Integridade—1ª Parte

Agosto 23, 2018

Peter Amsterdam

[Integrity—Part 1]

Você não gosta de se relacionar e interagir com pessoas sinceras, confiáveis, francas, autênticas e cumpridoras de sua palavra? — Gosto de gente que honra compromissos e respeita a confidencialidade das questões pessoais. É bom ter amizades, trabalhar ou fazer negócios com quem é assim porque podemos confiar nessa pessoa. Com certeza, ninguém é perfeito e até mesmo as pessoas fidedignas escorregam de vez em quando, mas sinto-me em paz quando estou perto de gente de bom caráter, íntegra e cuja vida se fundamenta em princípios, aos quais são leais, mesmo quando não é fácil ser.

Ser íntegro é ter um padrão moral fixo pelo qual alguém orienta suas ações. Para o cristão, esse padrão e a Palavra de Deus. Quem conhece a Palavra de Deus, sabe o que Ele revelou sobre Si próprio, Seus atributos e natureza. Por isso, entende que o que Ele nos disse é importante para Ele e tenta viver de forma a refletir o que Lhe é caro. Acreditamos em Seus valores, escolhemos adotá-los como nossos e trabalhamos para alinhar o que dizemos e fazemos.

Sua Palavra ensina que Deus valoriza a integridade: sinceridade, probidade, o honrar a palavra dada e a fidedignidade. “Senhor, quem habitará no Teu santuário? Quem poderá morar no Teu santo monte? Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade.”[1] Quando a integridade centrada em Deus se torna nosso padrão, passa a guiar nossas ações. “A integridade dos sinceros os encaminhará …”[2]

Somos tentados a flexibilizar a moral, a ser um pouco menos sinceros e basearmos nossas decisões no que entendemos será melhor para nós, em vez de o que é certo. Assim são os humanos e esse é um dos resultados da nossa condição após a queda.[3] Por sermos crentes tentando praticar nossa fé, temos o desafio de nos erguermos acima de nossa natureza pecaminosa, pela graça de Deus.

Somos chamados para viver segundo os valores divinos que adotamos, tanto na nossa vida privada quanto em público. Devemos tomar as mesmas decisões e agir da mesma forma, quer estejamos sendo observados, quer não. Integridade é escolher fazer o certo, não porque alguém está olhando, mas porque temos o compromisso de fazer o que é certo. É uma determinação interior que não depende das circunstâncias. O que é certo é certo, o que é errado é errado — mesmo que ninguém esteja olhando.

Em longo prazo, escolher sempre a integridade tem recompensas e o erro cometido às ocultas é uma dívida que cedo ou tarde será cobrada por meio de consequências visíveis, ou se torna um fardo para nossas almas, atrapalha nossa conexão com Deus e nosso relacionamento com os outros.

“Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido. O que vocês disseram nas trevas será ouvido à luz do dia, e o que vocês sussurraram aos ouvidos dentro de casa, será proclamado dos telhados.”[4]

Por que a integridade é importante?

A integridade é essencial para a conquista da credibilidade, com efeitos na vida pessoal, profissional, social e espiritual. Tem a ver com a essência do que somos e define nosso caráter. Buckminster Fuller, renomado arquiteto e escritor, disse: “Integridade é a essência de tudo que alcança o êxito.” Zig Ziglar expressou de forma semelhante a importância da integridade: “A sinceridade e a integridade são absolutamente essenciais para o sucesso na vida… em todas as áreas da vida.”

Nosso comportamento resulta das escolhas que fazemos. Quando as tomamos com base em nossos valores em vez de nos orientarmos pelo que seria vantajoso para nós, somos íntegros. Isso requer que nos disciplinemos a tomar decisões com base no que é certo e não no que é mais conveniente ou mais vantajoso para nós no momento. É ajustar nossa bússola moral para o verdadeiro Norte, os valores de Deus, e nos determinarmos a seguir independentemente das circunstâncias.

Viver com integridade é praticar seus valores mesmo quando isso nos impõe perdas. Às vezes, as circunstâncias mudam depois de você dar sua palavra e se torna difícil ou até custoso, mas você cumpre o que prometeu porque “fez um voto”. Seu “sim” precisa significar sim; seu “não”, deve significar não.[5] Integridade significa honrar sua palavra.

Ter integridade é conhecer seus valores morais e se determinar a viver segundo eles. Falta integridade quando suas palavras não coincidem com suas ações, quando diz uma coisa e faz outra, quando seus atos contrariam seus valores (os valores de Deus). Nossos valores motivam o que fazemos e não ter a integridade que deveríamos em nosso comportamento indica que nossos verdadeiros valores podem não ser os que pensamos ou afirmamos serem. É possível que, inconscientemente, cultivamos valores não alinhados com a Palavra ou vontade de Deus. Nós, cristãos, devemos nos esforçar para aferir nossas decisões, escolhas e ações pelos valores que Deus nos revelou nas Escrituras, ou seja, alinhar nossos valores aos dEle.

