A Humanidade de Jesus

Março 25, 2019

Peter Amsterdam

[The Humanity of Jesus]

Segundo o plano de Deus para a salvação, a humanidade de Jesus é tão importante quanto a Sua divindade, porque nossa salvação depende de Ele ser totalmente Deus e totalmente homem. Somente alguém que é Deus pode suportar o peso dos pecados do mundo. Somente aquele que é eternamente Deus pode oferecer um sacrifício de valor infinito e prestar obediência perfeita à lei de Deus, suportar Sua ira para a redenção e libertar os outros do julgamento da Lei.

Da mesma forma, somente alguém de natureza humana pode tornar a salvação possível. Como o primeiro homem, Adão, pecou e trouxe a condenação para todos os humanos, foi necessário que outro humano suportasse a punição e recebesse o julgamento de Deus sobre si próprio, pois somente um ser humano pode, vicariamente, representar a raça humana. “Pois assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Pois assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.”[1]

Muitas vezes, as pessoas atentam à divindade de Jesus e colocam Sua humanidade em segundo plano. Todavia, ao mesmo tempo em que Ele era Deus vivendo na Terra em forma humana, era também tão humano quanto qualquer um de nós. Tinha as mesmas necessidades e fraquezas físicas que as nossas. Possuía as limitações físicas e mentais que temos, as mesmas emoções, era igualmente tentado a pecar e passava por sofrimentos espirituais internos, tal como acontece conosco. Ele era homem. Nasceu, viveu e morreu como qualquer outro homem. Tinha a natureza humana, o que significa que possuía um corpo material e uma alma racional, ou seja, uma mente.

Jesus possuía os dois principais elementos da natureza humana —um corpo físico e uma alma racional. Falou do Seu corpo e de Sua alma/espírito (em determinadas situações as palavras alma e espírito são usadas alternadamente com o mesmo sentido). Ele ensinou sobre Sua carne e ossos.[2] O Livro de Hebreus diz que Jesus era de carne e osso.[3]

No livro de João Ele disse ser um homem. “Procurais matar-Me, homem que vos disse a verdade que de Deus ouviu.”[4] Outros também deram testemunho do Seu caráter humano: “Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus de Nazaré, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por Ele fez no meio de vós”[5].

Como acontece a todos os humanos, Jesus estava sujeito às leis naturais que regem o crescimento e o desenvolvimento físico do homem. Nasceu,[6] e passou da infância para a fase adulta.[7] Experimentou o processo de aprendizagem normal como qualquer criança. Cresceu em conhecimento, entendimento, sabedoria e responsabilidade.[8] Fortaleceu-se espiritualmente com o tempo, muito provavelmente pelas lições que aprendeu, tais como as que diziam respeito à obediência aos Seus pais, pelo sofrimento e outras vivências.[9]

Jesus tinha as mesmas fraquezas e necessidades físicas que os outros humanos. Ficou com fome, com sede e cansado.[10] Seu corpo também se enfraquecia e ficava exausto. Certa vez, ficou tão cansado que dormiu profundamente em um barco pesqueiro sob forte tempestade.[11]

Jesus sentiu emoções como nós. Teve compaixão das pessoas e Se condoeu dos necessitados.[12] Ele chorou.[13] Maravilhou-Se, emocionou-Se profundamente, e ficou zangado.[14] Lamentou; orou com fervor; angustiou-Se e sofreu agonia psicológica.[15] Às vezes atribulou-Se. Ele tinha amigos e os amava.[16] E, como todo ser humano, Jesus morreu. A vida esvaiu-se de Seu corpo.

Aparentemente, as pessoas com quem Jesus cresceu e com quem conviveu até o início do Seu ministério se tornar público O consideravam um humano normal. Isso se pode deduzir pela reação que tiveram quando Ele começou Sua obra. Depois de haver operado milagres e pregado na Galileia e já contar com multidões de seguidores, visitou Nazaré, Sua cidade natal, onde foi rejeitado por Seus antigos vizinhos e conterrâneos.[17]

Nem mesmo Seus irmãos acreditavam nEle, apesar de alguns, posteriormente, se tornarem conhecidos como crentes e líderes da igreja, tais como Tiago e Judas.

