“Vigiem Comigo”

Fevereiro 8, 2023

William B. McGrath

[“Watch with Me”]

Quando Jesus estava prestes a passar por Sua provação mais agonizante, Ele fez o seguinte pedido a Seus três discípulos de maior confiança: Pedro, Tiago e João: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo” (Mateus 26:38). Todos nós sabemos como eles falharam. Ainda que Jesus fosse Deus na carne, houve momentos em que Ele realmente apreciaria algum apoio moral, uma companhia humana. Ele era “um homem de tristeza e familiarizado com o sofrimento” (Isaías 53:3) e “alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado” (Hebreus 4:15). Ele passou pelo sofrimento e pela decepção igual a nós, seres humanos.

E no momento que antecede a Sua morte, temos um olhar ampliado sobre a dor que Ele suportou. Contemplando Seu futuro próximo, Ele queria companhia; Ele queria saber que eles estavam lá ao Seu lado. Ele estava prestes a enfrentar o sofrimento máximo. Todos nós sabemos o quanto isso pode significar para nós quando alguma tristeza extrema chega a nossa vida, e então alguém que conhecemos vem ver como estamos, e cuida de nós com altruísmo o suficiente para ficar ao nosso lado, e apenas para “vigiar conosco”.

Existe uma canção antiga, “Someone to Watch Over Me,” (Alguém para vigiar comigo) que expressa essa necessidade humana, este anelo que todos temos, de sabermos que há alguém conosco, para velar por nós, vigiar conosco, especialmente em momentos difíceis.

Recentemente eu tive bastante sentimento de culpa e senti uma tristeza segundo Deus por ter falhado a alguém desta maneira. Não consegui realmente estar presente para essa pessoa, para vigiar com ela, quando precisava de mim. Ela não implorou por minha preocupação ou companheirismo, mas depois se tornou evidente o quanto precisava do meu suporte naquele momento de sua vida.

Meses após minha visita a esta pessoa, fui informado da gravidade do trauma emocional pelo qual ela havia passado e dos efeitos duradouros que estava tendo. Sei que poderia ter sido mais sensível ao que esta pessoa estava passando, e em retrospectiva, sei que agi de forma bastante insensível. Depois de ouvir a notícia da gravidade da condição emocional desta pessoa, um ou dois dias se passaram, e então, por acaso, encontrei uma velha canção “When a Soldier Makes It Home,” (Quando um soldado volta para casa) cantada por Arlo Guthrie. Quando a estava ouvindo, fui profundamente tocado, e senti a necessidade de me arrepender sinceramente perante o Senhor pela minha grave falha. Eu sabia que havia falhado em estar “presente” para aquela pessoa amada na sua hora de necessidade. Fiquei triste, mas também entendi a necessidade de prestar mais atenção aos outros, vigiar e orar, especialmente quando se trata de pessoas na minha família imediata.

Como diz na canção de Arlo, os soldados podem voltar da guerra e se sentir solitários e abandonados. Eles podem ter ficado profundamente marcados emocionalmente por suas experiências. E todos nós, de alguma forma, somos como o soldado solitário retornando a um mundo que simplesmente não parece se importar. Todos nós podemos ficar profundamente marcados, por algum tipo de abuso, uma relação dolorosa ou maus-tratos dolorosos. Portanto, a negligência e a indiferença por parte dos demais só servem para piorar as coisas. Parece que Jesus sofreu isto na noite de Sua agonia no jardim. Que Deus conceda a Sua compaixão, Sua vigilância e libertação da indiferença fria e sem vida deste mundo. Como pai, oro para que eu possa ser sempre fiel em vigiar e orar por cada um dos meus filhos e netos.

Podemos deixar de perceber quando os que nos rodeiam realmente precisam até mesmo de um pouco do nosso tempo e apoio moral. Se somos casados e temos filhos, tornamo-nos responsáveis, por toda a vida, por sermos sensíveis aos nossos entes queridos e por passarmos parte do nosso tempo vigiando com eles, especialmente durante seus momentos difíceis.

É preciso prática, submissão e sensibilidade aos impulsos do Espírito de Deus, quando surgem essas oportunidades especiais. Deus pode precisar de nós para vigiar com alguém quando não estamos esperando, ou quando nos consideramos não completamente preparados, ou talvez simplesmente quando temos outros planos ou preferências. Não podemos controlar o resultado dos eventos, nem impedir os quebrantamentos pelos quais os outros estejam passando, mas podemos estar ao lado deles e dar-lhes um toque do Espírito de Amor de Deus, e uma oração, que pode parecer uma coisa pequena para alguns, mas que realmente significa muito.

Quando Jesus precisou, Seus discípulos mais próximos Lhe falharam, e depois fugiram, mas devem ter aprendido bem a sua lição. Após a ressurreição, Jesus os visitou. A obediência deles ao Seu mandamento de esperaram em Jerusalém[1] levou a consequência maravilhosas e muito abrangentes.  Sabemos a partir da história da igreja primitiva que esses primeiros doze apóstolos foram grandemente usados por Deus e, por fim, receberam grande honra.[2] Apesar dos erros dos discípulos nos primeiros anos de seu treinamento, eles prosseguiram e fizeram coisas grandiosas.

Sei que o Senhor terá incumbências especiais, pedidos especiais para mim durante a minha vida — muito provavelmente será uma ação que englobará sacrifício da minha parte em prol de outros. Eu não preciso estar ansioso com relação a isso, mas apenas “vigiar e orar” (Mateus 26:41), para que eu atenda ao Espírito de Deus. Suas incumbências precisam ser feitas em Seu tempo, e não de acordo com a minha própria conveniência. Sei que tenho que me apoiar nEle, ficar perto dEle e manter um coração rendido que irá andar para frente quando Ele confirmar o caminho que devo seguir. Ele pode levar a situações às quais, sozinho, eu não conseguiria lidar, mas se Ele for comigo, tudo correrá bem, e minha vida dará frutos celestiais duradouros.


[1] Ver Atos 1:1–14; 2:1–4.

[2] Ver Apocalipse 21:14, 1 Pedro 2:5, Atos 5:12.

 

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