A Vida Altruísta—2ª Parte

Janeiro 18, 2018

Da série Roadmap

[The Unselfish Life—Part 2]

Altruísmo não está relacionado apenas a contribuição financeira. Às vezes, dar dinheiro é mais fácil do que dar de si mesmo. Dedicar seu tempo, atenção, ser solidário e compreensivo, e orar pelos outros exige “sinceridade e verdade”. Temos que estender a mão, entender, ter compaixão, e fazer algo a respeito da situação. Muitas vezes, esses sacrifícios que exigem nosso tempo é que realmente têm valor, como, por exemplo, quando abrimos mão de um dia de folga para ajudar em uma obra social, passar tempo com os filhos de uma mãe solteira, ensinar alguém a ler, ou visitar um doente.

A coisa não é só dinheiro. É sobre dar de coração, por amor.

Existe uma linda história sobre um missionário que ensinava na África. Antes do Natal ele falou aos alunos sobre a maneira como os cristãos expressam sua alegria trocando presentes entre si no aniversário de Jesus.

Na manhã de Natal, um dos nativos entregou ao missionário uma linda concha reluzente. Ao ser perguntado onde encontrara uma concha tão extraordinária, ele respondeu que andou muitos quilômetros ao longo da costa, até o local onde era possível encontrá-las.

— Que maravilhoso você ir tão longe para conseguir este lindo presente para mim! — exclamou o professor. Com os olhos brilhando, o nativo explicou:

— A longa caminhada faz parte do presente.

Não o que damos, mas o que dividimos,
Pois o presente sem o que presenteia nada vale!

Autor desconhecido

Cada um de nós tem muitas oportunidades de ajudar. Com a ajuda de Deus deveríamos estar constantemente cientes do fato de que somos ricos no espírito e, muitas vezes, materialmente também em comparação com outros. Temos muito a compartilhar. Somos bilionários em termos de riquezas verdadeiras.

Conhecem o ditado “a caridade começa em casa”? Ele pode muito bem ser aplicado às oportunidades que temos de ajudar os irmãos — outros cristãos e missionários. Este testemunho de Steve relata uma experiência na qual ele e sua esposa foram os beneficiários do impressionante amor de Deus por meio dos irmãos.

O sol se punha ao longe enquanto dirigíamos pela estrada estreita nas montanhas na região central do México. Acendi os faróis e conferi o retrovisor como estava a minha pequena equipe. Minha esposa dormia, provavelmente pela primeira vez em dias. Minhas três menininhas também dormiam. Eu gostaria de tomar café, mas não queria gastar dinheiro. Precisávamos de cada centavo para comprar gasolina para chegarmos a Dallas. A verdade é que, mesmo se eu tivesse condições de comprar, não teria parado, porque todos iriam acordar... mas, o que é mais importante, estávamos em uma corrida contra o tempo.

Eu não me importo de dirigir à noite, pois as crianças geralmente dormem, o clima é mais fresco e me dá tempo para pensar. Eu precisava de tempo para pensar. Foi um longo ano!

Relembrei o dia em que descobri que íamos ter outro bebê! Estávamos a caminho de um novo campo de missão. Poupamos dinheiro suficiente para comprar uma van da Ford, modelo Windstar, verde, bem feia, com amassados na lataria e um bagageiro de teto. Viajamos até à costa leste dos EUA para visitar a família da minha esposa, depois para a costa oeste para visitar a minha família. Minha esposa, coitada, enjoou a viagem toda.

Depois disso nos juntamos a outros missionários no sul do México. Cansados da batalha, chegamos três semanas antes da data prevista para o nascimento do bebê. Minha esposa sentia que havia algum problema com o bebê. Eu disse para ela não se preocupar. Contudo, ela tinha razão. Logo após o parto, Vanessa foi levada às pressas para uma incubadora, onde ficou durante três dias. Os médicos não tinham explicação para a sua dificuldade em respirar, então lhe deram alta. Alguns dias depois estávamos no pronto-socorro do hospital público infantil. Passamos três semanas na van, no estacionamento do hospital.

Durante os exames constatarão que Vanessa tinha problema cardíaco que exigia cirurgia. Não ficou muito claro a sua condição de saúde, mas os médicos pediram que voltássemos aos EUA para ela receber melhores cuidados médicos. Nossos amigos, missionários em Dallas, concordaram em nos receber em sua casa durante alguns meses até termos um diagnóstico claro e Vanessa passar pela cirurgia. Esse era o plano.

Chegamos à casa desses amigos em Dalas  quando o dia estava amanhecendo. Eles tinham preparado um lindo quartinho para nós. Nossas filhas adoraram as duas caminhas fabricadas especialmente para elas. Uma delas perguntou: “Mãe, quanto tempo podemos ficar neste hotel? É muito legal!” Foi o lugar mais confortável onde dormimos em praticamente um ano.

A consulta com o cardiologista resultou em sermos transportados de ambulância para a UTI do Centro Médico de Dallas, onde basicamente vivemos durante os dois meses seguintes. — Cirurgia cardíaca, sonda, infecções diversas, e muitas noites sem dormir.