Se aqueles que moraram ou conviveram com Ele questionavam a origem da sabedoria e conhecimento que Lhe permitia falar e pregar com tanta autoridade e estavam surpresos, é óbvio que O viam como uma pessoa normal, não como Deus ou mesmo um grande mestre —apenas um homem comum.

Martinho Lutero expressou a realidade da humanidade plena de Jesus da seguinte forma: “Ele comia, bebia, dormia e acordava. Também ficou cansado, alegre, chorou, riu, sentiu fome, sede e frio. Ele suava, caminhava, trabalhava e orava.” Jesus era totalmente humano. Era como você e eu no que diz respeito à humanidade e à natureza humana. Era humano em todos os sentidos, exceto o pecado. Essa é a única diferença. Jesus jamais pecou. Nunca. “Ele não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano.”[18]

Mas Jesus poderia pecar? Segundo as Escrituras, parece que não. Se as analisarmos, veremos que: 1) Jesus não pecou; 2) Jesus foi tentado de todas as formas como nós, portanto sabemos que sofreu a tentação de pecar,[19] e  3) Jesus é Deus, e Deus não pode ser tentado com o mal. Ninguém, ao ser tentado, diga: “Sou tentado por Deus.” Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e Ele a ninguém tenta.”[20]

Um dos atributos de Deus é a santidade, o que significa que Ele está separado do pecado. Deus não pode pecar, ou não seria Deus. As Escrituras nos dizem que Jesus era plenamente Deus e plenamente humano. Além disso, nos ensina que foi tentado e que Deus não pode ser tentado.

Se a natureza humana de Jesus existisse independentemente da Sua natureza divina, então Ele teria sido similar a Adão e Eva quando foram criados. Em outras palavras, estaria isento de pecado, mas, teoricamente, seria capaz de pecar. Entretanto, a natureza humana de Jesus jamais existiu à parte da Sua natureza divina. As duas co-existiam em uma pessoa. Um ato de pecado teria uma natureza moral, que envolveria toda a pessoa do Cristo, ou seja, Suas naturezas divina e humana. Se isso tivesse acontecido, então a natureza divina de Jesus teria pecado, o que significaria que Deus teria pecado e, portanto, não seria Deus. Isso não é possível, pois Ele teria contrariado Sua própria natureza, o que Ele não faz.

Dessa forma, podemos concluir que a união das naturezas humana e divina de Jesus em uma só pessoa O impedia de pecar. Entretanto, como isso acontecia, não sabemos. É um dos mistérios inerentes ao cristianismo, pois Jesus é o único que já teve as duas naturezas —a de Deus e a do homem. Portanto, não surpreende que nos seja difícil, ou até impossível, entender como coisas assim se processavam nEle.

Ele foi completamente tentado em todas as coisas, como nós somos. Entretanto, invariavelmente, resistiu à tentação e, em consequência, não pecou. Teve de vencer cada tentação para resistir ao pecado. O apelo do pecado que Ele vivenciou foi igual ao que experimentamos. A diferença é que Jesus não cedeu à tentação e, por conseguinte, não pecou.

Pelo fato de não pecar, Jesus não precisava morrer pelos Seus próprios pecados, mas poderia morrer pelos pecados de toda a humanidade. Quando pensamos que o Deus Filho escolheu se humilhar ao assumir a natureza humana e tudo que significa ser humano para que cada um de nós pudesse ter a oportunidade de ser perdoado de nossos pecados e viver para sempre, é inevitável amá-lO e agradecer-Lhe por isso.

Publicado originalmente em 28 de junho de 2011. Adaptado e republicado em março de 2019.


[1] 1 Coríntios 15:21–22.

[2] Lucas 24:39.

[3] Hebreus 2:14.

[4] João 8:40.

[5] Atos 2:22.

[6] Lucas 2:7.

[7] Lucas 2:40.

[8] Lucas 2:52.

[9] Hebreus 5:8.

[10] Mateus 4:2; João 4:6–7.

[11] Mateus 8:24.

[12] Mateus 9:36.

[13] João 11:35.

[14] Mateus 8:10; João 11:33.

[15] Lucas 22:44; João 12:27.

[16] João 11:5.

[17] Mateus 13:53–58.

[18] 1 Pedro 2:22.

[19] Ver Hebreus 4:15.

[20] Tiago 1:13.

 

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