submetendo pessoas a testes para que fracassem, quer dizer “tentação”. Sabemos que a vida é cheia de testes morais inevitáveis, sobre os quais muitas vezes temos de tomar decisões. A oração não é para nunca sermos testados, mas parte da compreensão de que somos fracos e, por isso, pedimos ao nosso Pai para nos poupar de algumas situações, porque nossa fé pode não ser o suficiente.

Na segunda parte da oração, pedimos a Deus que nos livre do mal. Estamos pedindo a Deus para nos resgatar, nos libertar e nos livrar do mal. Em algumas traduções, a expressão grega ponēros aparece como “mal”. Ambas estão tecnicamente corretas e os comentaristas parecem estar igualmente divididos entre as duas opções. De qualquer forma, oramos a Deus para nos resgatar. O apóstolo Paulo escreveu: “O Senhor me livrará de toda obra maligna e me levará a salvo para o seu Reino celestial” (2 Timóteo 4:18).

A oração do Pai Nosso termina com um pedido baseado no entendimento de que precisamos da ajuda de Deus para manter saudável nossa relação com Ele. Somos pecadores por natureza. Entendemos esta fraqueza dentro de nós mesmos e sabemos que precisamos de ajuda para evitar o pecado. Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal é o pedido de quem deseja estar em um bom relacionamento com Deus. Estamos pedindo ao nosso Pai que nos proteja do pecado, de situações em que não passaremos no teste e de todo tipo de mal — em nossos corações, nossas atitudes e nossas ações.

Isso pedimos porque amamos a Deus e queremos manter nossa relação com Ele saudável e contínua. Rogamos ao nosso Pai para nos impedir de qualquer coisa que possa ficar entre nós e Ele e interromper nossa comunhão com Ele.

A oração no Evangelho segundo Mateus termina com: porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém (Mateus 6:13).

Esta frase não consta em muitas traduções e é considerada como uma adição feita no final do segundo século (mas podem estar inclusas em uma nota de rodapé ou em itálico ou entre parênteses, sendo que as versões Rei James e a Nova Versão Rei James em inglês apresentam a frase no corpo do texto. Todos os comentários que li a tratam como uma doxologia adicionada após os Evangelhos terem sido escritos. O texto reflete a oração do Rei Davi, encontrada em 1 Crônicas 29:11,12:

“Teus, ó Senhor, são a grandeza, o poder, a glória, a majestade e o esplendor, pois tudo o que há nos céus e na terra é teu. Teu, ó Senhor, é o reino; tu estás acima de tudo. A riqueza e a honra vêm de ti; tu dominas sobre todas as coisas. Nas tuas mãos estão a força e o poder para exaltar e dar força a todos.”

Ainda que não tenha sido parte do ensinamento original de Jesus, a frase oferece um desfecho belo e apropriado ao Pai Nosso. A oração começa fazendo reverência ao nosso Pai, depois se concentra em nossas necessidades e termina celebrando a beleza do Seu poder e da Sua força.

No Evangelho segundo Mateus encontramos a Oração do Senhor no Sermão da Montanha, logo após Jesus ensinar como não orar: “E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem” (Mateus 6:7,8). Jesus ensinou aos discípulos uma oração curta que aborda nossas necessidades e as de outros cristãos. É uma prece que inclui a glorificação de Deus Todo-poderoso e nosso relacionamento que, na condição de Seus filhos, temos com Abba, nosso amoroso e carinhoso Pai.


Querido Pai, Você nos salvou pela morte abnegada do Seu Filho e nos adotou na Sua família, de forma que agora temos Você — aquele que está acima de todos os outros, o Criador de todas as coisas — como nosso Abba, nosso Pai. Conforme O conhecemos melhor, Seu amor, poder e santidade, queremos Lhe dar a reverência que Você tanto merece.

Você é Deus, santo, presente, justo e merece nosso louvor e adoração. Juntemos nossas vozes às dos que estão no céu e incessantemente proclamam: “Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir” (Apocalipse 4:8). E que sejamos como os vinte e quatro anciãos que lançaram suas coroas diante do Seu trono dizendo: “Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas” (Apocalipse 4:10,11).

Reine em nossas vidas e sobre todo o mundo. Use todos que acreditamos em Você para compartilhar a boa notícia da salvação. Ensine-nos a viver segundo os princípios do Seu reino; ajude-nos a estarmos conscientes deles em nossas escolhas e decisões, para que possamos refletir Você e Seus caminhos.

Opere nas vidas de todos que acreditam em Você, para que tantos quanto possível venham a conhecer Você e passem a viver de forma a refletir a vida no Seu reino. Porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém.

Publicado originalmente em agosto de 2016. Adaptado e republicado em maio de 2023.

 

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