O Aprendizado como uma Disciplina Espiritual

Fevereiro 11, 2019

Peter Amsterdam

[Learning as a Spiritual Discipline]

Aprender é algo que fazemos a vida inteira e nos melhora de várias maneiras. Aprendemos pelo estudo e com nossas experiências. Na infância e na juventude, a escola nos ensina o fundamental e nos instrumentaliza para aprendermos mais. Com o tempo, muitas pessoas se aprofundam em estudos, inclusive depois de entrarem no mercado. Mesmo depois de se tornarem especialistas em suas áreas, alguns continuam dedicando tempo e esforço para acompanhar os avanços em seus campos de atuação por meio de seus estudos.

As pessoas que querem se tornar proficientes em qualquer campo, deve se autodisciplinar para ler, estudar, aprender e praticar. Gastam tempo, dinheiro, compram livros e frequentam aulas, conferências ou seminários. Procuram a ajuda de coaches, prestam exames, obtém certificados e diplomas que atestam sua proficiência em seu campo, profissão ou qualquer área de interesse.

No contexto de nossas vidas espirituais, aprender é também importante. Assim como estamos dispostos a dedicar tempo para crescer em nossas carreiras, ou para melhorar nossas habilidades em diversos aspectos da vida é preciso dedicar tempo para crescer em nossa fé.

Quando perguntaram a Jesus “Mestre, qual é o mais importante de todos os mandamentos da Lei?” Sua resposta foi: “Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente. Este é o maior mandamento e o mais importante.”[1] A disciplina do aprendizado se refere a amar Deus com a mente.

Em geral, os cristãos se sentem mais à vontade com a ideia de amar o Senhor com o coração e a alma. Nós O adoramos como Senhor de nossas vidas, acima de tudo, e a Ele entregamos nosso coração e alma. Vamos à Sua presença com devoção e louvor e nos emocionamos quando cantamos, adoramos e oramos. Ouvimos ou lemos depoimentos de Sua obra maravilhosa, vivenciamos Sua mão em nossas vidas e na forma como atende às nossas orações.

Amar Deus com a mente também é parte do grande mandamento e, muitas vezes, é mais difícil, pois envolve o aprendizado disciplinado. Muitos consideram a doutrina cristã ou a teologia algo seco, sem emoção, e sentem que é desnecessário e inútil encher a cabeça com informações. Teologia é o estudo de Deus e estudar a doutrina aborda o que cremos por sermos cristãos e os motivos de nossas crenças. Saber essas coisas é importante para entendermos nossa fé e construirmos um conhecimento mais profundo de Deus.

William Lane Craig explica da seguinte forma: Nós, cristãos, devemos amar Deus não apenas com nossa alma, não apenas com nossa força, mas também com nossas mentes. O estudo da Sua verdade é uma das melhores maneiras de você expressar seu amor pelo Senhor — pois demonstra querer saber como Ele é e como é Sua verdade. Por isso, o estudo da doutrina cristã é uma maneira de demonstrar seu amor por Deus, disciplinando sua mente a amar e conhecer Sua verdade. Estudar a doutrina é uma expressão de amar a Deus com toda a mente.

Quando se trata do nosso relacionamento com Deus, o caminho para O descobrir e conhecer intimamente envolve aprender o que Ele revelou acerca de Si mesmo nas Escrituras. É preciso aprender sobre Jesus, sobre o sentido da maneira como Ele viveu, da mensagem que pregou e da Sua morte. Significa entender o plano de Deus para a salvação, seu desenrolar no Antigo Testamento e sua culminação na vida e morte de Jesus. É aprender sobre o que Ele quer de nós, Suas criaturas. E isso exige estudo.

