Fevereiro 3, 2016
Hoje tive um pensamento interessante. Li uma parte de Mananciais no Deserto durante minhas devoções, um trecho de um velho santo de Deus, Maltbie Davenport Babcock, sobre este versículo em Tiago 1: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.”[1] O que li fez com que algo dentro de mim me dissesse para olhar mais profundamente.
A primeira coisa que me chamou a atenção como algo digno de um exame mais profundo foi quando Babcock compartilhou a ideia de que “toda boa dádiva de Deus” é um dom de ‘aperfeiçoamento’. Essa palavra “aperfeiçoamento” era intrigante. Continuei a ler, “... assim como um presente sem defeito, um dom que é completo em todos os aspectos, um dom que é sólido e um que é impecável.”
“Toda boa dádiva e todo dom perfeito (de aperfeiçoamento) vem do alto.” No passado, quando lia este versículo eu tendia a pensar que toda boa dádiva e todo dom perfeito eram o mesmo, ou através de uma simples dedução que bom é igual a perfeito. Eu era, portanto, inclinado a pensar que quando as coisas corriam “bem” elas eram de Deus, e quando iam “mal”, não deviam ser de Deus. Eu não conseguia ver estes dons perfeitos como dons de aperfeiçoamento.
No entanto, agora comecei a olhar para os dons de aperfeiçoamento de Deus através das lentes microscópicas de Romanos 8:28: “Todas as coisas contribuem juntamente para o bem”. E João 15: 2: “Toda a vara que dá fruto, ele limpa.” E Hebreus 12:6: “Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho” a luz se acendeu, e parafraseando Paulo, “Antes, meu homem natural não conseguia compreender as coisas do Espírito de Deus, porque pareciam loucura para mim; e eu não podia entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”[2] Senti que estava começando a ter “a mente de Cristo” sobre o assunto e a vê-lo como Ele o vê.
Então, o que esses dons de aperfeiçoamento de Deus deveriam fazer por nós ou para nós? Paulo disse: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente.”[3] O que é este peso eterno de glória que Ele quer em nós?
Babcock explica:
“O caráter vale o que custa, e como Deus incessante e permanentemente edifica o caráter, a negação ou a provação que ajudam a formar o caráter são ferramentas para cumprir o Seu propósito, assim como o dom que faz você rir com alegria.
“As circunstâncias não determinam o caráter. O caráter mais nobre pode emergir das piores circunstâncias possíveis, e fracassos morais podem advir das melhores circunstâncias. Onde quer que esteja, aceite as coisas da vida como ferramentas, e use-as para a glória de Deus, de modo que possa ajudar o reino por vir, e o Mestre usará essas coisas para moldar e polir você de modo a ser um dia uma alma conforme a Sua semelhança.”
Através desses dons de “aperfeiçoamento” Deus está nos mudando, mudando o nosso caráter para estar “conforme a imagem de Seu Filho”, e como Paulo também disse em 2 Coríntios 3:18, “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” Deus quer que nosso caráter reflita o de Seu Filho. Todo o trabalho de esculpir, lixar, esfregar, polir, purificar, moldar, quebrar, fazer e refazer é para o único propósito apenas. É tudo para que quando as pessoas olhem para nós, elas vejam em nós o reflexo da imagem de Seu Filho.
J. R. Miller colocou da seguinte forma:
“A origem da palavra ‘caráter’ é sugestiva. Vem de um radical que significa arranhar, gravar, cortar sulcos. Ela então vem a significar aquilo que está gravado ou recortado em algo. Na vida, portanto, são as coisas que trazem sulcos ou marcas na alma. ... Sua vida é como uma folha em branco, na qual ainda não há nada escrito; ou é como uma mesa de mármore macio, na qual o escultor ainda não cortou nada; ou uma tela, esperando as cores do pintor. O caráter é formado ao longo dos anos. É a escrita, a canção, a história, postas no papel. É a incrustação, a escultura, que o mármore recebe do formão. É a imagem que o artista pinta na tela. O caráter final é aquilo que o homem é depois de ter vivido todos os seus anos terrenos. No cristão são as linhas de sua semelhança a Cristo retratadas,[4] às vezes franzidas ou com cicatrizes, na sua alma pelo divino Espírito através da graça e das experiências vividas na própria vida.”
Agora, passemos à segunda parte de Tiago 1:17: “…descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Babcock escreveu:
“A palavra ‘variação’ é paralaxe, uma diferença de pontos de vista entre observadores em locais distintos. ‘Mas isso é o que quero dizer’, você exclama. ‘Deus mudou para mim. Veja como Ele me tratou uma vez; veja meus dias felizes, meus gloriosos botões e flores, e agora olhe a minha exuberância cortada e já não mais existe; meus galhos sangrando pela sua faca.’ Mas Deus nunca mudou Sua visão de nós nem o que pensa de nós. Ainda é o mesmo de quando Ele falou deles há mais de 2500 anos por meio de Jeremias, ‘Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro.’”[5]
E depois, como que para amarrar este pensamento de que os dons de aperfeiçoamento de Deus contribuem juntamente para o nosso bem, Babcock diz então:
“Querido coração, cada dádiva de Deus é uma dádiva de aperfeiçoamento. O arado, o ancinho e a faca de poda são tanto Seus dons como o sol e a chuva. Uvas são melhores do que meras folhas luxuriantes e o emaranhado da vinha. Pois isto é tudo o que seriam sem a poda.
O coração pode chorar em meio às trevas, ‘As dádivas de Deus não têm sido nada boas nem perfeitas para mim! Pelo contrário, Ele tem me roubado a saúde, as esperanças e meus amados. A fé é uma zombaria, e a providência o sonho dos tolos.’ Querido sofredor, leia mais uma vez o texto. ‘Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.’ Não são palavras maravilhosas!
Essas sombras na sua vida não vieram por Ele ter virado as costas, mas sim você. Deus nunca mudou Seus pensamentos de amor para com você, e nunca cai uma sombra por Ele ter virado o rosto. Toda boa dádiva e todo dom de aperfeiçoamento vem do alto. Um dia o ouro estará grato pelo cadinho, o aço pela fornalha de dor, o lindo recorte de pedra púrpura pela faca que corta.”[6]
Vou concluir com uma passagem de Davi nos Salmos que significam muito mais para mim hoje do que nunca antes:
O Senhor aperfeiçoará o que me toca;
A Tua benignidade, ó Senhor, dura para sempre;
Não desampares as obras das Tuas mãos.
—Salmo 138:8[7]
[1] Tiago 1:17.
[2] 1 Coríntios 2:14.
[3] 2 Coríntios 4:17.
[4] retratar: 1.Tirar o retrato de; traçar por meio de desenho ou pintura a imagem ou perfil de. 2.Reproduzir a imagem de. 3.Apresentar tal qual, copiar.
[5] Jeremias 29:11.
[6] De Maltbie Davenport Babcock’s “Thoughts for Every Day Living” in Streams in the Desert.
[7] ACRF.
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