As Boas Novas do Evangelho em uma Cultura de Consumismo

Outubro 26, 2021

Compilação

[The Good News in a Culture of Consumerism]

No livro Life: The Movie, o autor, Neal Gabler, oferece uma visão muito elucidativa, argumentando que o entretenimento dominou a realidade. Ele diz que a vida se tornou um palco e que se tornar uma celebridade é o caminho para o sucesso. Gabler afirma que passamos a vida comprando e adquirindo coisas com base nas imagens e ideais que alimentamos, na tentativa de nos moldarmos ao filme no qual somos os protagonistas.

O uso constante de celebridades e famosos para propaganda de roupas, artigos esportivos e cosméticos sutilmente nos transmite a mensagem que, se possuirmos esses produtos, poderemos ser como aqueles que admiramos. Somos estrategicamente convencidos de que não precisamos simplesmente acompanhar a vida dos ricos e famosos — podemos nos tornar como eles. A democratização do crédito e a facilidade para a aquisição de bens garantem a nossa capacidade de desempenhar o papel ou papeis que escolhermos.

Os meios são muitos e práticos. As opções de crédito e financiamento questionam abertamente: “Por que esperar?” Antigamente, as pessoas precisavam pensar se poderiam pagar pelo que compram; talvez precisassem esperar até pouparem o suficiente. Muitas vezes, o tempo entre ver e adquirir era considerável, mas hoje as coisas mudaram. As mensagens são claras e afirmam que, se quisermos, podemos ter, e ter agora mesmo. É claro que isso tem um preço alto em termos de endividamento e crescente ansiedade. ...

Será o objetivo ganhar dinheiro a qualquer custo? Será a felicidade fruto de podermos obter tudo o que desejamos e quando desejamos? Talvez seja hora de reconhecermos que a vida é muito mais do que essas noções triviais, no entanto poderosas. Talvez seja hora de tomar uma atitude contra essa situação e insistir que a vida real tem muito mais nuances e objetivos, e é muito mais holística do que os profetas do materialismo têm a oferecer.

Segundo a visão e alternativa cristãs nós somos obra de um Criador pessoal e amoroso, e nossas vidas, oportunidades e recursos são dádivas que recebemos. Nós interagimos com a natureza e o mundo material, e ali vemos Deus, mas a nossa natureza também tem outras dimensões. O salmista explica isso de uma forma que grande parte do mundo rejeita: E a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas enchem o mar. Por termos sido criados por Deus e para Deus, a nossa glória máxima, a nossa vocação se encontra em Deus.

As aspirações do mundo são muitas, as seduções imensas e os chamarizes poderosos. No entanto, em um mundo de desejos invasivos e demandas intrusivas onde satisfazer a si próprio é uma ocupação constante, podemos ouvir outra voz, que diz: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” A resposta não está em um produto, mas em uma Pessoa viva.—Stuart McAllister

Dar a mensagem na cultura contemporânea

O cristão tem a tarefa de transmitir as boas novas, o Evangelho, a mensagem de amor e salvação de Deus para o mundo de hoje. Para que isso aconteça de forma relevante é preciso entender as transformações fundamentais sofridas pela sociedade, as quais afetaram a visão de mundo das pessoas, seus valores e percepção do cristianismo. Reconhecer que essas mudanças são profundas e geram temores, inseguranças, e também ceticismo, pode nos ajudar a transmitir melhor a mensagem de forma que seja relevante para as pessoas às quais fomos incumbidos de alcançar.

Sabemos que o Evangelho é uma mensagem para o mundo de hoje, mas encontrar como alcançar aqueles que ainda não foram atraídos por ela, ou que por algum motivo foram afastados dela, representa um desafio crescente. Ao longo dos últimos trinta anos o mundo tem mudado muito e rapidamente, e continua assim. O secularismo permeou massivamente as esferas do pensamento e influencia com valores que promovem o auto interesse e o materialismo, bem como outros valores que não são compatíveis e que, em última análise, minam o cristianismo e os valores tradicionais.

Enquanto isso, no ocidente, certos princípios ou conceitos considerados pétreos pelos últimos cinquenta anos já não são tão sólidos como se pensava. Muitas pessoas se sentem inseguras com relação ao seu futuro. Confiam muito menos nas instituições governamentais, religiosas e educacionais, ou na veracidade do que leem e escutam nas notícias e na mídia. Até mesmo poupar apresenta maiores riscos, já que muitas instituições financeiras faliram, e até mesmo países estão à beira de um colapso econômico.

O atual ambiente cultural, social, intelectual e moral, fundido com o questionamento, o ceticismo, e rejeição generalizada dos padrões e valores aceitos por anos, provocou em muitos uma mudança fundamental de valores, ética, visão de mundo, relacionamento com autoridade e interação com outras pessoas. Para muitos ficou bem mais difícil saber no que se pode confiar. Embora para algumas pessoas, as condições do mundo e da sociedade podem levá-las à mensagem do Evangelho, para outras esse ambiente faz com que seja mais difícil se identificarem com o Evangelho, e muito menos acreditar ou aceitá-lo.

Isso representa vários desafios para aqueles de nós que temos o compromisso de dividir o Evangelho, dentre os quais o fato de sermos chamados para levar uma mensagem sobre um homem que viveu, morreu e ressuscitou a 2 mil anos atrás—afirmando que é a mensagem mais importante que jamais encontrarão. Portanto, é essencial que o cristão voltado à missão encontre formas inovadoras e criativas para expressar e transmitir a mensagem atemporal do amor de Deus que falem com as pessoas do mundo de hoje. Não há dúvida que os cristãos do passado também enfrentaram desafios, mas o mundo de hoje é o nosso desafio.

