O Desafio de Perdoar

Fevereiro 7, 2023

Compilação

[The Forgiveness Challenge]

Perdoar é sem dúvida um desafio, contudo uma faceta fundamental de viver a fé cristã. Jesus não só ensinou muito sobre esta importante virtude, mas também foi um exemplo vivo. Em Lucas 9:51-56, lemos que Jesus não foi bem recebido em uma cidade samaritana porque estava a caminho de Jerusalém. Os discípulos ficaram tão zangados com a população local que se ofereceram para clamar fogo do céu e queimá-los.

Jesus os fez lembrar que Ele não havia vindo para destruir vidas, mas salvá-las. Ele também demonstrou misericórdia e perdão por aqueles que, se não fosse por Ele, teriam sido castigados, tais como a mulher em João 8:3-11, pega cometendo adultério. Outro bom exemplo é a famosa oração que Jesus fez por aqueles que O crucificaram: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).

Devo admitir que tenho tendência a guardar ressentimento. Mas quando vem a tentação de ficar ressentido com o que alguém disse ou fez que me ofendeu, aprendi que devo pensar nas ocasiões quando eu próprio precisei ser perdoado por ter ofendido a outros.

Quando criança, ouvi a história sobre um fazendeiro e sua esposa que venderam sua propriedade porque queriam comprar outra. Mostram-lhes uma fazenda abandonada, mas com terra boa. Depois que perguntaram aos vizinhos por que ninguém morava lá, lhes disseram que era por causa de um arrendatário chamado Grimes que aprontava com qualquer pessoa que tentasse viver naquela propriedade. Um vizinho chegou a dizer que ele era “o diabo encarnado”.

O fazendeiro, para surpresa de sua esposa e vizinhos, disse todo determinado: “Acho que vou comprar esta fazenda. E se o velho Grimes tentar aprontar alguma para cima de mim, eu mato esse velho diabo.” Quando lhe perguntaram o que ele queria dizer com aquilo, ele simplesmente respondeu: “Eu sei lidar com esse tipo de gente”.

Ele foi fiel à sua palavra e, junto com a esposa, comprou a fazenda e se mudou para lá. Os problemas começaram quase que imediatamente. Eles acordaram uma manhã e viram que o suprimento de água havia sido cortado porque o encanamento tinha sido desenterrado. Noutro dia, quando o fazendeiro foi ordenhar as vacas, não encontrou nenhuma no estábulo, porque a cerca de acesso ao campo onde elas pastavam estava cortada.

No dia seguinte, as linhas do varal estavam cortadas e os cachorros foram envenenados. O fazendeiro e sua esposa não tinham dúvidas de quem estava por trás de tudo aquilo. Mas, em vez de ficarem zangados, eles estudaram os conselhos de Jesus sobre amor e perdão, e oraram para conseguirem colocá-los em prática. Decidiram assar um pão e deixá-lo na varanda do Grimes, junto com outros alimentos. Eles também pediram a Deus uma oportunidade de encontrar o homem e lhe falar sobre o Senhor.

Certo dia, o fazendeiro vê o infame Grimes passando de carro a caminho da cidade. O carro dele fica atolado, e o fazendeiro o ajuda a tirá-lo da lama. Grimes então expressa sua frustração porque cada vez que ele fazia uma maldade com o fazendeiro e a sua esposa, eles faziam algo bom para ele. “Você está me matando”, ele disse. “Não aguento mais esta situação”.

O fazendeiro apertou a mão de Grimes e o convidou a ir à sua casa conhecer sua esposa. Ela ficou mais do que feliz com a resposta à oração de ambos, e chamou Grimes para se sentar e tomar algo quente. Grimes então lhe disse que amaldiçoou a Deus pela morte de sua esposa e filho ainda neném, por causa de um motorista bêbado. Ele pergunta se Deus poderia se importar com um “velho ranzinza e boca suja” como ele. O fazendeiro e sua esposa lhe contam sobre o poder de Jesus para curar e perdoar. Grimes pede perdão por todas as maldades que lhes havia feito e aceita Jesus em seu coração.

Conta-se também a história de uma enfermeira plantonista que foi chamada para cuidar de um homem que tinha sido o responsável pela prisão injusta de seu pai anos antes. Ela reluta em ir cuidar do doente, mas o faz por saber que seu pai, que fora pastor, gostaria que ela fosse uma pessoa que perdoava aos outros. Apesar da rabugice do velho, a enfermeira se mostra gentil e paciente—e acaba tendo a oportunidade de compartilhar sua fé em Deus com o homem. No final, ele foi de tal maneira tocado pelo amor e a gentileza da moça, que pagou a construção de uma nova ala no hospital, que recebeu o nome do pai da enfermeira.