Minha esposa e eu nos revezávamos para nenhum de nós ficar 24 horas no hospital. E o tempo todo esses queridos missionários cuidaram das nossas meninas, prepararam as refeições, lavaram nossas roupas, nos emprestavam um carro quando o nosso foi para a oficina, revezaram no hospital para podermos descansar e passar um tempo com nossas filhas, e até pagaram o pedágio para pegarmos a rota mais curta até o hospital! 

Finalmente a pequena Vanessa teve alta e a levamos para convalescer em casa. Os donos da casa nos transferiram para a suíte máster para termos espaço para todo o equipamento hospitalar necessário para cuidar do bebê. E esse tempo todo eles nunca mencionaram dinheiro ou o fardo financeiro com que tiveram que arcar. Eles supriram todas as nossas necessidades.

Seis semanas depois, Vanessa entrou em coma e foi levada às pressas para o hospital. Durante os três meses seguintes os médicos tentaram descobrir o problema. Fizeram exames e mais exames. E o resultado de cada um deles foi como levar um soco na cara. Ela tinha dano cerebral. Era cega e surda, tinha problemas de coração que exigiam diversas cirurgias. Resumindo, a condição do bebê era terminal.

A pergunta era, quanto tempo de vida lhe restava? Um ano, talvez dois. Não sabíamos. Ninguém sabia. O comitê de ética do hospital a liberou para cuidado domiciliar para ela poder morrer em casa.

Sabíamos que os missionários que nos hospedaram tinham ajudado o máximo possível. Durante meses eles compartilharam tudo que tinham sem nunca nos pedirem nada. Eu sabia que não teriam condições de continuar nos sustentando. Tranquilamente, nos preparamos para partir. Encontramos um pequeno apartamento de um quarto perto do hospital.  

Foi então que esses missionários fizerem algo totalmente imprevisível. Eles nos pediram para ficar. Achei que não tinham entendido no que estavam se metendo. Não viram que minha esposa e eu íamos nos revezar para cuidar do bebê 24 horas por dia? Que Vanessa precisaria de cuidados médicos constantes e visitas semanais de diferentes enfermeiras? Nós já tínhamos alvoroçado a casa deles, e aquilo ia continuar não sabíamos por quanto tempo. Além disso, não sabíamos como poderíamos contribuir financeiramente ou nas coisas práticas — se é que conseguiríamos ajudar de alguma forma.

A coisa é que eles entendiam, e nos disseram, numa boa: “O que precisarem, por quanto tempo precisarem. Estamos aqui para cuidar de vocês e da sua família.”

Vocês nem imaginam a profunda emoção que sentimos. Sem dúvida pessoas extraordinárias. Alguns meses depois, Vanessa partiu tranquilamente para o Céu, para junto de Jesus, no colo da mãe. Ainda sinto saudades dela, e isso aconteceu a vários anos atrás.

Até hoje esse é o maior exemplo de generosidade e sacrifício que já vi.

Foi um exemplo impressionante de amor incondicional e gentileza, do tipo que ama a pessoa só porque vocês dois amam Jesus. Um amor que dá até doer e então dá um pouco mais. Um amor que diz: “O que você precisar, enquanto precisar”, mesmo sabendo que jamais haverá retribuição.

Jesus disse: “O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram”.[1] Estou eternamente em dívida com esses amigos. Eles não só disseram crer na verdade da Palavra de Deus, mas provaram. Muito obrigado!—Steve

A Bíblia diz: “Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.”[2]

Jesus disse: “Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver”.[3] Ele nunca falha. Se queremos ter uma vida abençoada, gratificante e feliz, devemos procurar maneiras de ajudar as pessoas ao nosso redor. Vamos criar esse hábito. Vamos incluir no nosso código pessoal de conduta o dedicar tempo, prestar serviços e contribuir financeiramente, e veremos que jamais nos faltará nada, porque Deus nos retribuirá abundantemente, e a nossa vida altruísta será uma vida abençoada.

Viver altruisticamente é como dar um presente a si mesmo, porque tudo o que dá ou divide com alguém volta para você. É uma promessa! Mesmo que tente, é impossível dar mais do que Deus.

Quando o amor cristão deixa de ser apenas um sermão e passa a ser um exemplo da generosidade, cuidado e atenção de Jesus, é como vestir o amor em roupas de trabalho e ir construir algo lindo. Esse é o tipo de amor do dia a dia que chama a atenção e realça as pessoas. É um exemplo vivo do amor incondicional de Jesus.

Existem muitas maneiras de ajudar. Podemos dar das nossas posses, ou contribuir com orações, com nosso tempo, conselhos, solidariedade e assistência. Toda doação é digna, porque aquilo que é dado não se perde jamais, não passa despercebido nem é esquecido pelo Senhor. Você jamais se arrependerá de dar, tanto nesta vida como na vida por vir.

Roadmap foi uma série de vídeos produzida por AFI para jovens adultos. Publicada originalmente em 2010. Adaptada e republicada no Âncora em janeiro de 2018.


[1] Mateus:40.

[2] 2 Coríntios 9:7.

[3] Lucas 10:35.

 

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