Abril 17, 2019
Recentemente, decidi participar de algumas aulas gratuitas de tricô e crochê oferecidas em um centro comunitário local. A ideia de aprender coisas novas é mais atraente para mim aos 63 anos do que a algum tempo atrás. Além disso, eu tinha esperança de que seria benéfico para combater o estresse, algo que meu médico recentemente me alertou que estava afetando a minha saúde.
Naturalmente, a gente começa como novato, e eu, para ser sincera, não progredi muito além disso. Ainda assim, concluí alguns projetos simples, e é um prazer contemplar os resultados fofos, embora imperfeitos, do meu trabalho.
Quando eu disse à minha filha que eu queria fazer um gorro para seu filho, ela sugeriu que eu fizesse um parecido com o que é usado por um personagem de um de seus filmes favoritos. Parecia viável, então comprei a linha vermelho vivo e comecei a trabalhar.
Na metade do projeto, percebi que havia cometido um pequeno erro no começo, e que passara despercebido, mas havia aumentado à medida que prossegui. Eu tinha que desfazer o trabalho e começar tudo de novo. Enquanto desatava os nós, pensei: “Este gorro tem que ser perfeito—ora, talvez, não perfeito—mas certo!” De alguma forma, o fazer e desfazer do meu crochê pareceu estragar a textura do fio até certo ponto. Pensei que provavelmente seria perceptível se alguém olhasse mais de perto. Ainda assim, eu queria que o verdadeiro trabalho de crochê e o projeto acabado fossem feitos da maneira correta, mesmo que o material em si tivesse algumas falhas.
Após refletir, senti que o Senhor estava me lembrando, através desta lição prática, da minha própria vida, com todas as suas imperfeições, algumas quase imperceptíveis e outras, gigantescas e bem visíveis. E aí me veio a frase, “não perfeito, mas certo”, falou ao meu coração. Jesus me lembrou que minha vida tem sido correta, a de uma pessoa feita justa por Ele, independentemente do material com que Ele tenha que trabalhar, prejudicado por meus defeitos, falta de julgamento, pecados e o que eu frequentemente percebo como fracassos terríveis.
E também há todo o processo de acertar as coisas quando alguém cometeu um erro ou erros, ou cometeu até o que entende ou outros podem entender como iniquidades, que pode ser algo bem desastroso e complicado, e requer muito esforço e até dói para desembaraçar. Felizmente, sinto-me segura no amor e aceitação incondicional de Jesus. Buscá-lO em um espírito de arrependimento é humilhante, sim, mas eu sempre me sinto segura por causa de Seu amor incondicional que ele me dá liberalmente. No entanto, procurar os outros, sejam eles familiares, amigos ou conhecidos—e reconhecer meus erros, e muitas vezes sem mesmo conseguir verbalizar como ou por que fiz tal e tal coisa—é aí onde o tecido da vida parece ser esfregado e estragado ainda mais. Sinto-me tentada a nem mesmo começar a tentar me desculpar, porque é quase sempre um processo doloroso e complicado. No entanto, produz um fruto pacífico de justiça no tempo perfeito de Deus. O produto acabado é melhor, mesmo com o que possa parecer imperfeições ao observador casual.
Um personagem bíblico que eu sinceramente nunca admirei muito é Ló.[1] Quando era uma jovem cristã, mantive-o em meu arquivo mental daqueles indignos de meu respeito. Puxa, como ele era egoísta: escolheu o melhor pasto para si, basicamente deixando as sobras para seu tio, Abraão, que de bom coração lhe ofereceu a primeira escolha.[2] Isto, depois de Abraão ter cuidado dele quando ficou órfão e o ter levado consigo enquanto viajava para Canaã, seguindo a Deus, que havia prometido fazer dele uma grande nação. Achei que Ló ia definitivamente receber o que merecia quando ele, sua família e todos os seus bens foram levados por Quedorlaomer.[3] Eu meio que me perguntei por que Abraão se incomodaria em resgatar seu sobrinho depois de ele ter sido tão ganancioso e agressivo; mas a família é família, não é mesmo, e o amor cobre a multidão de pecados, imaginei. Então, em vez de ter recebido o que parecia uma dica muito clara a favor de deixar para trás todo o estilo de vida e o cenário em Sodoma, Ló teve a audácia de voltar para lá.
Ainda assim, Ló foi considerado justo, de acordo com a Palavra de Deus.[4] Isso, apesar dele mesmo, e por causa da graça de Deus e Seu poder de redimir o mais desprezível e o pior, como a Bíblia repetidamente ilustra na vida de muitos outros de Seus santos muito imperfeitos. Muitos consideram Davi e Paulo os mais notáveis da Bíblia; e, claro, há outros ao longo da história, meus favoritos atuais são Santo Agostinho e John Newton.
Hoje em dia, depois de mais de quatro décadas seguindo e servindo ao Senhor como missionária, mãe e professora, a escola dos duros golpes me deu grau elevado. Consigo me identificar com Ló e sua história. Assim como ele, tenho seguido a Deus, muitas vezes sem saber para onde ia. Eu também fui egoísta; já me cansei em fazer o bem. Estranho agora refletir nas vezes em que me faltou coragem e convicção para enfrentar a oposição e fazer a coisa corajosa e impopular. Meu coração sofre quando reflito nas ocasiões em que fracassei em nutrir, fortalecer, proteger ou cuidar daqueles que amo como deveria, e como eles foram magoados por causa desse fracasso. No entanto, Deus, em Sua grande sabedoria e plano, usou essas faltas e propósitos quebrados para ilustrar Sua grande misericórdia e longanimidade para comigo como Sua filha.
Sou justa porque sou perdoada e justificada por Ele. Isso me humilha (me tornando assim mais útil, acho—ou pelo menos é um bom ponto de partida para chegar lá), ao mesmo tempo que emociona minha alma e traz uma paz sobrenatural ao meu coração, saber que está bem ser imperfeita, por mais imperfeita que eu seja.
Somos justificados em Cristo, de acordo com Sua misericórdia, graça e desígnio divino—e é isso que, no final das contas, realmente importa.
“O sentido da vida. Os anos que desperdiçamos. As escolhas ruins que fizemos. Deus responde a esta bagunça da vida com uma palavra: graça.”—Max Lucado
“Sair do erro rumo à verdade é raro e lindo.”—Victor Hugo
[1] Ver Gênesis capítulos 11–14 e 19, que conta a história de Ló.
[2] Gênesis 13:9–11.
[3] Gênesis 14:12.
[4] 2 Pedro 2:7.
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