Os cristãos são chamados para amar Deus com toda a mente. Devemos continuamente amadurecer enquanto cristãos pelo aperfeiçoamento do nosso conhecimento de Deus e de Sua Palavra. “Com efeito, devendo já ser mestres, por causa do tempo decorrido, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus, e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal. Portanto, deixemos os ensinos elementares a respeito de Cristo e avancemos para a maturidade”.[2]

Quanto mais conhecimento temos sobre o que a Bíblia ensina, mais capazes seremos de responder às perguntas das pessoas e, quando necessário, teremos mais condições de defender nossa fé. “Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês.”[3] De um modo geral, as pessoas hoje estão menos dispostas que no passado a receber a salvação sem antes obter respostas para algumas perguntas, as quais muitas vezes põe em cheque a perspectiva bíblica. Em alguns casos, isso ocorre por conta de interpretações equivocadas dos textos bíblicos. Defender adequadamente sua crença ou responder aos questionamentos sobre sua fé faz de você uma testemunha efetiva. 

A disciplina do aprendizado requer o compromisso com o estudo do significado das Escrituras, da mensagem dada para seus primeiros destinatários, das verdades reveladas e das doutrinas que delas emanam. O foco da leitura devocional é refletir: “O que a Palavra significa para mim? Como posso aplicá-la em minha vida hoje?” Isso é necessário e uma forma importante de Deus falar com os corações de cada um sobre suas necessidades, pecados específicos, etc. É muitas vezes uma experiência na qual a leitura, o sermão ou a história contada pode inspirar, enlevar e causar sentimentos positivos, aproximar-nos do Senhor, coisas muito valiosas e certamente parte de aprendermos sobre Deus e Seus caminhos. Contudo, a disciplina do aprendizado diz respeito ao estudo profundo da Palavra de Deus, por meio do que passamos a conhecer e entendê-la melhor.

Estudar o significado da Palavra e da mensagem dada é importante, pois é pelas Escrituras que Deus Se revela, ensina, explica Seu plano, apresenta os meios para a salvação e nos diz o que espera de nós. É um esforço feito para adquirir uma perspectiva mais ampla do que Deus revelou à humanidade pela Sua Palavra escrita. Isso é muito diferente de ler a Bíblia para fins devocionais ou escutar a um palestrante inspirado. Estudar as Escrituras com o propósito de aprender sobre Deus ajuda a aumentar nosso entendimento de Deus e nossa fé. É uma forma de amar Deus. Aprender e estudar dessa forma, combinado com leituras devocionais, nos leva a amar Deus como Ele pediu—com o coração, alma e mente.

Estudar assim permite entender como a sua fé “funciona” e conhecer mais profundamente suas razões subjacentes. Aprender sobre as Escrituras, seu contexto, seu significado geral — inclusive a história da interação de Deus com a humanidade, com o Antigo Israel especificamente e o plano de Deus para a salvação por meio de Jesus — então quem Ele é e por que faz o que faz se torna mais claro. Assim, você aprende mais sobre Ele, o que Ele quer de nós e por quê. Em suma, passa a conhecer Deus de uma forma pessoal mais profunda. Aprender a Seu respeito, em um nível tão fundamental, com base em uma compreensão mais profunda do que Ele disse a Seu próprio respeito nos permite entender melhor Suas razões para querer que sejamos e vivamos de certa maneira, e nos ajuda a harmonizar nossas vidas com Ele.

Pode ser difícil encontrar o tempo para estudar e aprender, mas vale a pena. Esse aprendizado muitas vezes acontece pela leitura, mas esse não é o único recurso. Há cursos em áudio e vídeo disponíveis online que são muito bons para ensinar os fundamentos da fé cristã. Se você preferir escutar a ler, sugiro o curso Defenders, de William Lane Craig. É esclarecedor e educativo, alimenta e oferece excelentes explicações sobre as principais doutrinas cristãs.

Entender Deus e a Sua Palavra o ajudará mais a ser uma pessoa melhor, um cristão ou cristã melhor e uma melhor testemunha para os outros. Além disso, você poderá contar com mais uma via para amar Deus, quando buscá-lo de todo coração, alma e mente.

Publicado originalmente em agosto de 2014. Adaptado e republicado em fevereiro de 2019.


[1] Mateus 22:36–38.

[2] Hebreus 5:12–14; 6:1.

[3] 1 Pedro 3:15.

 

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