Setembro 21, 2018
Quando eu era menino pensava no céu como uma cidade reluzente, com grandes muros, cúpulas e pináculos, sem habitantes, apenas os anjos brancos, que eram estranhos para mim. Passou o tempo e o meu irmãozinho faleceu, e pensei na cidade grandiosa com muros, cúpulas e pináculos, e um bando de anjos desconhecidos e frios, e um carinha que eu conhecia. Ele era a única pessoa que eu conhecia naquele país. Aí outro irmão meu faleceu, de modo que agora havia duas pessoas conhecidas. Depois disto algumas pessoas do meu círculo começaram a morrer, e o número não parou de crescer.
Mas foi só depois que um dos meus filhinhos voltou para Deus é que comecei a pensar que o Céu como um lugar interessante. E foi mais um segundo, terceiro, quarto, e a esta altura eu tinha tantas pessoas conhecidas no Céu que não via mais muros, nem cúpulas nem pináculos. Comecei a pensar nos residentes da Cidade Celestial. E agora são tantas as pessoas conhecidas que partiram que parece que conheço mais gente no céu do que na terra.
Aquele lar imutável é para você e pra mim,
E lá Jesus está também;
O Rei de todos os reinos é eterno,
E em Suas mãos nossas coroas tem.
Ah, que doce será aquele lindo lugar,
Livre de toda tristeza e dor;
Com uma canção nos lábios e harpa na mão
Voltaremos a nos encontrar então.[1]
… Qual sempre foi e ainda é a busca mais forte no coração humano? Não é encontrar um lugar melhor, um local mais lindo, do que aquele que temos agora? É isto que os homens buscam por toda parte, e podem ter se quiserem; mas em vez de olhar para baixo, devem alçar a vista. À medida que os homens crescem em conhecimento, competem cada vez mais para tornarem suas casas atraentes, mas a casa mais linda desta terra não passa de um celeiro vazio, quando comparada às mansões nos céus.
O que buscamos no declínio e no fim da vida? Não buscamos por acaso um abrigo, um local sossegado, onde, se não pudermos ter um descanso contínuo, possamos ter pelo menos um gostinho do descanso que está por vir? O que foi que levou Colombo, sem saber qual seria o seu destino, a cruzar os mares do ocidente, se não foi a esperança de encontrar uma pátria melhor?
Foi isto que sustentou os corações dos nossos Patriarcas Peregrinos, que foram expulsos de sua terra natal pela perseguição enquanto enfrentavam uma costa feroz e selvagem, com um território inexplorado para além. Eles foram encorajados e sustentados pela esperança de alcançar um país livre e frutífero, onde pudessem descansar e adorar a Deus em paz.
A esperança do cristão com relação ao céu é de certa forma semelhante, só que não é um país desconhecido, e as atrações não se podem comparar a nada que conhecemos na terra. Talvez nada, a não ser a nossa falta de visão nos impeça de enxergar os portões celestiais que nos estão abertos, e nada além da surdez de nossos ouvidos nos impede de ouvir o alegre badalar dos sinos do céu. Há sons constantes ao nosso redor que não podemos ouvir, e o céu está repleto de mundos reluzentes que nossos olhos nunca viram. Sabemos muito pouco sobre esta terra brilhante e radiante, mas temos vislumbres de sua beleza que nos são mostrados de vez em quando.
Podemos não saber quão doce é seu ar perfumado,
Quão alegres e lindas são suas flores;
Talvez não escutemos as canções que lá ecoam,
Através de seus caramanchões encantados.
Podemos não ver as torres brilhantes da cidade
Com a nossa fraca visão terrena,
Porque a Morte, a guarda silenciosa, mantém a chave
Que abre os portões Elíseos.
Mas às vezes, ao cair do céu ocidental
Um por de sol ardente se delonga,
E o portão de ouro se entreabre sem nenhum ruído,
Destrancado por dedos invisíveis.
E enquanto está por um momento entreaberto,
Irradia sua glória interior
Reluzindo desde o tesouro azul celeste distante,
Revelando parcialmente a história.[2]
Dizem os viajantes que ao se escalar os Alpes, as casas dos vilarejos distantes podem ser vistas com grande distinção, de tal modo que às vezes dá para contar o número de vitrôs de uma igreja. A distância parece tão curta que o local de destino do viajante parece praticamente fora de alcance, e mesmo depois de várias horas de subida, não parece estar mais próximo. Isto ocorre por causa da atmosfera muito clara. Contudo, depois de muita perseverança, chegam ao seu destino, e ali o viajante cansado encontra descanso. Então às vezes nós vivemos nas alturas da graça; o céu parece muito próximo, e as colinas de Beulá estão em plena vista. Outra vezes, as nuvens e o nevoeiro faz com que o sofrimento e o pecado impeçam a nossa visão. Estamos tão próximos do céu num caso como no outro, e tão certos de conquistá-lo se simplesmente nos mantivermos no caminho que Cristo nos apontou.
Li que na costa do Mar Adriático as esposas dos pescadores, cujos maridos se lançaram ao alto-mar, têm por hábito ir até à costa durante a noite para cantar com suas doces vozes o primeiro verso de um lindo hino. Depois de cantarem elas esperam até ouvirem no vento, lá do outro lado mar, o segundo verso cantado pelos seus corajosos maridos, enquanto são atirados pelos ventos—e ambos ficam contentes.
Talvez, se escutássemos, pudéssemos também ouvir neste nosso mundo levado pela tempestade, algum som, algum sussurro, desde longe, nos dizendo que existe um céu que é o nosso lar; e quando cantássemos os nossos hinos às margens da terra, talvez conseguíssemos ouvir seus doces ecos quebrando em música sobre as areias do tempo, alegrando os corações daqueles que são peregrinos e estrangeiros ao longo do caminho. Si, precisamos olhar para cima—para fora, além desta terra baixa, e irmos mais alto nos nossos pensamentos e ações, até mesmo aqui!
Sabe, quando um homem está subindo num balão, ele leva areia para servir de lastro e quando quer subir ainda mais alto, descarta um pouco dela, e então sobe um pouco mais; ele descarta um pouco mais de lastro, e sobre ainda mais alto; e quanto mais ele lançar, mais alto sobe, e quanto mais tivermos que nos descartar das coisas deste mundo, mais próximos chegaremos de Deus. Abra mão dessas coisas; que não coloquemos os nossos corações e afeições nessas coisas, mas façamos o que o Mestre nos diz para fazermos—adquirirmos tesouros no céu...
Agora, acho que é o que gostaríamos de dizer aos que se professam cristãos—se construírem para o tempo, ficarão desapontados. Deus diz para construirmos para a próxima vida. É muito melhor termos uma vida com Cristo em Deus do que em qualquer outro lugar. Eu preferiria ter minha vida escondida com Cristo em Deus do que estar no Éden como Adão. Adão poderia ter permanecido no Paraíso por 16 mil anos, e então caído, mas se a nossa vida estiver escondida em Cristo, estamos seguros!
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