Maio 29, 2019
Eu estava a caminho de um compromisso importante, que infelizmente estava programado durante o muito temido horário de rush da manhã. Sempre que possível, tento evitar dirigir nesse horário, e planejo o meu dia de maneira que não tenha que estar na rua nessas horas.
Quando saí, esperei que fosse diferente naquele dia, mas para meu espanto logo fiquei preso em um engarrafamento que movia lentamente. E, para piorar as coisas, um daqueles velhos caminhões de lixo decrépitos, com a traseira aberta, tinha saído de um prédio e estava bem na minha frente.
No Quênia, o lixo é uma mercadoria cobiçada. Vivemos em uma terra onde a maioria dos itens descartados ainda tem valor para alguém, e a reciclagem é feita nos enormes lixões da cidade por pessoas que moram em casebres e barracos de papelão.
A maioria desses veículos coletores de lixo é de décadas atrás, e o exterior é tão horrível quanto o conteúdo que carregam. Este caminhão era tão velho que suas dobradiças enferrujadas rangiam alto, e vomitava fumaça de diesel nos pedestres envolvendo todos ao seu redor em uma nuvem de fedor invasivo. Como que para melhorar, estava decorada com brinquedos descartados e sapatos velhos que pendiam de cordões nas laterais, e pedaços de velhas decorações de Natal enroladas em volta das barras no topo. Franzi meu nariz e tive vontade de começar a xingar a má sorte—não apenas o engarrafamento, mas estar preso atrás do pior veículo possível, sem ter para onde escapar.
Então notei os três coletores de lixo vestidos em trapos sujos que estavam sentados no meio do monte de lixo no caminhão aberto. Um dos homens estava lendo para os outros de um grande livro gasto. Quando olhei mais de perto, percebi que era a Bíblia. Os outros dois ouviam atentamente. Seus rostos mantinham uma expressão serena, pois pareciam não perceber o ambiente horrível ao seu redor.
Observar aquela cena contraditória, enquanto sentado no meu carro, fez-me pensar em Deus. Apesar do engarrafamento, louvores começaram a se formar em meus lábios e melhorar meu mau humor. Logo o engarrafamento se dissolveu e o caminhão virou em uma rua lateral. Mas o testemunho silencioso da presença de Deus em meio ao descarte e lixo, e a maneira como aqueles humildes trabalhadores haviam participado de algo divino, me impactaram.
O que vi lembrou-me que não importa em que confusão ou dificuldade eu me encontre, Deus está presente e Sua Palavra é igualmente real, viva e poderosa em qualquer circunstância. Podemos estar sentados ao lado de um canteiro de flores em um lindo parque, em um banco de igreja, em uma aconchegante sala de estar bem mobiliada ou, de modo inverso, em um monte de lixo ou em algum outro lugar indesejável ... mesmo assim, a Palavra de Deus penetra no coração e atinge profundamente nossas almas. Ela ilumina as nossas trevas, dá graça para a batalha, poder para a hora, paciência em uma situação difícil, esperança diante do desespero e fé de que um dia mais brilhante estará ao virar da esquina.
Enquanto segui dirigindo, feliz por ter deixado o engarrafamento para trás, mas tocado pelo que havia testemunhado, uma passagem da Bíblia que eu havia lido naquela manhã me veio à lembrança:
No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ela estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram.—João 1:1–5 NVI
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