Perceber que existem pessoas neste mundo que foram magoadas muito mais profundamente do que eu, contudo aprenderam a perdoar e superaram sua mágoa, me motiva a buscar essa virtude. Por mais difícil que seja o desafio de perdoar, uma vez que o superamos e exercitamos tal virtude, é a coisa mais libertadora e transformadora que existe.—Steve Hearts

Por Que Perdoar?

Li certa vez uma definição de perdoar que dizia: agir como se o mal feito nunca tivesse acontecido. Soa como a definição de Deus de perdoar. Imagine o quadro, uma neve branquinha e bem no meio uma poça de sangue. Horrível, não é? Eu sei. Mas também algo que se destaca bastante. O vermelho contra o branco é muito difícil de não ver. Então cai a neve, e todo aquele sangue é coberto, como se nunca tivesse estado ali. É assim que Deus perdoa. Ele faz como se o erro nunca tivesse acontecido.

“Vinde, então, e argui-me, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã” (Isaías 1:18). Esta é uma passagem do primeiro capítulo do livro de Isaías, quando Deus repreende Israel por ter se afastado dEle, se rebelado e basicamente se tornado como Sodoma e Gomorra.

Mas depois de 15 versículos lhes dizendo que eles haviam se afastado dEle, a mensagem muda abruptamente para uma de redenção. Ele diz para eles se limparem, aprenderem a fazer o bem, buscarem a justiça, e finalmente, que apesar dos pecados deles serem como o escarlate, Ele os tornaria brancos como a neve.

Para nós, humanos, perdão dessa magnitude é muito difícil. É simplesmente difícil pegar na sua mágoa, sua raiva, a injustiça que você sente que lhe foi feita, e “fazer como se nunca tivesse acontecido”. Não posso dizer que entenda totalmente o perdão, mas seguem-se algumas coisas que a Bíblia ensina a respeito:

Perdoar endireita o seu coração com Deus. Você provavelmente já ouviu o versículo que diz: “Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará.” (Mateus 6:14). Isto volta ao fato básico de que todos somos pecadores que precisamos do perdão de Deus (Romanos 3:23). Para Deus, todo pecado é horrível. Todo pecado nos separa de Deus, e se quisermos ter um relacionamento com Ele, precisamos de Seu perdão; portanto, precisamos perdoar aos outros.

Perdoar cura você. É realmente verdade que perdoar os outros muitas vezes é o primeiro passo em se permitir começar o processo de cura de seja o que for que o magoou. Você talvez já tenha ouvido aquele pequeno provérbio que diz, “agarrar-se ao ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa sofra”. Independentemente do que a outra pessoa tenha feito, ou do que você ache que ela merece, o ressentimento prejudica você muito mais do que a outra pessoa.

Pode ser muito difícil perdoar, mas muda a sua vida para melhor. Com certeza que pode ser muito difícil perdoar alguém. Às vezes, para mim, pensar em termos de “faça como se nunca tivesse acontecido” é simplesmente um passo grande demais para dar de primeira. Eu tenho todo o tipo de sentimentos com relação à situação, à pessoa, ao futuro e ao passado.

Talvez seja preciso repetir algum tipo de afirmação sempre que pensar no acontecido ou na pessoa. Algo tipo, “Eu escolhi perdoar fulano. Eu não me defino por fulano ou pelo acontecido. Eu acredito no amor de Deus por mim e em Seu plano para a minha vida”. Ou talvez seja algo mais ativo como cultivar um relacionamento positivo com o tal fulano. Depois de um tempo, verá que superou seja qual for a situação ou pessoa com a qual ficou ressentido, e conseguiu deveras perdoar.

O lindo sobre o perdão é que ele muda vidas para melhor. Uma das minhas histórias preferidas é sobre Jean Valjean, do romance de Victor Hugo, Les Misérables. Jean Valjean era um ladrão que estava em liberdade condicional. O bondoso bispo de Digne o recebeu em casa e lhe ofereceu uma refeição e um lugar para dormir. Apesar da criada lhe haver sugerido tirar toda a prataria de vista, ele não o fez, e a tentação foi grande demais para Jean. No meio da noite, ele roubou a prataria e partiu. É claro que não demorou muito até ser pego por soldados que suspeitaram dele e o levaram de volta para encarar o bispo.

Aquele era um momento crucial. Uma palavra do bispo e Valjean seria novamente enviado à prisão para o resto da vida. Mas o bispo não o acusou de nada. Pelo contrário, ele disse: “A prataria foi um presente meu. E olha, Jean, você esqueceu de levar os candelabros. Leve toda esta prata e use-a para começar uma nova vida”. E foi o que Valjean fez.

O perdão cria uma nova vida para você; ele o liberta e tem o poder de transformar a vida de quem recebe o seu perdão.—Mara Hodler

Adaptado dos podcasts Just1Thing, um material cristão de construção de caráter para jovens. Publicado no Âncora em fevereiro de 2023.

 

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