Maio 17, 2017
Eu estava lendo a conhecida história do Bom Samaritano de uma Bíblia ilustrada em quadrinhos para um grupo de alunos de oito a nove anos de idade. Terminei com a pergunta que Jesus fez aos que O estavam ouvindo: “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” “Aquele que teve misericórdia dele”, respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: “Vá e faça o mesmo”[1]
Um dos meninos, um ruivinho cheio de sardas no rosto perguntou: “Como vou encontrar um próximo que precisa da minha ajuda?”
Essa pergunta me fez pensar! Na verdade, não é todos os dias que nos deparamos com uma pessoa espancada deitada na rua, se é que alguma vez, nem são muitas as vezes que testemunhamos alguém sendo roubado ou maltratado, e o meu vizinho, meu próximo no físico, que eu saiba raramente precisa de algo de mim, especialmente porque moramos em um grande complexo de apartamentos.
Explorando um pouco mais esse pensamento, imaginei um dos meus dias comuns, que é algo mais ou menos assim:
Meia hora para uma reflexão e oração matinal, seguida de algum exercício e um breve café da manhã. Sair porta afora justo a tempo de fugir do trânsito da hora de pico é geralmente uma façanha. Mesmo se eu chegar na hora para os meus compromissos, a maioria das outras pessoas na nossa cidade africana não chega, muitas vezes fazendo com que eu me atrase para o meu próximo compromisso. Isso, por sua vez, me deixa chateada, com pouca compaixão para parar e colocar uma moeda na mão de uma mendiga idosa e maltrapilha na esquina da rua ou do homem sem pernas sentado numa cadeira de rodas com as mãos estendidas pedindo.
Onde estão os meus próximos? Eu me pergunto. Passei voando por eles.
Ele era o meu próximo? Eu tinha ido de um compromisso a outro com pouco tempo de responder a uma mensagem de texto de um amigo decepcionado que precisava de alguns minutos. Um ouvido amigo talvez fizesse toda a diferença do mundo para ele.
Humm, será que ele era o meu próximo? Passei os olhos em um e-mail de um antigo conhecido meu que me explicava como sua vida tinha ido de mal a pior nos últimos tempos e que ele precisava de alguém com quem conversar. Isso vai ter que esperar até mais tarde, decidi, ao me voltar para os e-mails urgentes de trabalho, cada um marcado urgente na lista, esperando para serem respondidos. Será que realmente teria demorado tanto assim lhe escrever umas linhas com palavras de encorajamento, que talvez poderiam ter mudado o dia do meu conhecido?
Quando cheguei no meu carro no estacionamento mais tarde naquele dia, o cara no carro ao meu lado estava fazendo de tudo para dar partida, sem sucesso. Parecia que a bateria dele estava arriada e que ele precisava de um cabo para fazer uma chupeta. Puxa vida, um Bom Samaritano devia fazer aquilo, não eu. O meu cabo estava enterrado no fundo do porta malas, debaixo de outras coisas que eu precisava entregar em um dos nossos projetos a caminho de casa. Ele com certeza não é o meu próximo, pensei ao me sentar ao volante com um olhar de “sinto muito”. De qualquer forma, eu estava a caminho de um projeto de auxílio e estava atrasada.
Depois de refletir neste dia, percebi que cada dia traz consigo um ou dois próximos, e como é fácil simplesmente ignorá-los e irmos fazer coisas mais “importantes”. Eu também contemplei as várias vezes que tinha me beneficiado de um amigável Bom Samaritano que resolveu espontaneamente que eu era sua próxima, e estendeu sua mão para me ajudar quando me encontrei num aperto.
Durante o meu tempo de reflexão na manhã seguinte, lembrei-me que costumo prestar mais atenção às minhas maiores e mais vistosas boas ações por assim dizer. Como sou missionária e me deparo regularmente com várias pessoas carentes, parece que adquiri o hábito de focar nos projetos maiores e mais gratificantes. De modo que resolvi prestar mais atenção aos pequenos atos de bondade e às pequenas boas ações que posso fazer àqueles com os quais eu muito provavelmente vou me deparar nos meus dias atarefados no futuro.
Não demorou muito e fui posta à prova nesta decisão quando uma amiga me ligou perguntando se eu podia cuidar de seu filhinho para ela poder ir a uma consulta de emergência no dentista. Eu tinha planejado aproveitar o sábado à tarde para não fazer nada e relaxar, mas me lembrei da minha resolução e disse que poderia ajudá-la, confiando que só iria me tomar uma hora e que eu ainda teria tempo suficiente para descontrair depois. Eu também escrevi um bilhete para aquele meu velho conhecido que andava triste e pus uma moeda na mão de uma senhora pedinte na esquina. Felizmente ninguém precisou do meu cabo de ligação.
Houve outros próximos ao longo das semanas seguintes, e sempre haverá muitos outros no futuro. Para eu conseguir prestar mais atenção aos pequenos atos de bondade, descobri que é importante orar para saber o que realmente cabe a mim fazer. Riscar automaticamente da minha lista alguém que precisa de ajuda numa certa situação era certamente muito mais fácil, mas no final das contas, pouco é muito se Deus está envolvido! Até mesmo um sorriso pode ir longe, assim como dar uma mãozinha, uma moeda, carregar uma sacola, enviar um SMS encorajador, dividir uma refeição, dedicar sua atenção exclusiva, ou fazer aquele telefonema que há tempos não faz.
É surpreendente ver as diversas pequenas maneiras e pequenos atos que podem ser adaptados para melhorarmos o mundo ao nosso redor, além das ações mais importantes e maiores, se prestarmos atenção e lembrarmos do Bom Samaritano e perguntarmos a Deus regularmente, “Quem é o meu próximo?”
“‘Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?’ O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.’”—Mateus 25:35–40[2]
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