Nosso desafio é como apresentar Jesus de forma que ressoe com as pessoas com as quais interagimos, especialmente quando, ao menos no ocidente, muitos não cristãos adotam valores que fazem com que o cristianismo pareça ser irrelevante em suas vidas e visão de mundo. Em muitos países, às vezes pode ser mais difícil falar sobre Deus, que dirá Jesus, devido ao secularismo e materialismo generalizados que substituíram a fé em Deus e O tornaram irrelevante em seu sistema de crença.

Muitas pessoas hoje desconfiam das mensagens que escutam, e por que não seria diferente? Todos os dias na Internet, televisão, noticiários, nas propagandas, elas são bombardeadas com mensagens dizendo que precisam disto, daquilo e daquilo mais, que esta é a melhor forma de pensar, e que devem ter uma certa posição.  Para elas a mensagem do Evangelho pode parecer mais uma propaganda dizendo o que precisam, como devem viver, o que as fará felizes. As pessoas muitas vezes não são propensas a confiar nessas mensagens, pois a experiência que tem é que muitas dessas mensagens são pouco ou nada válidas. As pessoas buscam respostas, mas muitas são cautelosas com relação àquilo em que depositam a sua confiança.

Para ser eficaz em divulgar o Evangelho é necessário se identificar com as pessoas. Para alcançar as pessoas na sua cidade ou país, ou com as quais trabalha, seus vizinhos e conhecidos, é preciso entendê-las, sua cultura e o que elas valorizam. Cada pessoa em cada país ou cultura merece e precisa ouvir o Evangelho. Nós, enquanto cristãos, fomos incumbidos de levar a Palavra às pessoas no país, cultura e comunidade onde convivemos, da maneira que seja mais fácil elas entenderem, se identificarem com a mensagem e aceitá-la.—Peter Amsterdam

Opor-se ao evangelho do consumismo

O evangelho do consumismo tem três princípios básicos: (1) cada um de nós foi criado para ser um consumidor; (2) devemos ser passivos; (3) nosso único dever é consumir mais.

O primeiro princípio está relacionado à nossa identidade: quem somos e a visão que temos de nós vemos. O segundo princípio está relacionado à nossa capacidade: se temos condições de efetuar mudanças e conseguir a participação das pessoas ao nosso redor. O terceiro princípio está relacionado ao nosso propósito: qual é a razão da nossa vida e do modo de vida? O evangelho do consumismo infiltra cada fibra da nossa personalidade e vai contra... o Deus revelado nas Sagradas Escrituras.

Deus não é um consumidor. Deus é um criador. Ser criado à imagem e semelhança de Deus significa que também fomos feitos para criar. Efésios 2:10 diz que “somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos”.—Reesheda Graham-Washington e Shawn Casselberry[1]

Moldado para um propósito maior

Jesus falou muitas vezes sobre o desafio do materialismo. Claro, na época não existiam todas as propagandas, grifes, cosméticos e revistas de moda, mas Ele explicou em Lucas 12 como as coisas podem se infiltrar, dominarem nosso coração e determinarem nossas ações. Ele falou como é fácil entregar nosso coração à tendência errada, nos definirmos com base no que consideramos o nosso “tesouro” e acabarmos servindo ao dinheiro.

No capítulo 12 aos romanos, Paulo diz que nós “nos conformamos aos padrões deste mundo” sem nem pensarmos. Ele não estava escrevendo sobre o consumismo em si, mas ao fato de que os valores dominantes do império podem nos moldar. O consumismo é uma expressão cultural avançada do materialismo, e apenas uma expressão moderna e institucionalizada do mesmo egoísmo que sempre foi o problema. Como cristãos, somos chamados a viver com uma esperança e um desejo diferentes e lembrar que fomos formados para um propósito maior. …

A história de Daniel na Bíblia destaca como podemos viver e até mesmo prosperar na Babilônia, — um império que simboliza a adoração falsa. Daniel propôs em seu coração que pertencia a um império mais significativo. Ele orou e buscou o apoio de amigos com valores semelhantes. Ele frequentemente recalibrava o seu pensar com base no propósito de Deus para a sua vida (pelo menos formalmente três vezes por dia) e lembrava que tudo, inclusive seu intelecto e capacidade de interpretar sonhos, era um dom que Deus lhe deu e que somente Deus era digno de glória. …

Como cristãos, somos chamados a dedicar a nossa vida a uma história diferente. Em vez de nos conformarmos, nós devemos ser transformados.[2] Nós seremos consumidores, mas com uma perspectiva diferente. Encontraremos nossa esperança, desejo e identidade em Jesus e ironicamente teremos vida ao darmos a nossa vida, deixando de fazer o que queremos para servirmos a Deus. Daremos valor às pessoas, dedicaremos tempo para evoluir, servir, compartilhar e adorar de maneiras opostas à comoditização. Viveremos para a glória de Deus em um mundo onde as pessoas se concentram no que é do seu interesse. Este é o ponto de partida para uma vida com sentido que tem valor hoje e na eternidade.—Brendan Pratt[3]

Publicado no Âncora em outubro de 2021.


[1] https://outreachmagazine.com/resources/books/compassion-and-justice-books/30710-countering-gospel-consumerism.html.

[2] Romanos 12:1–3.

[3] https://spectrummagazine.org/article/2018/01/12/i-see-i-want-i-take-%25E2%2580%2593-materialism-consumerism-god-and-discipleship.

 

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