O Pão da Vida

Dezembro 3, 2020

Peter Amsterdam

[The Bread of Life]

No capítulo 6 de João, lemos que Jesus alimentou cinco mil pessoas com pães e peixes. Depois disso, retirou-Se para a montanha, enquanto Seus discípulos partiram de barco para Cafarnaum. Remaram cinco ou seis quilômetros, já era noite, e as águas do lago ficaram agitadas por causa do vento, impedindo-os de continuar. Então os discípulos viram Jesus caminhando na água e Se aproximando do barco. Eles O receberam no barco e imediatamente chegaram à terra.

No dia seguinte, quando algumas pessoas que haviam partilhado dos pães e peixes viram que Jesus não estava lá, tomaram os barcos e foram para Cafarnaum, à procura de Jesus. Encontrando-o no outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui.” Respondeu Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais miraculosos que vistes, mas porque comestes do pão, e vos fartastes.”[1]

Considerando que a multidão queria coroar Jesus rei depois de terem comido os pães que Ele provera, não surpreende que O tivessem buscado no dia seguinte. Jesus não respondeu ao que perguntaram, mas expôs o que os motivava. O interesse deles não era o significado do milagre que Jesus realizara, ou quem Ele era, mas o fato de que distribuíra pão. É uma reação similar à que tinham com relação aos imperadores romanos dos dias de Jesus. Os imperadores romanos e outros políticos mantinham o povo pacificado com comida grátis. Como a clientela romana, as multidões se juntavam à “comitiva” de Jesus só por causa da “boca livre.”[2]

Jesus então disse: Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará, porque Deus, o Pai, o marcou com o seu selo.[3] Os selos eram usados de várias maneiras na antiguidade, e os governantes às vezes davam um selo para apontar um procurador, alguém que agiria em seu nome. Esta passagem parece comunicar que o Pai havia confirmado Jesus por meio dos sinais e dos milagres que Este fizera. Há quem entenda também que Deus havia posto em Jesus Seu selo de aprovação.

Perguntaram eles: Que faremos para executar as obras de Deus? Respondeu Jesus: A obra de Deus é esta: crede naquele que ele enviou.”[4] Como Jesus lhes dissera para trabalharem pela comida que permanece para a vida eterna, queriam saber como Ele definia trabalho. A tradição judaica não isolava o trabalho realizado, as obras, da fé, pois esta era muitas vezes um “trabalho” dentre muitos. Entretanto, nesta passagem, Jesus deu outra definição para fé, ao dizer que a obra necessária para a vida eterna é que se creia nEle.

Então lhe perguntaram: “Que sinal miraculoso, pois, fazes tu, para que vejamos e creiamos em ti? Que farás? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu.’”[5]

Parece estranho eles se referirem ao sinal do maná que Deus deu aos hebreus no deserto, quando no dia anterior, Jesus havia multiplicado cinco pães para alimentar cinco mil pessoas. Eles não estavam pedindo por um sinal para que pudessem crer porque queriam ver para crer, mas seu interesse era continuar recebendo comida gratuita.

Disse-lhes Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés quem vos deu o pão do céu, mas é meu Pai quem dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.”[6] Jesus mencionou que o maná no deserto não vinha de Moisés, mas de Deus. O maná não era o “verdadeiro pão” que vinha do céu, mas um produto terreno e material. Deu vida ao povo de Deus por quarenta anos e também simbolizava o “pão de Deus” que dá “vida ao mundo.”

Disseram-lhe: “Senhor, dá-nos sempre desse pão. Então Jesus lhes declarou: Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede.[7]

Os que ouviam entenderam se tratar de uma metáfora para ilustrar uma dádiva divina. Eles passaram a reconhecer que Jesus de alguma forma lhes oferecia “vida”, até mesmo vida eterna, pois já lhes havia dito para não trabalharem pela comida que perece, mas pela que permanece para a vida eterna. Depois de lhes dizer que deveriam trabalhar pela comida que permanece para a vida eterna, agora lhes diz que Ele é o caminho para essa vida, Ele é o pão, é Ele que dá esta vida. De certa forma, isso muda o foco do que Jesus faz para o que Jesus é.

