Dezembro 9, 2020
Era dia 23 de dezembro de 1993. Para uma mãe solteira que frequentava a faculdade e sustentava os filhos totalmente sozinha, o Natal parecia sombrio. Eu olhei para a minha pequena casa, e a realidade era pungente, como uma dor lenta e tortuosa. Éramos pobres.
Nossa pequena casa tinha dois quartos, ambos davam para a sala de estar. Eles eram tão pequenos que o berço de minha filha mal cabia em um quarto, e a cama e a cômoda de meu filho ficavam espremidas no outro. Não havia como eles compartilharem um quarto, então eu fazia minha cama todas as noites no chão da sala de estar.
Nós três dividíamos o único armário da casa. Estávamos bem juntinhos, sempre a apenas alguns metros um do outro, dia e noite. Sem portas nos quartos das crianças, eu podia vê-las e ouvi-las o tempo todo. Isso as fazia sentirem-se seguras e eu me sentia pertinho delas—uma bênção que eu não teria tido em outra circunstância.
Recém havia anoitecido, era umas oito horas. A neve caía suavemente, silenciosamente, e meus filhos estavam dormindo. Eu estava envolta em um cobertor, sentada à janela, vendo os floquinhos de neve tremerem na luz tênue, quando minha porta da frente vibrou com uma batida forte.
Alarmada, eu me perguntava quem iria aparecer àquela hora da noite e sem avisar e quando estava nevando. Abri a porta e me deparei com um grupo de estranhos sorrindo de orelha a orelha, seus braços carregados de caixas e sacos.
Confusa, mas me contagiando com seus espíritos alegres, sorri de volta para eles.
“Você é Susan?” O homem deu um passo à frente enquanto me entregava uma caixa.
Mexia com a cabeça que sim, feita uma estúpida, incapaz de encontrar minha voz, eu tinha certeza de que eles pensavam que eu tinha alguma deficiência mental.
“Isto é para você”. A mulher me deu outra caixa com um enorme sorriso radiante. A luz do alpendre e a neve caindo atrás dela lançaram um brilho sobre seus cabelos escuros, dando-lhe uma aparência angelical.
Olhei dentro da caixa que havia me dado. Estava lotada de guloseimas, um peru grandão e todos os ingredientes de uma tradicional ceia de Natal. Meus olhos se encheram de lágrimas quando percebi por que estavam ali.
Por fim, voltando a mim, recobrei a voz e os convidei a entrar. Seguindo o marido estavam seus dois filhos, cambaleantes com o peso de seus pacotes. A família se apresentou e disse que seus pacotes eram presentes para a minha pequena família. Esta maravilhosa e bela família, totalmente estranhos, de alguma forma sabia exatamente o que precisávamos. Eles trouxeram presentes lindamente embrulhados para cada um de nós, todos os alimentos para eu preparar no dia de Natal, e muitos “extras” que eu nunca teria condições de comprar. Visões de um Natal lindo e “normal” literalmente dançaram na minha cabeça. De alguma forma, meu desejo secreto de Natal estava se materializando bem na minha frente. As orações desesperadas de uma mãe solteira haviam sido ouvidas, e logo percebi que Deus enviara seus anjos.
Meus anjos misteriosos então me entregaram um envelope branco, me deram outra rodada de sorrisos, e se revezaram para me abraçar. Desejaram-me um Feliz Natal e desapareceram na noite tão repentinamente quanto tinham aparecido.
Impressionada e profundamente emocionada, olhei ao meu redor para as caixas e presentes espalhados a meus pés e senti a dor da depressão se transformando de repente em uma alegria infantil. Comecei a chorar. Chorei muito, chorei a ponto de soluçar de profunda gratidão. Fui preenchida com uma grande sensação de paz. Saber que o amor de Deus havia chegado ao meu cantinho do mundo me envolveu como uma colcha quentinha. Meu coração estava pleno. Caí de joelhos em meio a todas as caixas e ofereci uma sincera oração de agradecimento.
Levantando-me, envolvi-me em meus cobertores e sentei-me mais uma vez para olhar pela janela a neve que caía suavemente. De repente, lembrei-me do envelope. Como uma criança, o rasguei e perdi o fôlego com o que vi. Uma chuva de notas caiu ao chão. Reunindo-as, comecei a contar as notas de cinco, dez e vinte dólares. Como minha visão estava turva de tanto chorar, contei o dinheiro e depois o recontei para ter certeza. Voltei a chorar, dizendo em voz alta: “Cem dólares”.