Integridade como hábito

Comprometer-se a viver com integridade torna mais fácil fazer as escolhas certas, diante de decisões difíceis. A pessoa determinada a orientar sua vida pelos valores divinos não terá tantos conflitos interiores cada vez que tiver de escolher entre o certo e o errado. De um modo geral, a escolha já terá sido feita antecipadamente, por conta do compromisso feito. Ao se vir diante da possibilidade de pegar algo que não lhe pertence, fazer algo que não deveria, enganar, mentir, falar mal de alguém, espalhar fofocas, violar um acordo, ser infiel ao marido ou esposa, terá a coragem moral para escolher não fazer tais coisas, mesmo que se sinta tentado a contrariar os valores que escolheu para orientar sua vida.

A integridade não é um fenômeno natural, mas algo que se desenvolve de forma consciente e progressiva. O primeiro passo é decidir viver com integridade e tornar isso um compromisso. Decide por um sistema de valores o qual se determina a obedecer. Com esse compromisso feito, trabalha para fortalecer essa determinação. Haverá tentações, mas fazer as escolhas certas, mesmo em situações em que se sente inclinado a ceder, construirá o hábito de agir eticamente. Ser leal acima de tudo aos seus valores torna mais fácil tomar decisões éticas e reduz a tentação de abrir mão de suas convicções.

Decidir pela integridade nos coloca em posição de alcançar nossas metas de forma a não termos do que nos envergonharmos. Quando se trata das coisas verdadeiramente importantes na vida, o caminho para alcançar nossas metas é tão importante quanto às próprias metas. Se não formos sinceros, aproveitarmo-nos dos outros, apropriarmo-nos do que não é nosso, agirmos antieticamente, ou prejudicarmos os outros para satisfazer nossas ambições, agiremos com engano e desonra. Talvez tenhamos conseguido o que queríamos, mas, no processo, trairemos nossos valores, nosso caráter e nossa fé. É possível racionalizar que o resultado final justifique qualquer meio que escolhamos para alcançá-lo, mas essa linha de pensamento faz com que deixemos a ética de lado, torna nossas ações imorais, prejudica nosso relacionamento com Deus e com os outros.

Em geral, aqueles cujos lapsos morais prejudicaram seriamente a própria vida e a dos outros não acordaram um dia e tomaram uma decisão antiética. Tipicamente, começaram tomando pequenas decisões erradas, talvez cedo na vida: evitar a verdade, contar meias-verdades, pegar algo de pequeno valor que não lhe pertencia, colar na prova, ou outras coisas que, apesar de erradas, não pareciam ser nada demais. Essas infrações “menores” foram racionalizadas como não sendo nada de outro mundo, coisas não chegavam a depor contra a honra de quem as cometeu. Contudo, quando se tornam recorrentes, formam hábitos difíceis de desfazer. Com a degradação do padrão moral, o entendimento do que é ético e correto passou a ficar nublado, e torna mais fácil justificar ou racionalizar mentiras ainda maiores e ações ainda mais antiéticas. A convicção de viver com integridade diminui gradativamente até formar uma pessoa corrupta.

A transigência com as “pequenas” infrações pode ter consequências, prejudicar a alma e a relação com o Senhor. Algo errado não se torna certo se incidirmos no erro apenas um pouco. O errado é errado. Por outro lado, quando criamos o hábito de fazer o que é certo, mais fácil se torna fazer as boas escolhas.

A soma de suas decisões diárias é o que faz de você quem você é.

Publicado originalmente em maio de 2014. Adaptado e republicado em agosto de 2018.


[1] Salmo 15:1–2.

[2] Provérbios 11:3

[3] O entendimento tradicional é que o homem foi criado no chamado estado de integridade. Contudo, por razão da Queda do Homem, pelo pecado de Adão, a humanidade perdeu o estado de integridade e caiu no estado de corrupção. Dessa forma, o estado de integridade e pureza se perdeu. … No estado de integridade, o homem tinha a capacidade de não pecar, de resistir à tentação e de obrar a justiça. Suas paixões estavam em harmonia com sua vontade, a vontade tinha integridade e, portanto, a capacidade de não pecar. Todavia, no estado de corrupção, perdeu-se a capacidade de não pecar. O homem pode escolher cometer todo tipo de pecado. Por haver caído é incapaz de não pecar. (Trechos de William Lane Craig — Doctrine of Man, Part 10.)

[4] Lucas 12:2–3.

[5] Mas, sobretudo, meus irmãos, não jurem, nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto. Seja, porém, o vosso sim, sim, e o vosso não, não, para não serdes condenados (Tiago 5:12).

 

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