Entretanto, ao ouvirem Jesus declarar que Ele era o pão, alguns claramente não creram.[8] Quando as pessoas pediram um sinal, Jesus explicou que Ele era o sinal. Afirmou categoricamente que veio do céu e que Seu propósito era realizar a vontade de Seu Pai.

Murmuravam dele os judeus, porque dissera: “Eu sou o pão que desceu do céu.” Diziam: “Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Então como diz ele: ‘Desci do céu’?”[9]

As pessoas começaram a reclamar entre si, provavelmente confusas e/ou discordando umas das outras a respeito do que Ele queria dizer com aquilo. O fato de conhecerem Seus pais dificultava a aceitação do conceito de que Ele viera do céu.

Respondeu Jesus: “Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer, e eu o ressuscitarei no último dia.”[10]

Ele já havia dito: Todo aquele que o Pai me dá virá a mim[11] e aqui repete a mensagem, mas com mais veemência, ao dizer que ninguém pode ir a Ele a menos que o Pai envie essa pessoa. Diz que as pessoas Lhe são trazidas por Deus ao ouvirem e atenderem ao chamado de Deus.

Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê, tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida.[12] É a terceira frase do tipo “Em verdade, em verdade” neste capítulo. Jesus faz um voto solene que todo aquele que crê tem a vida eterna porque Ele é o pão da vida.

Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Mas aqui está o pão que desce do céu, do qual se o homem comer não morre. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre. Este pão é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.[13]

A multidão lhe havia falado sobre o maná e indicou que gostaria que Ele fizesse um milagre similar, motivo pelo qual disse ser “o pão da vida” e explicou as limitações do maná. Apesar de ser um alimento enviado por Deus, tinha de ser colhido e todo o excedente de um dia apodrecia. Sustentou o povo, mas não impediu que as pessoas morressem, por causa da maldição. Entretanto, os que comessem o pão do qual Jesus falava não morreriam. O verbo grego traduzido para comer na frase se o homem comer não morre, indica uma ação que acontece uma única vez, ou seja, basta a pessoa comer desse pão uma única vez para jamais morrer.

Como não se trata de um alimento qualquer, como então é comido? A resposta, claro, é crer, como Jesus já havia dito anteriormente: Quem crê, tem a vida eterna. O conceito de crença ou fé no sentido de comer oferece um entendimento do significado de crer. Absorvemos o que acreditamos da mesma maneira que consumimos comida, que se torna parte do que somos. Os que se alimentam de Jesus jamais morrem.

A afirmação de Jesus de que o pão é Sua carne ou Seu corpo causa admiração, mas não é nada comparado ao que disse quando afirmou que daria a Si próprio, Seu próprio corpo, Sua própria carne “pela vida do mundo”. Os que escutavam Jesus não sabiam que Se referia à Sua morte pela salvação do mundo.

Este é o pão que desceu do céu. Vossos pais comeram o maná e morreram, mas quem comer este pão viverá para sempre.[14]

O “pão da vida” que “desce do céu” é diferente de qualquer pão terreno. Os que comerem o pão que Ele oferece, os que aceitarem Jesus em suas vidas, não sofrerão a morte espiritual, somente a física. Como Jesus disse anteriormente neste capítulo:

E esta é a vontade daquele que me enviou, que eu não perca nenhum de todos os que ele me deu, mas o ressuscite no último dia. Pois a vontade do meu Pai é que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.[15]

Que todos que comemos o pão da vida eterna sejamos diligentes em compartilhar esse pão com os demais.

Publicado originalmente em janeiro de 2018. Editado e republicado em dezembro de 2020.


[1] João 6:24–26.

[2] Craig Keener, The Gospel of John, A Commentary, Volume 1 (Grand Rapids: Baker Academic, 2003), 676.

[3] João 6:27.

[4] João 6:28–29 NIV.

[5] João 6:30–31.

[6] João 6:32–33.

[7] João 6:34–35.

[8] João 6:36–40.

[9] João 6:41–42.

[10] João 6:43–44.

[11] João 6:37.

[12] João 6:47–48.

[13] João 6:49–51.

[14] João 6:58.

[15] João 6:39–40.

 

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