Olhei para meus filhos dormindo profundamente, e através das lágrimas sorri meu primeiro sorriso feliz e livre de lágrimas em muito, muito tempo. Meu sorriso se transformou em riso enquanto pensava no dia seguinte, a véspera de Natal. Uma visita de completos estranhos havia transformado magicamente um dia doloroso em um dia especial que sempre lembraríamos... com felicidade.
Já se passaram vários anos desde que nossos anjos de Natal nos visitaram. Casei novamente, e nossa casa é feliz e ricamente abençoada. Todos os anos, desde aquele Natal de 1993, escolhemos uma família menos abençoada do que nós. Levamos-lhes presentes, comida e guloseimas cuidadosamente selecionados, e todo o dinheiro que pudermos dispensar. É a nossa maneira de passar adiante o que nos foi dado. É o “efeito cascata” em movimento. Esperamos que o ciclo continue e que, algum dia, as famílias com as quais compartilhamos possam passar adiante da mesma forma.—Susan Fahncke[1]
*
O Natal é a minha época favorita do ano. Eu amo tudo nele—os cheiros, as imagens e os sons. Fico profundamente tocada quando começo a pensar no Natal. Eu sempre experimentei um sentimento mágico. Afinal de contas, é o aniversário de Cristo! Será que já li muitos livros de Natal e vi muitos filmes de Natal? Admito que o filme “A Felicidade não se Compra” é um dos favoritos e acredito que a vida é maravilhosa a maior parte do tempo.
Meu marido tinha se entregado ao meu entusiasmo e contribuído muito para o meu Natal cheio de amor. Neste último ano a bolha na qual vivia rebentou e eu passei uma tristeza que era quase difícil de suportar. Eu não achava mais que a vida era maravilhosa. Meu marido havia partido para junto do Senhor, e eu estava sozinha no Natal. As lembranças me assombravam, e em todos os lugares que eu olhava, eu me recordava de nossa vida juntos. Nossas tradições, que eram especiais para mim, agora estavam do avesso. Como eu poderia passar minha época favorita do ano sem ele? Só Deus sabia. Eu determinei, com a ajuda de Deus, que ia conseguir.
Eu não ia deixar meu pesar roubar o Natal da minha família. Ainda era o aniversário de Cristo! Afinal, justamente porque Cristo nasceu e morreu na cruz por meu marido e por mim, eu tinha certeza que meu maravilhoso marido estava passando a eternidade com Ele.
A parte fácil era determinar o que eu iria fazer para celebrar o Natal. Colocar meu plano em prática era muito mais difícil. O Natal não precisava ser comemorado da mesma maneira. Algumas tradições precisavam mudar, mas algumas eu sabia que tinham que ser mantidas ou o significado do Natal seria perdido.
Eu apreciava o culto de velas na véspera de Natal. Nossa família sempre havia ido ao culto das 23h, acendido as velas e cantado juntos “Noite Feliz”. Meu marido e eu fazíamos isso desde que começamos a namorar, há 37 anos. Eu queria ir à igreja; era realmente meu tempo favorito, eu adorava ouvir como Jesus havia nascido (Lucas 2). Os anjos, os pastores, Maria, José e os reis magos que O procuravam eram todos tão importantes! Eu também queria buscar Jesus. Mas nada poderia ter me preparado para aquela noite.
Nenhum dos meus filhos pôde ir ao culto comigo, então fui eu sozinha. Quando cheguei à igreja, meu coração simplesmente afundou de tristeza. Todos estavam lá acompanhados—mães, pais, crianças, tias e tios. A família é tão importante em um momento como esse. Eu reuni a coragem que Deus deve ter me dado e consegui caminhar até à porta da frente. Felizmente, naquele momento, vi uma família que conhecia, e consegui perguntar se poderia sentar-me com eles. “Claro”, responderam. Era tudo o que eu conseguia fazer para sentar-me no banco sem chorar. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas que rolaram pelo meu rosto. Estava quase ficando incontrolável. “Deus, por favor, me ajude”, orei. “Eu quero estar aqui. Preciso ouvir mais uma vez porque temos o Natal.”
Eu mal tinha sussurrado minha oração quando a coisa mais maravilhosa aconteceu. A menina sentada ao meu lado—meu anjo de Natal—apertou minha mão. Era como se Deus tivesse me dado o amor que eu tanto precisava. Naquele momento, percebi que os anjos que cantaram naquela noite há muitos anos no nascimento do Salvador ainda hoje vêm e ministram para nós. Deus me deixou saber, naquele pequeno aperto de mão, que Ele estava lá para mim e me amava!—Kathy Schultz[2]
[1] https://people.howstuffworks.com/culture-traditions/holidays-christmas/inspirational-christmas-stories7.htm
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