Willie e o Favor de Cinco Minutos

Julho 22, 2020

Iris Richard

[Willie and the Five-Minute Favor]

Estávamos terminando a distribuição de cinquenta cestas básicas de dez quilos como parte de um programa  de auxílio humanitário junto à população carente—a maioria viúvas ou deficientes—em um salão nos limites de uma das maiores favelas da África Oriental.

Feliz por ter concluído o projeto, virei-me para sair, quando minha colega Sally levantou o último pacote, dizendo: “Antes de fecharmos, vamos entregar este rapidinho para o Willie, no alto do morro. Ele não tem condições de descer até aqui”.

Eu estava cansada, minhas costas doíam. “Subir o morro” parecia fácil, mas depois da chuva, o caminho pela favela estava enlameado e tivemos que subir por pedras e lixo para chegar ao barraco dele.

Eu estava prestes a deixar esta tarefa para outro dia, quando me lembrei da minha nova resolução de “favores de cinco minutos”, inspirada em algo que li on-line:

Quer tornar o mundo um lugar melhor? … Abrace o conceito de fazer um favor de cinco minutos que não é mais complicado do que o nome já diz: tire cinco minutos do seu dia para fazer algo que beneficiará outra pessoa. ... Não custa muito, mas pode fazer uma grande diferença na vida de alguém.[1]

Pensando bem, achei que, além de espalhar felicidade, a generosidade contribui para aumentar os sentimentos de felicidade. Há quem diga que está relacionado à longevidade. Afinal, ser generoso está ligado à tão conhecida verdade: “Deem, e lhes será dado: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês. Pois a medida que usarem, também será usada para medir vocês.”[2]

De volta a Willie. Ora, subimos o morro e, ao entrar em seu pequeno barraco, entendi que tinha valido o esforço. Lá estava ele, sentado em uma cama precária, o único móvel que sobrou depois que sua casa foi inundada pelas águas enlameadas de uma recente enchente do rio que passa pela favela. Ele foi resgatado e levado para o alto do morro para uma pequena sala.

Soubemos que Willie trabalhava como carregador de tacos no clube de golfe local, mas um dia, a caminho do trabalho, ele foi atropelado e perdeu a perna. Evidentemente, o veículo não estava em boas condições e os freios estavam com defeito. O motorista fugiu, mas quando foi pego mais tarde, descobriu-se que ele não tinha seguro e não poderia compensar Willie pelo acidente.

Devido à sua deficiência, Willie perdeu o emprego e não tem conseguido pagar o aluguel, e corre o risco de ser despejado. Para sobreviver, ele deseja iniciar um pequeno negócio na beira da rua em frente ao seu barraco, vendendo material de limpeza para pessoas de sua comunidade ou transeuntes, mas ele não tem os meios.

Willie recebeu a cesta básica com um grande sorriso. “Deus os enviou!” ele disse, e uma lágrima escorreu por seu rosto.

Esse favor levou um pouco mais de cinco minutos, mas fez uma enorme diferença na vida desse homem, pois não apenas atendeu a uma necessidade imediata, como também abriu uma oportunidade para Willie. Como resultado dessa visita, entramos em contato com outras pessoas interessadas em ajudá-lo. Arrecadamos dinheiro para três meses de aluguel e ele tem recebido cestas básicas todo mês.

“Encontrei uma nova esperança e um objetivo por causa de vocês”, disse Willie, quando os itens doados para seu pequeno negócio de rua foram entregues por simpatizantes!

Adam Grant, da Wharton School da Universidade da Pensilvânia, pratica uma abordagem agradável e revigorante à vida e ao sucesso, que normalmente não é associada a um professor de administração. Seu trabalho se concentra na questão de que ser um “doador”—ou seja, oferecer ajuda aos seus colegas—lhe trará mais sucesso e respeito do que ser um “tomador”. Ele até escreveu um livro inteiro sobre o assunto. Em sua pesquisa com vendedores de alto desempenho, por exemplo, ele descobriu que eles tendem a ter uma pontuação “extraordinariamente alta... no desejo de beneficiar os outros.”

A generosidade no ambiente de trabalho é uma ideia muito boa, mas um problema que muitas pessoas têm com essa filosofia é: quem tem tempo para isso? Comece com o “favor de cinco minutos”, um termo que Grant cunhou para afirmar que nem todo ato de doação tem que consumir muito tempo.[3]

Não é possível mensurar as grandes coisas que um favor de cinco minutos pode desencadear no decorrer de um dia normal, no ambiente de trabalho, ou durante a nossa nossa vida.


[1] https://www.huffpost.com/entry/five-minute-favor-adam-rifkin_n_3805090.

[2] Lucas 6:38 NVI.

[3] https://www.thecut.com/2015/08/just-take-5-minutes-to-do-someone-a-favor.html.

 

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