Alegrar-se nas Tristezas

Abril 24, 2024

Por William B. McGrath

[In Sorrows Rejoicing]

Ao relembrar meus primeiros anos como cristão, agora entendo melhor os motivos pelos quais Deus permitiu que certas tristezas entrassem em minha vida. Embora eu tivesse me comprometido com o serviço missionário e começado a estudar a Bíblia regularmente, ainda havia muito a aprender. Minhas expectativas sobre o que minha vida em Cristo poderia se tornar eram bastante ingênuas.

Suponho que eu tenha adquirido algumas de minhas expectativas iniciais, um tanto gloriosas, em relação ao trabalho missionário, em parte devido às influências da cultura mundana. Desde então, tenho entendido melhor como a cultura deste mundo pode nos influenciar a pensar que devemos buscar e estimar as coisas que ministram ao nosso orgulho e autoglorificação. Servidão, mansidão e humildade não são consideradas pontos fortes, não são legais. E assim, ao que parece, dei muita importância às realizações visíveis e à obtenção de traços de caráter carismáticos e encantadores. Eu me imaginava participando de um trabalho notável para o Senhor, algo especial que seria admirado por muitos.

Não previ que poderia passar por uma grande dor de cabeça e decepção, nem previ minha extrema necessidade de um ajuste de atitude. Eu não entendia muito bem o que “pegar a minha cruz” e “negar a mim mesmo” englobava (Mateus 16:4). Outra coisa que eu não entendia era que, ao entregar minha vida a Cristo e submeter minha vontade à dEle, eu acabaria participando de algumas das tristezas pelas quais Ele passou((1 Pedro 4:13). Por outro lado, eu sentia que, apesar da minha perda terrena, eu estava recebendo um presente inestimável, a “pérola de grande valor” (Mateus 13:45-46), o privilégio de ser “conforme à imagem do Filho” e receber recompensas eternas (Romanos 8:29 ; 2Coríntios 3:18).

Outra coisa que eu não entendia muito bem, e ainda estou aprendendo, é a prática bíblica de aprender a “esperar no Senhor”. Noemi disse a Rute: “Espere, minha filha, até que você saiba em que darão as coisas” (Rute 3:18). Sempre tive o hábito de consertar tudo da melhor maneira possível, o mais rápido possível, mesmo que isso significasse fazer as coisas na pressa e por minha própria conta. Desde então, aprendi que Deus está interessado em ver como vou responder às circunstâncias que Ele permite na minha vida—se eu vou reclamar ou se vou confiar nEle e aceitar que os planos dEle são muitas vezes diferentes dos meus.

A seguinte citação de Elisabeth Elliot expressa isso muito bem:

Muitas vezes em minha vida, Deus me pediu para esperar quando eu queria seguir em frente. Ele me manteve no escuro quando eu pedia luz. Aos meus pedidos de orientação, Sua resposta muitas vezes foi: "Sossegue, minha filha". Gosto de ver progresso. Procuro evidências de que Deus está pelo menos fazendo alguma coisa. ... É claro que, para a maioria de nós, esse teste de espera não ocorre em uma casa silenciosa e vazia, mas no decorrer do trabalho regular, dos compromissos, das compras no supermercado, da tentativa de consertar o carro. ... Esperar no Senhor é quase impossível, a menos que também estejamos aprendendo, ao mesmo tempo, a encontrar alegria no Senhor, a entregar tudo a Ele, a confiar nEle e a ficar em silêncio. ... A verdadeira espera não é não fazer nada. ... Uma disciplina da vida espiritual à qual muitos de nós achamos mais difícil nos submeter é a da espera. Nenhuma outra disciplina revela mais sobre a qualidade de nossa fé do que essa.1

Todos nós temos projetos e coisas que desejamos ver concluídos, e nossas realizações muitas vezes são suspensas. Mas durante toda a minha espera, quero aprender a cultivar a confiança e a expectativa de que a resposta de Deus virá em Seu devido tempo. O Salmo 31:19 me promete que Deus reservou grande bondade para aqueles que O temem e confiam nEle. Isaías 64:4 e 1Coríntios 2:9 são duas promessas que parecem combinar, como um par de luvas. Ambas nos dizem que Deus preparou coisas maravilhosas, além do que já ouvimos ou vimos. — Em Isaías, para aqueles que esperam no Senhor, e em 1 Coríntios, para aqueles que O amam.

Tenho passado por muita tristeza na vida, coisas que nunca previ que fosse passar. Em meio a toda a tristeza, procuro obedecer as instruções de Jesus de “ter coragem” (João 16:33) e também seguir o exemplo de Paulo que disse: “Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, desde que eu complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24) e “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8:18). Como Paulo conseguiu dizer isto? Ele deve ter sentido a bondade e a longanimidade do Senhor (Salmo 63:3; 17:7; 36:7).

A Bíblia nos diz que Jesus aprendeu obediência pelas coisas que sofreu (Hebreus 5:8). Então, faz sentido que também devemos sofrer para aprendermos a obediência, e que deveríamos nos esforçar de modo a passar pelo sofrimento assim como Jesus o fez, para podermos receber no final as bênçãos resultantes.

É permitido a cada um de nós passar por sofrimentos, aflições e pesares, mas podemos ter a certeza de que Deus está justo ali conosco enquanto passamos por essas situações difíceis, e Ele Se compadece de nós (Hebreus 4:15). Nossa reação deve ser entregar tais dificuldades a Ele e permanecermos confiantes, o melhor que pudermos, que Ele nos dará a graça para passar pelas nossas tristezas tal como Ele teve, e sairmos triunfantes delas.

As joias mais raras passam pelos processos mais difíceis. O próprio Deus opera na nossa vida.2

O cristianismo não é para os fracos, embora o mundo pense assim. Somos aqueles que encontram coragem para nos humilharmos a nós mesmos. Temos que passar por uma porta estreita … [mas] essa porta estreita se abre para um lugar largo.3


1 Elisabeth Elliot, A Lamp Unto My Feet, Dia 24, 1985.

2 Elisabeth Elliot, The Path of Loneliness, 1991.

3 Elliot, Path of Loneliness.

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